Brasília - O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) endureceu as declarações contra a ação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) após um grupo de 600 famílias invadir uma área de preservação ambiental controlada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Petrolina (PE).

Deputado Pedro Lupion (PP-PR), líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, diz que subida no tom contra ações do MST é primeira sinalização positiva do governo para abrir interlocução com ruralistas
Deputado Pedro Lupion (PP-PR), líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, diz que subida no tom contra ações do MST é primeira sinalização positiva do governo para abrir interlocução com ruralistas | Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Os discursos em repúdio à ação dos sem-terra marcam uma mudança na postura que o governo vinha adotando com o movimento - um dos principais entraves na relação do governo Lula com o setor do agronegócio. "Inaceitável! Sempre defendi que o trabalhador vocacionado tenha direito à terra. Mas à terra que lhe é de direito!", escreveu o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em suas redes, na segunda-feira (17).

O ministro ainda disse que a Embrapa é um dos "maiores patrimônios do nosso país", e que o "agro produz com sustentabilidade" com apoio do "trabalho de desenvolvimento promovido pela Embrapa". "Atentar contra isso está muito longe de ser ocupação, luta ou manifestação. Atentar contra a ciência, contra a produção sustentável é crime e crime próprio de negacionistas", completou.

Fávaro foi escolhido por Lula para chefiar a pasta após ele realizar um trabalho de aproximação do petista com empresários do agronegócio durante a campanha presidencial. Apesar de ser filiado ao PSD, sua nomeação foi marcada na cota pessoal do presidente.

Em sintonia com Fávaro, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta terça (18) que condena atos que danifiquem processos produtivos. "Não é a melhor forma de lutar por qualquer coisa. Eu condeno toda atitude que possa atrapalhar a produção. Temos outros instrumentos melhores e mais efetivos para as bandeiras que podem ser levantadas para a conquista desses interesses", disse.

O Ministério da Agricultura e Pecuária divulgou nota na segunda em crítica às invasões do MST. A pasta diz que as áreas ocupadas pelos sem-terra são "patrimônio do governo brasileiro, produtivas e destinadas ao uso exclusivo da Embrapa Semiárido". Segundo o governo, a estatal usa o espaço para o desenvolvimento de pesquisas e geração de tecnologias para a melhoria da qualidade de vida de populações rurais.

"A invasão traz prejuízos consideráveis a produtores e agricultores familiares da área de abrangência da atuação da nossa instituição, bem como para toda a sociedade", completa a nota.

BANCADA RURALISTA

Padilha, porém, afirmou que as ações do MST não interferem na relação do Planalto com a bancada ruralista no Congresso Nacional - apesar das manifestações críticas da Frente Parlamentar da Agropecuária contra o governo Lula. "Não sinto qualquer interferência disso no ambiente do Congresso Nacional. Aquilo que é prioritário para o governo - arcabouço fiscal, reforma tributária e MPs -, não temos qualquer tipo de interferência e tenho visto um ambiente muito positivo", completou.

O líder da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), afirmou à Folha de S.Paulo que a mudança no discurso sobre as invasões do MST é a primeira sinalização positiva que o governo Lula faz para uma abertura na interlocução com a bancada ruralista.

"É óbvio que o posicionamento do governo, mesmo que tímido, é positivo para condenar essas barbaridades das invasões. Não só contra a Embrapa, mas todas elas. Só falta um posicionamento político mais claro do chefão, para travar os aliados e acabar com esses movimentos", disse Lupion, em referência a Lula.

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