Entidades da sociedade civil organizada de Londrina se posicionaram publicamente nesta semana preocupadas com ação que corre no TJ (Tribunal de Justiça) contra a Prefeitura e Caapsml (Caixa de Assistência, Aposentadoria e Pensões dos Servidores). Trata-se do processo aberto pela Aprolon (Associação dos Procuradores de Londrina), que reivindica obrigar a administração municipal a pagar aos advogados públicos salários acima do teto do prefeito, fixado em R$ 19.183,63.

Imagem ilustrativa da imagem Entidades criticam ação de procuradores da Prefeitura por equiparação salarial
| Foto: Roberto Custódio/18-9-2020

"É uma ação assombrosa, eu até duvidei quando soubemos, ainda mais numa época dessa em que os gastos públicos precisam ser priorizados. Caso prospere, poderá ter consequências funestas para a economia do município, para sanidade fiscal. Além do efeito em cascata, isso poderá abrir o mesmo direito para outras categorias. É um pedido que passa do limite da razoável", disse à FOLHA o presidente da Sociedade Rural do Paraná, Antonio Sampaio.

Outras entidades como a Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) e o Sinduscon (Sindicato da Construção Civil) também manifestaram preocupação com processo em curso. Isso porque os procuradores cobram na Justiça por pagamentos retroativos. Elas argumentam que caso a ação seja acatada pela Justiça, o impacto seria de quase R$ 30 milhões aos cofres municipais, além de ônus anual na folha de pagamento, estimado em R$ 3 milhões. Em Londrina são 35 procuradores jurídicos na ativa. "A carga tributária hoje do contribuinte já é alta, o IPTU já aumentou e nunca será suficiente para arcar com a folha de pagamento. Esse assunto precisa ser exposto para que a sociedade tenha conhecimento de ação que poderá arrebentar com os cofres do município", completou Sampaio.

O Sindserv (Sindicato dos Servidores Públicos de Londrina) também já havia se manifestado contrário aos pedidos dos advogados concursados que atuam na Prefeitura de Londrina. Isso porque a entidade de classe entende que o Estatuto do Servidor impede que os funcionários de carreira ou comissionados recebam acima do salário do chefe do Executivo.

Por outro lado, a Aprolon se baseia num acórdão publicado em 2019 pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que diz que o teto salarial dos procuradores municipais poderia ser equivalente a cerca de 90% da remuneração dos ministros do STF, assim como os procuradores estaduais, ou seja, passaria de R$ 20 mil, podendo chegar até a R$ 40 mil.

HISTÓRICO

Após perder a ação em primeira instância, a Aprolon (Associação dos Procuradores de Londrina) recorreu ao TJ (Tribunal de Justiça) alegando que o Plano de Cargos, Carreiras e Salários do Município de Londrina prevê que a categoria pode ganhar acima do salário do prefeito. A publicação, porém, não obriga o prefeito a pagar salários acima do teto, reservando ao chefe do Executivo a avaliação, diante do quadro orçamentário.

Em 2020, a Aprolon conseguiu liminar favorável a esse pagamento acima do teto e referendado pela publicação do STF referente a uma ação ajuizada em 2012. À época, o Sindserv viu conflito de interesses, acusou o responsável pela Procuradoria de perder prazo e viu indícios de improbidade administrativa por considerar que os procuradores entraram com ação e o procurador-geral do Município, João Luiz Esteves, fez a defesa pela prefeitura, mas ao mesmo tinha interesse legítimo na causa. Após a denúncia do sindicato, a Prefeitura de Londrina buscou um escritório por concorrência pública. "Esses encaminhamentos foram feitos pela entidade para que fosse feita a contratação de advogados de fora para fazer essa defesa e também acionamos o Ministério Público e temos acompanhado essa movimentação com um escritório que busque manter a situação como ela está. Em outros estados já houve decisão mantendo o que o Supremo entende, ou seja, que o município precisa fazer sua própria legislação para regulamentar esta extrapolação na remuneração que hoje estipula o teto do prefeito como a maior valor a ser pago ao funcionalismo", reiterou o presidente do Sindserv, Fabio Molin.

OUTRO LADO

A reportagem deixou recado na PGM para os procuradores da Aprolon, mas não obteve retorno, já que muitos estão em trabalho remoto. Em fevereiro a entidade informou que todas as manifestações judiciais seguiram o rito estabelecido em decreto municipal e que ação na Justiça corre com "regular exercício da ampla defesa, por todas as partes envolvidas". Já sobre aplicabilidade do teto., também à época afirmou que o Tribunal de Contas já havia decidido pela aplicação reconhecida pelo STF, com efeito vinculante aos municípios, "não tendo o Município de Londrina tomado as providências aptas a estancar referida ilegalidade."

A FOLHA procurou o prefeito Marcelo Belinati via assessoria, mas foi informada de que ele não comentará o assunto porque a administração municipal já vem tomando as providências necessárias.