Entidades querem fiscalizar investigações
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 05 de abril de 2000
Leandro Donatti
De Curitiba
Representantes de 36 entidades civis organizadas entregaram ontem à tarde ao presidente da Assembléia Legislativa, Nelson Justus (PTB), manifesto pedindo rigor nas investigações do narcotráfico e do crime organizado no Paraná. As entidades estão atentas à criação das quatro CPIs laranjas, engendradas pela bancada governista a pedido do Palácio Iguaçu numa tentativa de pulverizar o discurso da oposição. As entidades querem atuar como observadoras dos trabalhos da CPI, criada para apurar o tráfico de drogas no Estado.
A audiência durou cerca de 20 minutos e registrou momentos de tensão. Visivelmente irritado com as cobranças, o presidente da Assembléia não garantiu a participação das entidades na CPI. Disse que cabe à comissão parlamentar decidir se permite ou não o controle externo. Justus disse mais de uma vez que não pretende, como presidente do Poder Legislativo, dar brechas para que se façam discursos políticos. Eu digo o que quero, embora ouço às vezes o que não quero. Mas não vou permitir que se faça palanque político em cima da CPI.
O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Darci Frigo, disse que as entidades querem investigações aprofundadas. Não queremos uma CPI pela metade, reivindicou. Frigo afirmou que, até o momento, as investigações atingiram apenas o baixo escalão. Temos que subir para os cabeças do narcotráfico e do crime organizado. Por isso, gostaríamos de fazer um acompanhamento dos trabalhos, ponderou. O presidente da CPT pediu para que Nelson Justus não nomeie deputados governistas para a função de relator e presidente da CPI.
O pedido destemperou ainda mais o presidente da Assembléia, que partiu para o ataque. O senhor está pré-julgando. Não podemos imaginar que todos os traficantes e criminosos sejam governistas. Recebo o manifesto, mas sem a preocupação da cor partidária, observou. O presidente da APP-Sindicato, professor Romeu Miranda, contrargumentou Justus. O sindicalista disse estranhar a resistência governista em aprovar a CPI. Os governistas rejeitaram requerimento da oposição no último dia 22. Só vestiram a camisa de uma CPI estadual para apurar o narcotráfico depois de a bancada do PSDB aderir à tese.
A acalorada audiência entre Justus e as entidades ontem terminou com verniz de civilidade. O manifesto não seria entregue apenas à Assembléia, mas ao Poder Judiciário e ao Ministério Público. Nelson Justus permitiu que Dom Ladislau Bienarski representando Dom Pedro Fedalto, da Arquidiocese de Curitiba lesse em plenário o teor do manifesto, que prega seriedade nas investigações e punição severa dos envolvidos. Porém, o presidente da Assembléia não presidiu a sessão. Munidas de de faixas, as entidades tiveram ainda sinal-verde para lotarem galerias da Assembléia e acompanharem os discursos. Pelo segundo dia consecutivo, situação e oposição trocaram farpas. Valdir Rossoni foi sair em defesa do governo e levou vaia dos manifestantes. Essa vaia, a população não deu ao governador Jaime Lerner na eleição, reagiu o líder do governo.