Brasília - O presidente Michel Temer reagiu nessa terça-feira (12) a relatório da Polícia Federal que aponta que o peemedebista tinha poder de decisão no chamado "quadrilhão do PMDB". Em nota divulgada aos veículos de imprensa, o Palácio do Planalto critica "facínoras" que "roubam do país a verdade" e diz que "bandidos constroem versões 'por ouvir dizer'" com o objetivo de garantir a própria impunidade ou "alcançar um perdão, mesmo que parcial, por seus inúmeros crimes". "Reputações são destroçadas em conversas embebidas em ações clandestinas", afirma o texto.

O documento, contudo, não cita diretamente nem a Polícia Federal nem o corretor de valores Lúcio Funaro, segundo o qual o peemedebista teria autorizado caixa 2 para a campanha de Gabriel Chalita, em 2012. O presidente também afirma que garantias individuais estão sendo "violentadas diuturnamente sem que haja a mínima reação". "Chega-se ao ponto de se tentar condenar pessoas sem sequer ouvi-las. Portanto, sem se concluir investigação, sem se apurar a verdade, sem verificar a existência de provas reais. E, quando há testemunhos, ignora-se toda a coerência de fatos e das histórias narradas por criminosos renitentes e persistentes", disse.

O peemedebista afirma que "muda-se o passado sob a força de falsos testemunhos" e que o país tem assistido, nas últimas semanas, a uma ameaça ao estado democrático de direito no país.

R$ 31,5 MILHÕES
Segundo a conclusão da investigação feita pela Polícia Federal, há indícios de que o presidente tenha recebido vantagens de R$ 31,5 milhões. Ele nega.
O relatório servirá para embasar provável nova denúncia do procurador-geral, Rodrigo Janot, contra Temer.

O inquérito, conhecido como "quadrilhão do PMDB", tem ainda como alvos os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) e os ex-deputados Eduardo Cunha (RJ), Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Alves (AL) - os três últimos presos devido a diferentes investigações -, todos do PMDB.

Na tentativa de enfraquecer nova denúncia contra o presidente Michel Temer, o Palácio do Planalto tentará comparar o corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro ao executivo Joesley Batista, preso no último domingo (10).

A estratégia esboçada por auxiliares e assessores presidenciais e que será reproduzida pela base aliada é adotar o discurso de que o corretor de valores apresenta acusações duvidosas e mentirosas para obter benefícios junto à PGR (Procuradoria-Geral da República).

Para associá-lo ao empresário da JBS, a ideia é utilizar termos já usados por governistas para se referir a Joesley, como falastrão e criminoso. Em nota divulgada nesta terça-feira (12), o presidente já começou a adotar o novo tom, criticando "bandidos" e "facínoras".

O objetivo é tentar, assim, desqualificar as acusações contra o presidente, lembrando que Joesley tentou fazer o mesmo que Funaro e que sua delação premiada acabou sob investigação, com a possibilidade de ser cancelada pelo Ministério Público Federal.

A expectativa é de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente nesta semana nova denúncia contra Temer, desta vez por obstrução judicial e organização criminosa, e que utilize elementos da delação premiada de Funaro.

Na frente jurídica, a defesa do presidente avalia ainda processar Funaro pelos crimes de calúnia e difamação assim que for apresentada a nova denúncia, como o feito com Joesley, mas que acabou sendo rejeitado pela Justiça Federal.