Ex-deputado Juruna será enterrado em sua aldeia
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quinta-feira, 18 de julho de 2002
Das agências
Brasília- Primeiro e único índio brasileiro a se tornar deputado federal, o ex-cacique xavante Mário Juruna, 58 anos, será sepultado hoje na aldeia de Mamunrujá, em Barra do Garça (MT), para onde o corpo foi transportado, de avião, ontem à tarde. Juruna morreu no noite de quarta-feira no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, após ficar internado por 15 dias devido a problemas renais.
O presidente da Funai, Otacílio Antunes, disse que ''o Mário foi uma figura de expressão nacional de grande significado para o povo xavante e para toda comunidade indígena brasileira''. O presidente da Câmara, Aécio Neves, divulgou nota oficial afirmando que ''a passagem do cacique pelo Parlamento foi um acontecimento histórico''. Segundo a nota, ''é impossível pensar o Brasil moderno sem a presença emblemática e fundamental de Juruna e de seu gravador''.
O velório de Juruna também foi marcado por manifestações de várias tribos, que se queixaram do ''descaso'' da Funai em relação às causas indígenas. O cacique txucarramãe Raoni criticou as ações políticas em relação aos índios e fez um apelo para que o congresso não aprove o projeto do senador Romero Jucá (PSDB-RR) que trata da regulamentação da atividade de mineradoras em áreas indígenas. O projeto está na Câmara desde março de 2000.
A luta pela elaboração de um novo Estatuto do Índio, segundo o coordenador-geral de direitos indígenas da Funai, Marcos Terena, não vai parar. ''A gente vê o governo se preocupar com o direito dos militares, do Judiciário, dos negros, das crianças. E os nossos direitos?'', indagou Terena.
Juruna, que foi deputado federal pelo PDT, entre 1983 e 1987, já vivia em cadeiras de rodas há mais de cinco anos por conta de complicação da diabetes. Casado duas vezes, com 12 filhos, morava no Guará, cidade-satélite a 20 quilômetros de Brasília. Recebia do PDT uma ajuda de custo de cerca de R$ 3 mil mensais.