Com boa parte do comércio de portas cerradas, o decreto estadual que determinou maior rigor nas regras de isolamento social divide opiniões entre os londrinenses. Não é diferente entre os pré-candidatos a prefeito. O atual mandatário, Marcelo Belinati (PP), afirma insistentemente que não há necessidade para tal rigor no momento. A administração garante que a pandemia está sob controle e que há infraestrutura para o atendimento. Tanto que recorreu administrativamente na Sesa (Secretaria Estadual de Saúde), buscando a revisão das normas, e aguarda um mandado de segurança no Tribunal de Justiça para reverter a proibição. “Ficou muito claro, pelas colocações das autoridades estaduais, que os motivos eram falta de vagas de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e medicação para intubação. Em Londrina, não falta”, afirmou Belinati em live no último domingo (5).

Imagem ilustrativa da imagem Entre críticas a Belinati, prefeituráveis discordam de nova quarentena
| Foto: Gustavo Carneiro

Principal nome em oposição ao prefeito, já que liderou a única pesquisa de intenção de voto realizada na cidade, pelo Instituto Multicultural, o deputado federal Boca Aberta (Pros) contesta a quarentena, mas critica a postura da prefeitura. Ele afirma que a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que garantiu a autonomia de estados e municípios para lidar com a crise, poderia ser utilizada em favor da abertura do comércio. “Marcelo Belinati não tem coragem. Só ele pode deixar a cidade aberta e não quer bater de frente com o Ratinho Junior (PSD). Se eu fosse prefeito, faria um decreto meu, anexava a decisão do STF e abriria o comércio com as medidas de saúde necessárias”, diz o parlamentar, que é um virtual pré-candidato.

Já o ex-prefeito Barbosa Neto (PDT), que quer voltar ao posto do chefe do executivo municipal e já anunciou sua pré-candidatura, também faz críticas quanto às decisões tomadas pela atual gestão. Para ele, as medidas mais duras tomadas nos primeiros dias da pandemia foram precipitadas. “Em relação ao fechamento decretado pelo governo do Estado, creio que houve uma série de erros por parte do prefeito. Um deles foi o fechamento precoce do comércio, provocando a falência de várias empresas”, apontou. Ele ainda afirma que há indício de erros no combate ao avanço da Covid 19 em Londrina. “A prova são os números da alta letalidade aqui. É a mais alta do Sul do País. Nos sobra a pergunta: em quem acreditar? Nos números e argumentos da Prefeitura ou no governo do Estado?”, questiona.

CRÍTICOS

Outro nome que segue firme entre os possíveis candidatos no pleito de novembro é o do deputado estadual Tiago Amaral (PSB). Ele deixou o posto de vice-liderança do governo na AL (Assembleia Legislativa do Paraná) por não concordar com o decreto editado por Ratinho Junior no dia 1º de julho. Amaral é defensor da delegação de competência e responsabilidade diante da crise aos prefeitos que assim o desejarem. “A decisão do governo do Estado está em total desacordo com o que defendo: de que a competência e responsabilidade devem ser repassadas aos municípios”, diz.

O delegado aposentado Nelson Águila Misuta, pré-candidato pelo MDB, também se mostra contrário à decisão determinada pelo governo Ratinho Junior. Ele questiona que a fundamentação do decreto se baseia num aumento de 114% nos casos, de acordo com a Sesa, entre os dias 14 e 28 de junho. E argumenta que, em Londrina, o aumento de casos foi de 63%, enquanto o de mortes é de 69%. “Portanto, não posso concordar com o fechamento do comércio em Londrina, pois os nossos índices são inferiores ao indicado na fundamentação do decreto do Governador”, afirma à FOLHA.

FAVORÁVEL

O único favorável à determinação do Estado é o pré-candidato do PT, o advogado Carlos Roberto Scalassara. Ele aponta que há uma discrepância entre os números divulgados pela Sesa e os da prefeitura e que, até a determinação do que está correto, o ideal seria manter as portas das lojas fechadas. “É preciso ter em vista que nós estamos falando de vidas. Por isso, é preciso que essa determinação do Estado prevaleça até que as diferenças sejam explicadas”, opina. Ele lembra que o Paraná não vê Londrina isoladamente. “Nós somos parte de uma região e, dessa forma, é preciso chegar ao consenso”, conclui.