Ex-mulher afirma que homem-bomba planejava matar Moraes
Francisco Wanderley Luiz, autor das explosões na praça dos Três Poderes, será investigado como terrorista
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Francisco Wanderley Luiz, autor das explosões na praça dos Três Poderes, será investigado como terrorista
Aguirre Talento, Wanderley Preite Sobrinho e Alexandre Novais Garcia - UOL/Folhapress

Brasília - A ex-mulher de Francisco Wanderley Luiz, autor das explosões na praça dos Três Poderes na noite de quarta-feira (13), afirmou à Polícia Federal que o plano dele era matar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Luiz se aproximou da entrada do STF por volta das 19h30 e ativou os explosivos que tinha no corpo. Segundo o relato de um segurança da Suprema Corte, o homem circulou pelo local com "atitude suspeita" e deitou no chão para esperar as bombas explodirem. Um carro também explodiu no estacionamento da Câmara.
A ex-mulher de Luiz deu a declaração para agentes de Santa Catarina. Ela e outros familiares de Francisco Wanderley Luiz foram localizados por agentes da PF. Ela disse que o principal alvo era o ministro Alexandre de Moraes e "quem mais estivesse junto". "Ele falou que mataria ele (Moraes) e se mataria", disse.
Wanderley Luiz compartilhava os planos e ameaças em grupo. A ex-mulher disse que o autor das explosões em Brasília planejava o ataque desde a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro e fazia buscas no Google para viabilizar o atentado. Ela, no entanto, nega a participação do autor de explosões nos ataques anteriores aos prédios dos Três Poderes.
Questionada pelo agente se matar o ministro era uma obsessão do ex-marido, ela responde que sim. "[Obsessão] Dele. Tanto que ele me deixou quase louca. Todo mundo na rua [dizia] 'você vai ficar louca'. Ele só falava de política, política e política."
Ela afirma que o ex-marido só morreu porque foi descoberto. "Ele jamais tiraria a vida dele, a não ser que tivesse cumprido o objetivo. Se ele morreu em vão, não foi por ninguém, foi porque descobriram o que ele iria fazer."
Nas imagens do circuito de câmeras da praça dos Três Poderes, é possível ver que Luiz recua depois de ser abordado por um segurança. Ele joga alguns explosivos contra a sede do STF, depois se deita ou cai no chão com um explosivo perto da cabeça e morre após a detonação.
Ex-mulher disse que tinha acesso aos e-mails de Luiz, por isso, acompanhava seus passos pela internet. "Como o nosso e-mail era tudo o mesmo, qualquer coisa que ele fazia eu sabia. Então, sabia onde ele estava", afirmou. "Acusava o que ele tinha pesquisado, sabe?"
"Tinha pesquisa no Google sobre isso ali [matar Moraes]. Aí, eu mandei pra ele :'Tu vai mesmo fazer esse tipo de loucura?' Ele disse que não. Aí, eu printei e mandei pra ele e perguntei: 'Como que não?' Por que tu tá pesquisando esse tipo de coisa?."
"A primeira vez que ele foi para Brasília, isso há um ano e pouco, foi no ano que o Lula entrou. Ele ficou dois meses lá e voltou e ficou aqui e faz três meses agora que ele foi para lá de novo. Três pra quatro meses."
ATO TERRORISTA
Inquérito foi aberto ainda na noite de quarta-feira. Na manhã desta quinta-feira (14), fontes da Polícia Federal informaram ao UOL que o caso será tratado como ato terrorista.
Segundo o diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues, o homem portava artefatos feitos de forma artesanal, mas com alto "poder de lesibilidade", e um extintor de incêndio que simulava um lança-chamas. As investigações vão apontar de que materiais foram feitas as bombas.
Áudios da ex-esposa comprovariam que alvo era Moraes. De acordo com Rodrigues, "o áudio dessa senhora é muito categórico e há outras mensagens de redes sociais" de que o ministro do STF era o alvo e isso reforça a gravidade do episódio.
O chefe da PF disse que as idas e vindas do homem a Brasília, a quantidade de artefatos e outros elementos apontam para que ação tenha sido premeditada.
MAIS BOMBAS
A polícia diz que o local onde autor de explosões se abrigava era "ambiente confinado". Segundo o major Raphael Broocke, da PM do DF, policiais entraram no local e fizeram uma varredura mais cuidadosa do que os trabalhos na praça dos Três Poderes.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o imóvel era alugado pelo homem que detonou as bombas e essas buscas na residência foram feitas por volta das 22h de quarta-feira. O quarto de Luiz tinha referências ao ataque de 8 de Janeiro. No espelho, ele manifestou o plano de explodir a estátua da Justiça. Na residência localizada em Ceilândia, havia a inscrição "em estátua de merda, se usa TNT".
O cinto com explosivos no autor foi identificado por robô e removido por policial com traje antibomba. O major Broocke disse que as bombas não foram retiradas pelo robô em razão de uma "limitação operacional" do equipamento da PM. Por isso, um policial precisou se aproximar para fazer o corte dos fios que conectavam o cinto aos explosivos. PM também monitora locais onde autor das bombas passou para verificar se há mais explosivos.
O corpo em frente ao STF foi recolhido às 9h05, quase 14 horas depois da explosão, e liberado para o IML.

