SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em sabatina realizada pela Folha de S.Paulo e pelo UOL nesta sexta-feira (30), Jilmar Tatto (PT), que tem 4% de intenções de votos segundo o último Datafolha, afirmou que estará no segundo turno e, para isso, mira os votos das classes C, D e E.

Tatto afirmou que sua situação nas pesquisas se deve ao fato de que a população, em meio à pandemia, ainda não está envolvida em eleição, já que, segundo ele, o PT tem 20% da preferência do eleitorado paulistano e tem capilaridade na cidade de São Paulo.

“Onde está o meu problema? Eu preciso me tornar conhecido. A cada dia que passa, eu me torno mais conhecido e vou acabar crescendo, principalmente naquilo que é a razão da existência do PT, nas classes C, D e E. É esse perfil, esse eleitorado que eu quero atingir e estou focado nesse primeiro momento. Evidentemente que quero o voto de todos, mas estou focado para ir ao segundo turno principalmente em quem ganha até cinco salários-mínimos”, disse.

Tatto afirmou que as pesquisas erram muito e que a hipótese de não estar no segundo turno não existe. “A hora que a periferia se levantar vocês vão ter uma grande surpresa”, disse.

O candidato reforçou o dado do Datafolha, de que o ex-presidente Lula (PT) tem atuação melhor como cabo eleitoral em comparação ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao governador João Doria (PSDB).

Tatto afirmou que tem experiência nas campanhas de rua pelo PT. “Eu sei quando o PT é bem-aceito na rua. Em 2016, não era. Em 2018, melhorou. Em 2020, está maravilhoso conversar com as pessoas na periferia”, disse.

Tatto foi questionado sobre o PT sacrificar a campanha de 2020 em prol da campanha de 2022, uma vez que os candidatos petistas neste ano são pressionados pela direção do partido a fazer uma defesa da alegada inocência de Lula mesmo que isso não traga votos.

Condenado pela Lava Jato em segunda instância, Lula não pode concorrer em 2022 segundo a Lei da Ficha Limpa. Tatto afirmou que a ida do ex-juiz Sergio Moro para o governo Bolsonaro é mais uma prova de que houve conluio para condenar Lula e tirá-lo da eleição de 2018.

“O PT está emprenhado na eleição de 2020 e trabalha também para voltar a governar o país. Gostaríamos muito que fosse o presidente Lula [o candidato], e a gente está brigando bastante para que o STF [Supremo tribunal Federal] anule os processos dele, porque ele foi condenado injustamente e agora isso está provado. Moro nem existe mais na política”, disse Tatto.

O candidato do PT disse ainda que o maior problema da cidade é a desigualdade social, acentuada na pandemia. Ele defendeu propostas como criar cooperativas de trabalho, implementar a renda básica da cidadania –proposta de Eduardo Suplicy (PT) agora apoiada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB)— e adotar o passe livre de forma gradual.

A gratuidade no transporte seria dada a desempregados e pacientes em seu trajeto para consultas e cirurgias. Além disso, a tarifa cairia para R$ 2 aos domingos, feriados e de madrugada.

Questionado sobre o aumento da tarifa quando foi secretário dos Transportes na gestão de Fernando Haddad (PT), Tatto respondeu que agora a cidade tem dinheiro em caixa para implementar a tarifa zero ao contrário daquela época, quando havia crise econômica.

Ainda em relação a transportes, Tatto evitou se comprometer com a volta da redução de velocidade nas marginais, tema considerado impopular. A redução foi feita na gestão Haddad e revogada por Doria.

De forma contraditória, o petista afirmou que, comprovadamente, as mortes caíram com a redução da velocidade, mas afirmou que, se eleito, irá analisar e fazer estudos sobre como diminuir as mortes no trânsito em toda a cidade e verificar se, para isso, é mesmo necessário retomar a redução nas marginais.

Tatto ainda fez críticas à gestão de Covas na pandemia, afirmando que ele deveria aproveitar a verba da prefeitura para fazer testes em massa e reformar escolas adaptando-as para o retorno das aulas e que deveria ter colocado 100% da frota dos ônibus em circulação durante a quarentena.

“Dá impressão de que eles não sabem cuidar do povo. Não estão nem aí com as mortes que estão acontecendo. […] Omissão, insensibilidade e crueldade. É uma insensibilidade muito grande por parte do prefeito, ele não está nem aí. Está tratando a pandemia de forma burocrática”, disse Tatto.

“Isso talvez por falta de experiência, por não saber cuidar de povo. Por não ter sensibilidade, que é próprio do PSDB. Foi assim com Doria”, continuou o petista, criticando o governador por não ter terminado o mandato de prefeito e por “politizar algo que não deve ser politizado”, a pandemia.

Tatto pretende criar uma comissão para investigar as mortes por coronavírus em São Paulo e concluir se houve negligência da prefeitura em relação a fornecer equipamentos para profissionais de saúde, por exemplo.

O petista, no entanto, afirmou que a postura de Covas e de Bolsonaro na pandemia não é comparável.

“Eu não comparo Bruno Covas com Bolsonaro. Bolsonaro é um caso à parte, é um caso de saúde pública e de insanidade. O comportamento dele pessoal foi inaceitável, de ser contra a ciência”, afirmou, relembrando o episódio da “gripezinha”.

Tatto minimizou problemas internos da sua campanha, como a busca por uma vice mulher e negra que não se concretizou por falta de uma filiada com musculatura política nesse perfil. O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) acabou escolhido como vice.

Também evitou o confronto com Guilherme Boulos (PSOL), candidato mais bem colocado na esquerda e com chances de ir ao segundo turno, com 14%. Tatto disse ver com naturalidade o apoio de petistas sendo declarado a Boulos porque o PT é um partido democrático.

“Boulos é meu irmão mais novo. Eu gosto do Boulos, não tem disputa”, disse o petista.

Tatto defendeu ainda sua candidatura com base em sua experiência como secretário nas gestões de Haddad e Marta Suplicy, quando se ocupou do Abastecimento, Transportes e implantação das subprefeituras.