FHC demite ministros ligados a ACM
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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2001
O presidente Fernando Henrique Cardoso não esperou o Carnaval para demitir os ministros da Previdência, Waldeck Ornélas, e das Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, afilhados do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que esta semana voltou a atacar o governo. Depois de telefonar anteontem à noite para interlocutores dos partidos da base PFL, PSDB, PMDB, PPB e PTB Fernando Henrique redigiu ontem a nota em que comunicava a demissão dos auxiliares.
Foi uma decisão imperial do presidente, comentou um ministro. Dos aliados para os quais telefonou, Fernando Henrique recebeu apoio para demitir os ministros ligados a ACM, mas a nenhum deles comunicou que sua decisão seria tomada ontem. Ao líder do PMDB, Geddel Vieira Lima, avisou que a decisão estava tomada e só faltava decidir o timming certo.
O Planalto e os aliados políticos dormiram acreditando que Fernando Henrique esperaria os feriados de Carnaval para decidir-se. Na noite de quinta-feira, o último despacho no Alvorada ocorreu por volta de 20h30. Sem comunicar a nenhum dos assessores, ele próprio redigiu a nota distribuída no final da manhã. Por volta das 10 horas, o ministro Pedro Parente foi chamado ao Alvorada, para comunicar a decisão aos demitidos.
Um dos interlocutores do presidente acredita que o que deflagrou sua decisão foi a entrevista, concedida por ACM anteontem, por telefone, à TV Globo. O presidente achava que o ideal era esperar até março, mas a impressão que daria à opinião pública era de que estava com medo de ACM, disse um ministro. Assumem interinamente José Cechin (Previdência) e Hélio Vitor Ramos Filho (Minas e Energia).
Em nota oficial divulgada no final da manhã, o presidente pondera que os dois ministros não deram apoio público a seu governo e à sua pessoa diante dos ataques sucessivos feitos pelo padrinho ACM. O silêncio de ambos demonstrou o constrangimento em que foram colocados, não por mim, mas por um estilo de política que não é meu, disse o presidente na nota.
Fernando Henrique elogiou os colaboradores e garantiu que não é de seu feitio exonerar alguém por ação de outrem. Entretanto, neste momento, mais do que nunca, é preciso que lealdades políticas sejam claras para não prejudicar a imagem e a credibilidade da ação administrativa do governo. Avisou também que aguardará que os partidos da base aliada se comprometam com a realização do programa de ação governamental para definir os novos ministros.
O presidente pretende enviar, na primeira semana útil de março, um documento a todos os líderes partidários da base aliada, com a agenda de ações para os próximos dois anos de mandato. A prioridade será o social. Ao enviar o documento, o presidente quer receber em troca o compromisso de apoio ao governo. Ao finalizar a nota, Fernando Henrique agradeceu o apoio recebido. Espero vê-los confirmando sua lealdade e interesse em colaborar nesta nova etapa político-administrativa.
Interlocutores do presidente comentaram que, embora a demissão de Tourinho fosse dada como certa, ele pretendia manter Ornélas. O comportamento do ministro durante essa semana, porém, decepcionou o presidente. Na última terça-feira, em solenidade no Planalto na qual Fernando Henrique o prestigiou, Ornélas defendeu ACM: O senador não fala contra o governo, fala pela moralidade.
A reação de ACM às demissões veio da Flórida (EUA), onde está em viagem. O senador disse que terá elementos para mostrar que o presidente Fernando Henrique Cardoso acoberta a corrupção em seu governo e finge que trabalha pelo Brasil. Quando ele (FHC) fez a opção por Jader Barbalho (senador do PMDB eleito presidente do Senado) já fez para proteger os corruptos e a corrupção, atacou. Segundo o pefelista, o presidente demonstrou que não nomeia ministros por mérito, mas sim para agradar pessoas.
