RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A delação do doleiro Dario Messer tem mais valor pela fixação de uma pena e a devolução de bens do que pelas novas informações prestadas, afirmou o procurador regional José Antônio Vagos, um dos responsáveis pelo acordo. Messer é chamado de "doleiro dos doleiros" em razão do seu protagonismo na atividade.

A colaboração, segundo a reportagem apurou, tem pouco mais de duas dezenas de anexos, boa parte corroborando informações já descobertas pela força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro. Traz novos personagens, principalmente operadores financeiros, mas sem provocar o temor que o nome de Messer trazia ao meio político.

"O acordo dele sem o Juca e Tony [Vinicius Claret e Cláudio Barboza, sócios minoritários e operadores de fato do banco paralelo de Messer] ficou muito esvaziado. Eram eles quem operavam tudo. Messer aportou dinheiro e, eventualmente, levava alguns clientes. Mas ele trouxe, sim, novas informações que vão abrir novas investigações", disse Vagos.

O doleiro chegou a negociar uma delação, em 2017, mas se recusava a ficar um dia preso e a pagar uma multa de cerca de R$ 70 milhões.

Seus dois sócios minoritários decidiram, então, firmar o acordo por conta própria, entregando todo o sistema eletrônico em que controlaram a movimentação de US$ 1,6 bilhão de 2011 a 2017 por meio de mais de 3.000 offshores em 52 países.

Foi com base nessas informações que, em maio de 2018, foi deflagrada a Operação Câmbio, Desligo, que mirou dezenas de doleiros do país, entre eles Messer. Ele ficou foragido por mais de um ano até ser preso em julho de 2019.

"Quando ele nos procurou [com a proposta de colaboração], dissemos a ele que deveria abrir mão de todo o seu patrimônio para se tornar colaborador. Ele aceitou. Além de recuperarmos os valores, evitamos anos de processos penais, em que é raro ver criminosos de colarinho branco cumprindo pena", disse Vagos.

O acordo prevê que o doleiro cumpra 18 anos e 9 meses de pena, dos quais cerca de três anos em regime fechado.

Messer atualmente está em prisão domiciliar deferida pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). O Ministério Público Federal deve solicitar a revogação da medida cautelar. O delator só começará a cumprir de fato a pena quando tiver uma condenação transitada em julgado. A estimativa é que ele fique mais dois anos em na cadeia.

Messer vai entregar às autoridades fazendas e imóveis que tem no Paraguai, Estados Unidos e Brasil, além de obras de arte, algumas já apreendidas. Ficará com R$ 3 milhões e um apartamento de 75 metros quadrados no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro.

Os bens mais valiosos de Messer estão no Paraguai. Será necessária uma cooperação jurídica internacional para repatriar os valores -parte ficará com as autoridades do país vizinho.

Alvo de investigações desde a década de 1990, o doleiro foi investigado na CPI do Banestado e teve o nome citado no escândalo do mensalão. Em 2009, ele foi alvo da Polícia Federal na Operação Sexta-Feira 13, que investigou um fluxo de mais de US$ 20 milhões em paraísos fiscais, um esquema que funcionava desde 1997.

As amizades do "doleiro dos doleiros" vão desde o ex-atacante Ronaldo Fenômeno até o ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes, que o chamou de "irmão de alma". O paraguaio foi socorrido pelo patriarca Mordko numa fase de dificuldades financeiras.

Atualmente, o ex-presidente paraguaio é réu numa ação penal da Lava Jato fluminense sob acusação de ajudar Messer em sua fuga no período em que esteve foragido.

O rol de contatos de Messer gerou rumores de que sua delação poderia expor nomes influentes do país. A reportagem apurou que a delação dele chegou a ser analisada pela Procuradoria-Geral da República, mas as informações sobre pessoas com foro especial não foram consideradas relevantes.