O ex-prefeito de Maringá, Jairo Gianoto (sem partido), justificou as transações financeiras com o ex-secretário de Fazenda, Luis Antônio Paolicchi, dizendo que era por causa das propriedades que ambos possuem em Nova Mutum (MT). Em depoimento prestado ontem à noite na Justiça Federal, Gianoto disse que era uma espécie de administrador da fazenda de Paolicchi, um empregado, daí o motivo dos repasses financeiros (no valor de R$ 1,4 milhão) feitos pelo ex-secretário para ele.
Durante o depoimento, que teve início às 20 horas, Gianoto disse que convidou Paolicchi para ser secretário da Fazenda porque o nome dele teria sido indicado por altos membros do Tribunal de Contas (TC) do Paraná. Ele justificou a nomeação também porque Paolicchi era ‘‘altamente capaz para o cargo’’. O ex-prefeito disse ainda que conheceu o empresário e doleiro londrinense Alberto Youssef.
O também ex-prefeito Said Ferreira (sem partido) começou a depor às 22 horas e até o fechamento da edição não havia terminado. Ele foi acusado por Paolicchi de, juntamente com Gianoto, comandarem o esquema de desvios da prefeitura. O rombo pode chegar a R$ 100 milhões.
Antes dos ex-prefeitos, prestaram depoimento sete testemunhas de defesa de Paolicchi. A secretária Raquel Budzinsky, que trabalhou durante os últimos anos com Paolicchi, disse que vereadores, deputados e até o coordenador da campanha do governador Jaime Lerner (PFL) na região, João Carvalho Pinto, frequentavam o gabinete dele. Apesar de Carvalho Pinto ter negado ontem à noite à Folha, Gianoto também disse que ele ia regularmente visitar Paolicchi.
A secretária disse que a mulher de Gianoto (sem partido), Neusa, também ia com frequência na sala de Paolicchi. O mesmo acontecia com a secretária de Said, identificada como Raquel. Segundo Raquel, ‘‘quase todos’’ os vereadores e os deputados da região iam ao gabinete de Paolicchi. Ela chegou a citar nominalmente os deputados José Borba (PMDB), Ricardo Barros (PPB) e o ex-deputado Valdomiro Meger (PFL). Ela disse ainda que Odílio Balbinotti (PSDB) raramente procurava Paolicchi e às vezes mandava assessores. Ele disse ainda que o ex-secretário conhecia Artagão de Mattos Leão, Quiélse Crisóstomo e Duilio Bento, todos do Tribunal de Contas.
Amigo pessoal de Paolicchi, o médico psicanalista Gilson Volpi foi o primeiro a depor e confirmou ter vendido ao ex-secretário duas propriedades em Três Lagoas, totalizando 150 alqueires, avaliadas por ele em R$ 70 a 80 milhões. Volpi acredita que Paolicchi tenha comprado as propriedades com o seguro que recebeu de um acidente de carro ocorrido em 1994, quando ex-secretário perdeu três dedos da mão esquerda.
Volpi falou ainda sobre a Mineradora Rainha, de propriedade de Paolicchi e avaliada pelo contador dele, Manoel Borges Martins Filho, que também prestou depoimento ontem, em R$ 2,7 milhões.
Dois vereadores que prestaram depoimento, Edith Dias de Carvalho (PFL) e Paulo Mantovani (PSDB), confirmaram conhecer Paolicchi. O procurador da República, Natalício Claro da Silva, apresentou anotações apreendidas com Paolicchi, que citava repasse mensal de R$ 4 mil para Edith e um valor único de R$ 12 mil a Mantovani. Edith disse que o ex-secretário se comprometeu a ajudar em tratamento médico, o que não aconteceu. Mantovani alegou que o valor é referente a publicidade de uma empresa de Paolicchi em um programa de televisão apresentado pelo vereador.
O ex-secretário de Fazenda, Rubens Weffort, que trabalhou durante a primeira e boa parte da segunda administração do ex-prefeito Said, e o jornalista Verdelírio Barbosa também prestaram depoimento. Ontem, Paolicchi fez exame grafotécnico na Polícia. (Colaborou Marta Medeiros)