Em uma trajetória marcada por solavancos políticos nas últimas semanas, o novo modelo de pedágio para rodovias do Paraná tem enfrentado um percurso sinuoso por gabinetes de Curitiba e Brasília até chegar ao seu destino final ­— isso se houver um.

Entre a base parlamentar de Ratinho Junior (PSD) já corre um tom de ultimato a respeito dessa definição, cuja palavra final está agora com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em discurso na Assembleia Legislativa (AL) na segunda-feira (6), o líder do Executivo, Hussein Bakri (PSD), afirmou que o governador estabeleceu o fim de março como a data-limite. Bakri também disse ter sido estranho o cancelamento, por parte da administração federal, da agenda que Ratinho Jr. teria na semana passada com o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), para uma solenidade em que o Paraná iria delegar à União os dois primeiros lotes a serem futuramente concedidos para exploração de concessionárias.

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Já nesta quarta-feira (8), o deputado estadual preferiu amenizar nas palavras ao dizer que que, embora não seja “um prazo fechado”, “é possível” que o alerta dado dois dias antes seja mantido. “O governo está aberto ao debate, mas acho que os fatos que estão acontecendo agora [tal como a interdição de um trecho da BR-277] estão mostrando para todo mundo que é preciso ter pressa”, acrescentou Bakri em entrevista distribuída por sua assessoria de imprensa.

O líder de Ratinho Junior no Legislativo ainda pediu um debate técnico e união de forças para, conforme ele, chegar a um “denominador comum”. O governador está em viagem oficial a países da Ásia e só retorna ao Brasil em 20 de março.

Arruda pede recálculo de dados

Entre outros membros da base governista, é notória a aderência ao modelo definido pelo Palácio Iguaçu com a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista à FOLHA, Ricardo Arruda (PL) falou que o formato fará “uma revolução na malha viária do Paraná” por gerar investimentos estimados em cerca de R$ 50 bilhões.

“A política é importante, a politicagem só atrapalha. ‘Preço mínimo’ não existe, é balela. Essas narrativas só atrapalham a malha viária do Paraná”, disparou Arruda quanto ao modelo defendido pelo PT no estado. Ele também pediu um recálculo de dados como a movimentação diária de veículos para atualizar os números que embasam o projeto.

Palácio Iguaçu diz estar confiante

Em nota, o governo Ratinho Junior declarou estar “confiante” na manutenção do modelo de concessão “construído desde 2019” e, segundo o texto, “discutido em uma série de encontros entre técnicos” do Executivo estadual e do Ministério dos Transportes realizados em janeiro e fevereiro de 2023.

“As partes envolvidas no processo, inclusive a sociedade civil, ouvida em duas audiências públicas oficiais e em reuniões com a Assembleia Legislativa, entenderam que a concessão por menor tarifa, sem outorga e com uma grande quantidade de obras, é a melhor”, defendeu o Palácio Iguaçu.

“O leilão será pela menor tarifa, com disputa livre pelo mercado, com um aporte financeiro em relação ao desconto concedido, chamado de seguro-usuário, para garantir a execução do acordo. O governo do estado espera delegar para o governo federal as rodovias estaduais dos dois primeiros lotes e que o edital seja divulgado em breve”, concluiu a nota do Executivo.

Chiorato fala em interferência do Executivo

Já o futuro da Frente do Pedágio da Assembleia Legislativa deve ficar para a semana que vem. O presidente da Casa, Ademar Traiano (PSD), anunciou na terça-feira (7) que a decisão da constituição do grupo será tomada pela Comissão de Obras Públicas, Transporte e Comunicação. O colegiado permanente é presidido por Gugu Bueno, também filiado ao PSD de Ratinho Junior.

Atualmente, existem dois pedidos na AL para a uma nova instalação da frente, em um embate entre situação e oposição. O deputado estadual Arilson Chiorato (PT) classificou a medida de “episódio triste” e disse que se trata de uma “interferência direta” do governo do Paraná.

“A gente acaba sendo tirado do debate — claro que formalmente. Estamos lutando para que a gente tenha um pedágio barato, com obras, transparência e que gere segurança”, afirmou o parlamentar em vídeo enviado por sua assessoria de imprensa.