A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados e do Senado, a cada dois anos, vem ganhando maior destaque público. A polarização e a instabilidade políticas foram elementos fundamentais para que o que antes era apenas uma formalidade da discussão entre as lideranças se tornasse um cabo de guerra. O Palácio do Planalto comandado por Jair Bolsonaro (sem partido) se empenhou como nunca para garantir sua governabilidade com nomes simpáticos ao governo na presidência das duas Casas. E ele saiu vencedor em ambas. Na Câmara, Arthur Lira (PP-AL) venceu Baleia Rossia (MDB-SP) por 302 votos a 145. No Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) teve 57 dos 78 votos válidos.

Apoiado por Alcolumbre, Bolsonaro e parte da oposição, 
Rodrigo Pacheco (DEM-MG) presidirá o Senado por dois anos
Apoiado por Alcolumbre, Bolsonaro e parte da oposição, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) presidirá o Senado por dois anos | Foto: Sérgio Lima/AFP

Também pudera, cabe às chefias das mesas – o presidente do Senado também preside o Congresso Nacional – pautar a agenda do Legislativo durante dois anos, e, desta forma, dialogar com o governo federal dentro do que garante a Constituição. “Não há uma relação hierárquica entre os senadores e o presidente da Casa. A definição da pauta é uma negociação com as lideranças. O principal poder é o de definir, em última instância, questões de relevância como o pedido de impeachment de autoridades. São os presidentes das Casas os primeiros filtros. Por isso, tanto o presidente da Câmara como o do Senado são alguns dos cargos políticos mais importantes da República”, explicou Gilberto Guerzoni, consultor legislativo do Senado.

Imagem ilustrativa da imagem Governabilidade de Bolsonaro em jogo nas eleições no Congresso
| Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Na análise do cientista político Elve Cenci, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Bolsonaro, com seu explícito apoio às campanhas de Pacheco e do deputado Arthur Lira (PP-AL), vai além da preocupação com a pauta de reformas e da chamada agenda de costumes. Afeito a confrontos e nada às relações institucionais, manter seu modus operandi é fundamental. “O presidente quer que o comando do Congresso seja amplamente próximo ao governo, tanto que tem instrumentalizado as instituições. Sempre que cabe à sua decisão, tem nomeado pessoas leais a ele, mesmo que não cumpra os ritos, como ocorreu na Procuradoria Geral da República. Ele quer que o congresso não seja uma ameaça constante”, pontuou.

Imagem ilustrativa da imagem Governabilidade de Bolsonaro em jogo nas eleições no Congresso
| Foto: Sérgio Lima/AFP

FRITURA

Há que se lembrar que, no início do mandato, Rodrigo Maia (DEM-RJ) estava longe de ser uma ameaça ao presidente. Seu partido compunha a base do governo. Mas, com o passar do tempo e as muitas intempestividades, Bolsonaro começou um processo de fritura do presidente da Câmara. “Há um discurso para o eleitorado do presidente e, quando há uma reação política negativa, ele chuta a porta e volta atrás. A vacina é só um exemplo. Sempre que contrariado, Bolsonaro começa a fritura e a estabelecer um antagonista. Aconteceu de ele gritar que um projeto não estava andando no Congresso, enquanto ele mesmo não tinha mandado”, afirmou Censi, que ainda lembrou que o mesmo pode acontecer na nova gestão. “Com certeza, a ideia é que o Congresso seja usado a favor do governo, o que nada diz respeito à necessidade da democracia”.

A base fundamental da governabilidade de Bolsonaro passa pelo apoio dos partidos do Centrão, que historicamente são conhecidos por seu fisiologismo, ou seja, independentemente de uma agenda ideológica, o que vale são verbas e cargo, dinheiro e poder. A estratégia pode ser útil neste momento de eleições internas, mas não garante ao Planalto um mar de tranquilidade. “Para o Centrão, quanto mais o governo sangrar melhor, mais terá que ceder. O ex-presidente Michel Temer (MDB) precisou queimar R$ 30 bilhões para salvar a pele. O apoio desses partidos poder colocar um presidente na lona. O apoio dado agora significa uma fatura que logo irá chegar e os apoiadores vão cobrar”, alertou Censi. (Com Agência Estado).