BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) provocou o grupo de repórteres que diariamente espera sua saída do Palácio da Alvorada e, para reforçar seu argumento contra as restrições de movimento para o combate à Covid-19, perguntou se os profissionais não estavam "com medo do coronavírus".

"Atenção povo do Brasil: esse pessoal aqui [aponta para os repórteres] diz que eu estou errado e que você tem que ficar em casa", disse Bolsonaro, aos risos, para apoiadores que o esperavam em frente à residência oficial, nesta quinta-feira (26).

O vídeo, gravado por um auxiliar do presidente, foi compartilhado nas redes do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

"Agora eu pergunto: o que vocês estão fazendo aqui? Não estão com medo do coronavírus, não? Vão para casa. E todo mundo sem máscara", acrescentou o presidente.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) orienta que, entre a população em geral, máscaras clínicas devem ser usadas apenas por pessoas que apresentam sintomas do coronavírus.

Em outro momento, que não consta no vídeo divulgado pelo deputado, Bolsonaro disse: "Ô imprensa. Vocês estão aqui trabalhando? Tem que ficar em casa, quarentena. Fica em quarentena em casa".

Desde meados do ano passado, o presidente tem parado para cumprimentar seus seguidores na entrada do Palácio da Alvorada. Em muitas ocasiões, ele aproveita a situação para conceder entrevistas. A prática levou a uma mudança na rotina das redações em Brasília, que passaram a destacar repórteres e cinegrafistas para registrarem as declarações de Bolsonaro.

Mesmo com a declaração do estado de pandemia, Bolsonaro não abandonou o hábito de conversar com seus apoiadores, embora, seguindo recomendações médicas, tenha deixado de se aproximar deles e de posar para selfies.

Apesar de ter tentado usar os profissionais como exemplo em seu esforço de minimizar a doença, o presidente não mencionou em nenhum momento que ele mesmo definiu a imprensa como atividade essencial durante a crise da Covid-19.

Em decreto de 22 de março, Bolsonaro determinou o resguardo do "exercício pleno e o funcionamento das atividades e dos serviços relacionados à imprensa, considerados essenciais no fornecimento de informações à população".Na mesma norma, Bolsonaro veda "a restrição à circulação de trabalhadores que possa afetar o funcionamento das atividades e dos serviços essenciais".