Governo tentará convencer aliados a não assinar CPI
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sexta-feira, 18 de maio de 2001
Doca de Oliveira Agência Estado De Brasília
Depois de sepultar a CPI para investigar corrupção no Congresso, o Palácio do Planalto foi surpreendido pelo rápido avanço dos partidos de oposição com o objetivo de criar uma comissão de investigação exclusiva do Senado. Ontem, enquanto eram contadas 22 assinaturas, quase a totalidade das 27 necessárias, os operadores políticos do governo despertaram para o perigo iminente e traçaram uma estratégia visando a abortar a nova investida da esquerda. A partir de segunda-feira, interlocutores do Planalto farão um pesado trabalho de convencimento junto aos senadores que assinaram o requerimento da CPI, reafirmando o discurso de que a investigação do Congresso interessa apenas aos partidos de oposição.
Enquanto o Planalto se movimenta, as legendas de esquerda fazem um recuo tático. Com o apoio de governistas para a CPI, líderes de oposição escondem, desta vez, o jogo e prometem voltar as atenções para o processo de cassação dos senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (sem partido-DF), apontados como mentores intelectuais da violação do painel de votação no Senado. A criação da CPI, informam, ficará uns dias em banho-maria.
O líder do PT e do Bloco Oposição no Senado, José Eduardo Dutra (SE), avisou a CPI conseguirá as 27 assinaturas necessárias, mesmo sem o apoio do senador baiano, dos aliados de ACM e do presidente do Congresso, senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que também será investigado por suposto envolvimento em irregularidades na extinta Sudam. Eu não estou aqui para explicar (como conseguirá as assinaturas), mas para confundir, ironizou o petista. Mas isso não será na próxima semana: depende da cassação dos dois senadores porque não vou atravessar o caminho da CPI, acrescentou.
Entre as 22 assinaturas oficiais, estão as dos senadores José Fogaça (PMDB-RS) e Pedro Simon (PMDB-RS). Entre as não contabilizadas, oficialmente, estão as de Osmar Dias (PSDB-PR) e Álvaro Dias (PSDB-PR), que são irmãos, e Fernando Bezerra (PTB-RN).
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR), admitiu ontem que, para o governo, a situação desta nova CPI no Senado ainda é preocupante e nebulosa. A orientação é continuar conversando com os senadores para os convencer da inconveniência da CPI, disse Jucá. Essa é uma CPI impatriótica e inoportuna, insistiu. Nos bastidores do Planalto, a avaliação é de que o avanço das assinaturas no Senado foi rápido demais.
Na próxima semana, o PT se reunirá com outras siglas de esquerda em Brasília para organizar a movimentação nos Estados na defesa das cassações. A idéia é fazer atos que culminarão com uma marcha a Brasília em 27 de junho. Não podemos deixar o assunto morrer, disse Walter Pinheiro, líder do PT na Câmara. (Colaboraram Isabel Braga e Gilse Guedes)