Belo Horizonte - Apesar da contundência das declarações contidas na entrevista que concedeu à revista ''IstoÉ Dinheiro'', Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária do sócio das agências de publicicade SMP&B e DNA, Marcos Valério, negou ontem, em depoimento à Polícia Federal (PF), a maior parte das acusações. De acordo com o delegado Ricardo Amaro, chefe da Comunicação da PF em Belo Horizonte, Karina não confirmou a informação de que teria visto saírem ''malas de dinheiro'' da sala do ex-patrão, além de qualquer tipo negociata dele com integrantes do PT e do governo.
''Ela nega qualquer tipo de envolvimento, ter visto qualquer tipo de mala, qualquer tipo de transação envolvendo dinheiro saindo da empresa onde ela foi secretária durante algum tempo'', afirmou Amaro. A ex-secretária, que passou cerca de três horas na sede da Superintendência da PF, decidiu prestar espontaneamente o depoimento. Ela falou e foi questionada a portas fechadas pelo delegado da Hélbio Dias Leite.
Na noite de anteontem, Leite recebeu do advogado de Karina, Leonardo Macedo Poli, a agenda na qual ela afirmou na entrevista que estariam anotados todos os encontros e compromissos de Marcos Valério - apontado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), como principal operador de um suposto esquema montado pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para pagar mesadas a parlamentares do PL e do PP em troca de apoio no Congresso.
De acordo com os delegados, pelo depoimento e análise da agenda não há elementos, ''a princípio'', para a abertura de um procedimento investigativo. Leite disse que a agenda e cópia do depoimento serão enviadas para a direção da PF em Brasília e ficarão à disposição da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso que investiga as denúncias.
Segundo Amaro, Karina confirmou encontros descritos na agenda, ''envolvendo o nome de alguns políticos''. ''Porém, ela desconhece o conteúdo (dos encontros), principalmente relacionado a remessas de dinheiro por parte da empresa onde ela foi secretária''.
O delegado disse ainda que não há valores descritos e nem extratos bancários na agenda entregue. ''Essa agenda não tem nada. É uma agenda de secretária de empresa'', reforçou Leite. Aos os delegados, a ex-secretária disse que as entrevistas - classificadas por ela como ''conversas'' - concedidas à revista foram distorcidas. ''No conceito dela, houve uma distorção'', comentou Amaro.
A despeito da repercussão de suas declarações, ela demonstrou tranquilidade durante o depoimento. Segundo Amaro, Karina negou que tivesse sido ameaçada de morte. Na entrevista, ela relata uma ligação telefônica, na qual foi orientada a ''abrir o olho''.
O advogado da secretária, no entanto, disse que ''há fundados receios de que ela tenha que ter temor'' e que sua possível colocação num programa de proteção à testemunha está sendo analisado. Karina está sendo processada pelo sócio da DNA e SMP&B, acusada de tentativa de extorsão.
O próprio Leite foi buscar Karina para o depoimento, em um carro da PF, na casa dela, na zona norte de Belo Horizonte. Ela chegou à PF por volta das 11h50 e saiu, às 15h15, novamente no veículo da PF.