São Paulo - O presidente Donald Trump assinou nesse domingo (24) um documento que proíbe a entrada nos EUA de estrangeiros que tenham estado no Brasil nos últimos 14 dias como mais uma medida para tentar conter o avanço do coronavírus. Esperava-se o anúncio de uma restrição dos voos com origem no Brasil – que já tinha sido cogitada publicamente diversas vezes pelo presidente americano, mas até este fim de semana ainda não havia um plano concreto na Casa Branca neste sentido.

O documento deste domingo é mais amplo: engloba todos os estrangeiros que tenham passado pelo território brasileiro nas últimas duas semanas. Há exceções para os portadores de green cards (residência permanente nos EUA) e para os cônjuges de americanos residentes no país.

Um funcionário do alto escalão do governo Trump afirmou que os EUA estão considerando continuamente opções de proteção aos americanos, limitando a transmissão do vírus por meio das viagens, e que, portanto, Brasil e outros países poderiam entrar em algum momento no escopo das restrições.

O governo brasileiro, por sua vez, estava em contato diário com autoridades americanas e sabia que a Casa Branca e o Departamento de Estado monitoravam com preocupação a situação do Brasil, com casos e mortes confirmadas por Covid-19 aumentando em ritmo vertiginoso.

Diplomatas brasileiros afirmam que, depois de os EUA suspenderem voos da China e da Europa, quando estes eram o epicentro da pandemia, esperavam que as restrições ao Brasil chegariam mais cedo ou mais tarde.

Mesmo assim, houve esforços da chancelaria brasileira nas últimas semanas para tentar evitar que a medida fosse implementada a voos do Brasil, justificando que transporte aéreo estava sendo utilizado quase que somente para cargas e repatriação de cidadãos.

NO RADAR

Desde março, o governo americano colocou o cenário brasileiro no radar e tem cogitado vetar os voos que chegam do país. Conforme o quadro ia se agravando, as chances da suspensão aumentavam.

Na sexta-feira (22), a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou que a América Latina era o novo epicentro da pandemia, e o Brasil era o país mais preocupante, com 20 mil mortes e 310 mil casos confirmados. Dois dias depois, Trump resolveu anunciar o veto à entrada de quem passou pelo território brasileiro.

Na semana passada, o presidente americano havia dito que cogitava suspender voos do Brasil, porque não queria "pessoas infectando nosso povo". "Eu me preocupo com tudo, eu não quero pessoas vindo para cá e infectando nosso povo", afirmou Trump. Era a segunda vez em poucos dias que falava do assunto.

Horas depois, o embaixador brasileiro nos EUA, Nestor Forster, disse que não havia até então nenhuma decisão sobre o cancelamento das rotas ou imposição de restrições aos brasileiros que quisessem viajar aos EUA.