CRIME ORGANIZADO Ex-delegado critica secretário Candinho Em depoimento à CPI, ex-delegado Arthur Braga afirma que governo é conivente ao não punir policiais do alto escalão Mauro FrassonIRONIAArthur Braga, que falou em sessão secreta: ‘‘Fui chamado para falar da parte boa porque da ruim todo mundo já falou’’ James Alberti De Curitiba A postura do secretário de Estado da Segurança Pública, Cândido Martins de Oliveira, foi questionada dentro da CPI do Narcotráfico. Depoimento do ex-delegado Arthur Braga, em sessão secreta ontem, deixou os parlamentares em estado de alerta. A não punição de crimes que envolvem delegados do alto escalão da Polícia Civil foram interpretadas como conivência na avaliação de integrantes da CPI. Inimigo declarado do delegado-geral João Ricardo Képes Noronha, afastado ontem pelo governador Jaime Lerner (PFL), Arthur Braga afirmou ter comunicado ao secretário da Segurança Rubens Tanure, em 1998, que havia policiais denegrindo a imagem da coorporação. O fato de o secretário não ter tomado nenhuma providência, conforme teria prometido, motivou Braga a pedir seu afastamento do comando e, ao mesmo tempo, sua aposentadoria. ‘‘Já se deveria ter tomado atitudes em relação a isso’’, afirmou o relator da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE). ‘‘Não sei as dificuldades que as pessoas responsáveis pelo setor tiveram.’’ Mais contundente, o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) responsabilizou o secretário da Segurança, Cândido Martins de Oliveira. ‘‘Ou por omissão, submissão ou até comprometimento’’, disparou. ‘‘Por omissão, ele não tomou conhecimento; submissão, ele foi constrangido, se sentiu impotente, não teve como reagir; ou até se comprometeu com a estrutura’’, afirmou Mattos. O deputado gaúcho, que elogiou a medida rápida do governador Jaime Lerner em afastar os envolvidos, disse que, se o governo do Estado quer efetivamente mudar essa estrutura envolvida com o crime organizado, tem que fazer uma operação radical. ‘‘Mas não pode ser uma poda. Tem que cortar esse mal pela raiz’’, afirmou. Na análise dele, ‘‘o governador não pode saber de tudo, de todas as pastas, mas o titular da pasta tem que saber de tudo da sua pasta.’’ Único deputado do Paraná a integrar a CPI, Padre Roque Zimmermann (PT) foi mais longe nas suspeitas em relação a Cândido Martins. ‘‘Esse secretário seguramente tem muita explicação a dar para a sociedade’’, afirmou. O petista demonstrou não acreditar que o secretário não estava informado das ações de seus acessores diretos na Polícia Civil. ‘‘Ele não é nenhum mal informado. Toda vez que faço uma denúncia, às 14 horas, contra o Estado em Brasília, às 17 já recebo um fax com a resposta. Portanto, ele é muito bem informado quando lhe interessa’’, disse. Ontem, o delegado Arthur Braga entrou triunfante no plenarinho da Assembléia Legislativa para concretizar sua vingança contra Noronha. ‘‘Fui chamado para falar da parte boa da Polícia, porque da ruim, dos policiais corruptos todo mundo já falou.’’ Ainda chateado com a forma como deixou a instituição, Braga disse que, se o secretário tivesse tomado as medidas, teria terminado o seu mandato, já que deixou o cargo quatro meses antes do término. O secretário Cândido Martins foi procurado pela Folha ontem, mas não foi encontrado. (Colaboraram Leandro Donatti e Carmem Murara).