Cristiane Brasil foi autora de uma PEC que restringe a reeleição de presidente, governadores e prefeitos e ainda tentou banir a minissaia na Câmara
Cristiane Brasil foi autora de uma PEC que restringe a reeleição de presidente, governadores e prefeitos e ainda tentou banir a minissaia na Câmara | Foto: Luís Macedo/Agência Câmara



Brasília - A deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do delator do mensalão, Roberto Jefferson, é a nova ministra do Trabalho. A informação foi confirmada pelo próprio Jefferson, após reunião com o presidente Michel Temer no Palácio do Jaburu na tarde dessa quarta-feira (3). A escolha foi anunciada pela Presidência em nota.

Entre lágrimas, Jefferson disse que a nomeação de sua filha é um "resgate" à sua imagem após o mensalão. O dirigente do partido foi o pivô do escândalo político e chegou a ser condenado a sete anos e 14 dias de prisão no processo do Mensalão.

Jefferson chorou ao falar com jornalistas na portaria do Palácio do Jaburu, em Brasília. Ele deixava o encontro que selou a nomeação de sua filha como ministra. "É o orgulho, a surpresa, a emoção que me dá. É o resgate, sabe? É um resgate. (O mensalão) já passou. Fico satisfeito", disse Jefferson.

Segundo ele, Temer consultou o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes (GO), e telefonou para a nova ministra para saber se eles aceitariam o convite. E teve resposta afirmativa de ambos.

"O presidente aceitou. Eu não indiquei. O nome dela surgiu. Não foi uma indicação. Estávamos conversando eu, o presidente Temer e o ministro Padilha, e surgiu o nome da Cristiane Brasil. Nós fizemos uma ligação para o líder Jovair (Arantes), que anuiu a indicação do nome dela e disse que ela tem a confiança da bancada."

O Ministério do Trabalho está sem titular desde que o também deputado federal pelo PTB Ronaldo Nogueira pediu demissão, no último dia 27. Ele se desligou com o argumento de que quer se dedicar à sua campanha pela reeleição.

No mesmo dia em que saiu da pasta, ele publicou nova portaria sobre a definição de trabalho escravo, que deixa mais rígidas as definições do que leva à punição do empregador.

O deputado federal Pedro Fernandes (PTB-MA), chegou a ser escolhido para comandar o ministério, mas teve o nome vetado pelo ex-presidente José Sarney (MDB). Sarney nega o veto.

VOZ ABAFADA
Jefferson apresentou na reunião os nomes dos deputados federais Sérgio Moraes (RS) e Pastor Josué (MA). Lembrou ainda o nome de sua filha, que também chegou a ser oferecido por ele para o Ministério da Cultura.

Para ser ministra, Cristiane abriu mão de ser candidata no próximo ano. O pai disputará o posto de deputados federal por São Paulo. Segundo ele, é uma maneira de fazer o partido crescer no maior colégio eleitoral do país. Perguntado se os eleitores irão redimi-lo por conta do escândalo, ele respondeu que só as urnas dirão.

Segundo Jefferson, Temer, que se trata de uma infecção urinária, está mais magro e com uma voz abafada, "surdinas". "Mas está bem e corado", acrescentou.

Em 2015, Cristiane foi autora de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que restringe a reeleição de presidente, governadores e prefeitos. Pelo texto, só seria permitida a candidatura "para um único período subsequente, sendo proibida, a reeleição por períodos descontínuos". A medida impediria, por exemplo, nova candidatura de Lula à Presidência.

No mesmo ano, servidoras da Câmara protestaram contra a proposta da deputada de aprovar um código de vestimenta para banir minissaias e decotes mais ousados dos corredores e salões da Casa.

NOVA BAIXA
Após definir a chefia do Ministério do Trabalho, Temer agora terá buscar um outro nome para a o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços depois de o Marcos Pereira (PRB) pedir demissão no início da tarde dessa quarta (3). Em carta entregue a Temer no Palácio do Planalto, Pereira afirmou estar deixando a pasta para poder se dedicar a questões pessoais e partidárias. Ele é presidente nacional do PRB e avalia a possibilidade de disputar uma vaga na Câmara na eleição deste ano.

Esta é a terceira baixa no governo Temer em menos de um mês. No dia 8 de dezembro, Antonio Imbassahy (PSDB) deixou a Secretaria de Governo e no último dia 27, Ronaldo Nogueira (PTB) pediu demissão do Ministério do Trabalho. Antes disso, o tucano Bruno Araújo já havia deixado o comando do Ministério das Cidades no dia 13 de novembro.