Acumulando a “gordura eleitoral” obtida nas urnas em 2022, quando conseguiu se reeleger como o terceiro deputado federal mais votado do Paraná, Filipe Barros (PL) já se articula com outros atores políticos com vistas aos próximos pleitos — leia-se, a eleição municipal de 2024 e a disputa estadual de 2026.

Seja a sucessão do prefeito Marcelo Belinati (PP), do governador Ratinho Junior (PSD) ou até uma cadeira no Senado, o parlamentar aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalha com as três rotas em seu radar de ambições políticas.

Em entrevista à FOLHA nesta segunda-feira (17), Barros não cravou sua candidatura ao Executivo de Londrina, mas afirmou que o objetivo do Partido Liberal é lançar um quadro próprio para a corrida majoritária do ano que vem. “Esse nome pode ser eu, como pode ser outro. Isso deve ser construído nos próximos meses. Ainda devo falar com o presidente Bolsonaro e o próprio presidente [do PL], Valdemar [Costa Neto] sobre isso”, estimou o congressista.

Além disso, ele está em tratativas com outros prováveis postulantes à prefeitura — entre eles, o deputado estadual Tiago Amaral (PSD) — para tentar formar uma coalizão de partidos para 2024. Um dos trunfos de Barros é o fato de a votação expressiva obtida no último ano ter dado a ele o comando do PL em grandes centros do Paraná, como Curitiba e Londrina, já que uma resolução emitida em fevereiro pela legenda delega ao candidato mais votado em cada município a condição de liderar a sigla.

Liderança regional

Embora pontue que não seja uma crítica à atuação de Belinati, Barros disse que há uma lacuna de liderança do Executivo local quanto a pautas de interesse regional. “O prefeito de Londrina tem a capacidade política de chamar os prefeitos das cidades da nossa região para reuniões com certa frequência para debater assuntos de interesse comum. Isso não tem sido feito.”

De acordo com ele, caso sua candidatura saia do papel, a bandeira do desenvolvimento econômico da cidade será prioridade. “Pessoas que geram emprego deixaram de estar em Londrina para gerar emprego em outras cidades. A gente precisa ter uma economia mais aberta. Precisamos fazer uma política de ‘reatração’ dessas empresas e reindustrialização da nossa cidade.”

Emenda do Contorno Leste

Enquanto não bate o martelo sobre os pleitos que despontam no horizonte, Barros, agora na condição de oposição ao governo federal, tenta emplacar em Brasília reivindicações para a infraestrutura local, tal como o Arco Leste. Segundo o deputado federal, o orçamento da União para 2023 contempla parte dessa iniciativa por meio de uma emenda de R$ 15 milhões apresentada em conjunto pela bancada do Paraná. O recurso é para o projeto e o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (Evtea) que vão embasar a futura obra, cujo objetivo é abrir uma nova ligação rodoviária entre a PR-445 e a BR-369.

O tema foi levado pelo parlamentar ao ministro dos Transportes, Renan Filho, em reunião na Câmara dos Deputados no último dia 12. “Ele foi muito sensível e ficou de nos dar uma posição em relação à execução orçamentária dessa emenda já nas próximas semanas”, contou.

Fiscalização do pedágio

Também se tratando de infraestrutura, Barros mostrou otimismo a respeito do novo modelo de pedágio do Paraná. “Pelas palavras do próprio ministro [Renan Filho], creio que, nas nas próximas semanas, isso será resolvido da melhor maneira para o povo paranaense.”

“Foram 24 anos de uma concessão que roubou dinheiro do povo paranaense, não executou as obras. O que a gente quer é que o pedágio seja com um valor justo e com a garantia que as obras sejam realizadas”, defendeu.

“Obras deixaram de ser feitas, inclusive na nossa região, por conta dos acordos de leniência. Até o próprio Ministério Público precisa entender melhor qual é o papel dele nesse processo. Até porque convém lembrar que muitas das empresas que fizeram acordo de leniência estão mais uma vez entrando para disputar as concessões. Só há um caminho: fiscalização”, observou ele.

“Arapuca fiscal”

Barros chamou de “arapuca fiscal” a proposta de arcabouço fiscal que deve ser entregue nesta semana pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Congresso Nacional. Para ele, há não garantia de equilíbrio do orçamento público e ainda podem ser instituídos novos impostos.

O congressista disse ter dúvidas da capacidade do Palácio do Planalto em angariar os votos necessários para a medida ser aprovada. “Não conseguiram, até o presente momento, fazer uma base de deputados. Estão tendo dificuldade em pautar os seus principais projetos.”

Para ele, o arcabouço fiscal deveria estar atrelado a uma proposta de reforma tributária. “O primeiro ponto é a simplificação tributária. A gente vive em um emaranhado burocrático que ninguém consegue sobreviver. O segundo ponto é a diminuição da carga tributária”, analisou.

Futuro de Bolsonaro

Barros foi um dos políticos que, no fim de março, estiveram com Bolsonaro quando o ex-presidente retornou ao Brasil após ter ficado três meses nos Estados Unidos. O deputado federal depôs recentemente em favor do correligionário em um processo na Justiça Eleitoral que pode impedi-lo de disputar as próximas eleições.

“Juridicamente falando, não há motivo para que ele seja transformado em inelegível. Agora, nós vivemos um período de ativismo judicial. O Judiciário julga pela capa do processo e não pelo conteúdo jurídico”, alegou o aliado.

Bolsonaro, na visão do político londrinense, segue acumulando capital político para se portar como a principal figura de oposição a Lula. “Ele recentemente comentou da hipótese de talvez disputar o Senado, mas creio que, se não for transformado em inelegível, será o nome da direita e da centro-direita para as próximas eleições”.