A entrada do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) na corrida pela única vaga no Senado nas eleições deste ano deverá abrir a disputa e poderá favorecer o surgimento de um terceiro nome. As pesquisas mostram uma disputa direta com Alvaro Dias (Podemos), que deverá tentar a reeleição, e uma divisão entre os votos da direita, o que poderia levar ao crescimento de um candidato de oposição ao governador Ratinho Júnior (PSD) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

P
P | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Pesquisa do Instituto Real Time Big Data de 27 de junho mostrou Moro com 30%. das intenções de voto, seguido por Alvaro Dias, com 23%. Sem Moro, de acordo com o levantamento, Alvaro venceria com 35% dos votos. Outra pesquisa, feita pelo Ipespe e divulgada no dia 7 deste mês, mostrou o inverso: Alvaro na liderança, com 31%, e Moro em segundo, com 24%.

Além deles, pelo menos outros dez pré-candidatos já mostraram interesse em concorrer ao Senado. Um deles é o deputado estadual Guto Silva (PP), cotado para ter o apoio de Ratinho Júnior. O ex-secretário da Casa Civil no governo de Ratinho disse lamentar a forma como Moro voltou ao Paraná. O ex-juiz chegou a anunciar que se candidataria por São Paulo, mas em junho a justiça negou a transferência de seu título eleitoral para o estado vizinho.

“A entrada de uma nova candidatura é importante para ampliar o debate sobre o que o paranaense precisa. Só lamento o Paraná ser uma segunda opção dele”, afirmou Guto Silva em relação à intenção de Moro de disputar o Senado. “O Paraná precisa ser tratado como plano principal e não secundário. O paranaense em primeiro lugar”.

O deputado espera ter sua candidatura homologada na convenção estadual do PP, no próximo dia 23, em Londrina. “Sinto uma resposta muito positiva da população e dos prefeitos com que converso. Não podemos discutir apenas projetos e pautas pessoais como se fossem da população. Precisamos debater saúde, segurança, educação, desenvolvimento social, emprego, entre tantos outros temas”.

A linha de criticar Moro por sua tentativa de se candidatar por São Paulo também foi adotada pelo deputado federal Paulo Martins (PL), que espera contar com o apoio de Bolsonaro para sua candidatura a senador. Em sua conta no Twitter, Martins publicou que não está atrás de um “prêmio de consolação”. “Representar o Paraná não será prêmio de consolação para quem escolheu e não conseguiu representar São Paulo”, acatou o deputado. “Vai ser ótimo debater com o cara que traiu o presidente que lhe confiou o Ministério da Justiça”

Brecha para a esquerda

Para a oposição a Ratinho e a Bolsonaro, a entrada de Moro na corrida poderá abrir a brecha para uma terceira candidatura. Pelas contas da esquerda, os votos da direita poderão ficar distribuídos entre Alvaro Dias, Sergio Moro, Paulo Martins e Aline Sleutjes (Pros), o que abriria espaço para um candidato da oposição correr por fora e chegar em primeiro com cerca de 30% dos votos.

A definição do candidato, no entanto, depende do cenário nacional. O PT tem o ex-governador Roberto Requião como candidato ao governo e pretende atrair o PDT para uma coligação, o que vem esbarrando na candidatura de Ciro Gomes à presidência. Os dois partidos têm pré-candidatos ao Senado: Dr. Rosinha, Ângelo Vanhoni e Marley Fernandes, pelo PT; e Ricardo Gomyde, Eneida Desiree Salgado e Eliza Ferreira, pelo PDT. O deputado federal Gustavo Fruet e o estadual Goura Nataj tentariam a reeleição.

LEIA TAMBÉM

Moro confirma pré-candidatura ao Senado e enfrentará Alvaro Dias
Senadores do Paraná defendem pacote de bondades em ano eleitoral

“A gente fez uma proposta formal para coligar com o PDT, que deverá decidir neste fim de semana”, disse o presidente do PT no Paraná, o deputado estadual Arilson Chiorato. “Estamos muito animados, porque há uma fissura muito grande na direita. Não só Alvaro e Moro devem crescer, mas Guto Silva, Paulo Martins e Aline Sleutjes (Republicano)) também crescerão nesse eleitorado. São vários no mesmo campo político. E nós estamos sozinhos”.

Chiorato espera que a presença do ex-presidente Lula impulsione a candidatura ao Senado — e também as candidaturas a deputado estadual e federal. “Vamos saltar de três deputados estaduais para cinco. E de três federais para sete”, aposta. A convenção estadual do PT será no próximo dia 23.

Uma das pré-candidatas do PDT ao Senado, a professora universitária Eneide Desiree avalia que há espaço para uma candidatura de oposição ter mais de 30% dos votos. “Há mais espaço para candidaturas progressistas. O cenário tem vários nomes do campo não-progressista”. Segundo ela, ainda não há consenso no PDT. “São três possibilidades: não lançar ninguém, lançar um nome próprio ou apoiar o Requião. Não vejo hoje uma corrente dominante. O problema tem sido essa possibilidade de palanque duplo”.

Para a professora de Direito Constitucional e Eleitoral, os três senadores do Paraná (Alvaro Dias, Flávio Arns e Oriovisto Guimarães, todos do Podemos) têm uma atuação muito semelhante. “Acredito que existe espaço para apresentar novas alternativas. E fazer a discussão de qual deve ser o papel do Senado. Também vejo que essas primeiras pesquisas não refletem necessariamente a intenção de voto, são como pesquisas de popularidade”. A convenção estadual do PDT será no dia 30 de julho.

especialista vê tendência de polarização

P
P | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O cientista político e professor universitário Doacir Quadros não acredita na viabilidade de uma terceira candidatura ao Senado. Para ele, a disputa será polarizada entre Alvaro Dias e Sergio Moro. “Acho difícil surgir uma terceira candidatura que possa superar o resultado eleitoral do Alvaro Dias e do Sergio Moro. Na matemática faz sentido (a conta da esquerda), mas o primeiro colocado da esquerda é o Dr. Rosinha (com 10%, segundo o Ipespe). Mesmo com essa fragmentação de candidaturas da direita, entendo que é difícil o primeiro candidato da esquerda ter sucesso”.

Um fato que pode pesar, segundo Quadros, é o índice de rejeição. Moro teria a maior rejeição entre os candidatos, mostrou a pesquisa Ipespe (31%). “É um fator importante onde há uma fragmentação de candidaturas. O Moro prevalece no colégio eleitoral da capital, mas se enfraquece nas demais regiões. O Alvaro, estrategicamente, já tem seu histórico eleitoral. Eu diria que fica uma gangorra”.

Outra indefinição é em relação aos candidatos que serão apoiados por Jair Bolsonaro e Ratinho Junior. Bolsonaro poderia optar entre Paulo Martins e Aline Sleutjes, mas especula-se que ele poderia apoiar Alvaro Dias contra Sergio Moro. “Tenho dúvidas sobre a capacidade do Bolsonaro transferir votos para senador. Uma dinâmica interna do estado talvez defina que vai ser o senador”, afirma Doacir Quadros.

Já Ratinho deverá esperar para definir seu apoio. “As pesquisas mostram boa parte do eleitorado satisfeita com o governo. Acho que estrategicamente ele vai tentar retardar o máximo possível seu posicionamento. Ele já teve um bom entendimento com o Alvaro Dias e o Sergio Moro, teria dificuldade para apoiar um ou outro neste momento”, comenta o cientista político.

LAVA JATO

Uma possível barreira para Moro construir alianças poderá ser a operação Lava Jato, criticada por vários políticos. Ao lançar sua pré-candidatura, no dia 12, o ex-juiz confirmou que conversou com o pré-candidato do PSDB ao governo, Cesar Silvestri Filho, o que abriria a possibilidade de ele integrar a mesma chapa que o ex-governador Beto Richa, um crítico da operação. Richa, que chegou a ser preso, deverá concorrer a deputado federal.

Questionado sobre a possível presença de Richa, Moro desconversou durante o evento de lançamento de sua pré-candidatura, nesta semana. “Foi só um almoço. Ele (Richa) não esteve presente”, afirmou o ex-juiz. A reportagem da Folha entrou em contato com as assessorias de Silvestri Filho e Beto Richa, mas não houve retorno até o fechamento desta matéria. O senador Alvaro Dias não comenta a pré-candidatura de Sergio Moro. Outros pré-candidatos ao Senado são o ex-deputado federal Alex Canziani (PTB), que também pode se lançar à Assembleia Legislativa, e o ex-governador Orlando Pessuti (MDB).

Registros

A pesquisa do Real Time Big Data divulgada foi divulgada no dia 27 de junho. O instituto ouviu 1,5 mil eleitores, entre os dias 24 e 25 de junho, com margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada com o número PR-06518/2022.

Já a pesquisa Ipespe foi divulgada no dia 7 deste mês. O instituto entrevistou mil moradores do Paraná com idades a partir de 16 anos, por telefone, entre 29 de junho a 1º de julho. O intervalo de confiança é de 95,5%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob os protocolos BR-08536/2022 e PR-01338/2022.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.