Brasília - O general Augusto Heleno, um dos ministros mais próximos de Jair Bolsonaro (PL), afirmou à CPI do 8 de janeiro nesta terça (26) que não tentou convencer o ex-presidente a "sair das quatro linhas" da Constituição e declarou que nunca viu nenhuma minuta golpista.

Heleno também negou que tivesse participado da reunião narrada pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid à Polícia Federal em que Bolsonaro teria discutido um golpe de Estado com ministros militares e comandantes das Forças Armadas.

"Nunca ouvi falar na minuta de GLO, minuta do golpe. O presidente da República disse, várias vezes, que jogaria dentro das quatro linhas, e não era minha missão convencer o presidente a sair das quatro linhas. Pelo contrário", afirmou Heleno.

O general foi convocado para a sessão desta terça. Na segunda (25), o ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), havia decidido que ele deveria ir à CPI, mas poderia ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo.

O ex-ministro disse que, apesar de ser militar, ocupava cargo de natureza civil e "não era chamado para reuniões da cúpula militar". Heleno também tentou desqualificar o acordo de delação de Cid. Segundo ele, ajudantes de ordens não sentavam com comandantes. "Isso é fantasia", disse.

Integrantes da CPI rebateram a declaração do general e resgataram uma foto de 2019 que mostra Bolsonaro, Heleno, Cid, o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e os ex-comandantes das Forças Armadas Edson Pujol (Exército), Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) e Ilques Barbosa (Marinha).

Diferentes minutas golpistas circularam no entorno de Bolsonaro após a vitória de Lula (PT). Uma delas - que autorizava o ex-presidente a instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) -, foi encontrada no armário do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Outro documento localizado pela PF no celular de Cid decretava Estado de Sítio e GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Em delação premiada, o ex-ajudante de ordens citou ainda uma minuta entregue pelo ex-assessor Filipe Martins para convocar novas eleições e prender adversários.

APLAUSOS

Heleno foi aplaudido ao ser questionado pela relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), sobre a declaração dada a manifestantes no final do ano passado de que "bandido não sobe a rampa". Sem citar Lula, o ex-ministro disse que continua achando isso "até hoje".

No depoimento desta terça, o general também rebateu GDias, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) de Lula, e afirmou à comissão que houve transição entre os dois governos e "nada ficou sob o tapete".