Em pouco mais de meia hora de discurso para uma plateia formada por militantes e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) que trabalham e moram no assentamento Eli Vive, localizado no distrito de Lerroville, em Londrina, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pouco lembrou o político pragmático que vem costurando alianças à direita do PT e agiu pessoalmente para ter como vice o ex- tucano Geraldo Alckmin na candidatura à Presidência.

Imagem ilustrativa da imagem Em Londrina, Lula evita pragmatismo em discurso para a militância
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

O líder nas pesquisas de intenção de voto disse que buscará um novo mandato porque “nunca o Brasil precisou tanto do PT”, apontou o dedo contra o Congresso Nacional – incitando os movimentos sociais a lançarem candidatos para evitar que “as raposas cuidem do galinheiro” – e só criticou diretamente seu maior adversário na corrida ao Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL), a partir do 26º minuto de fala. Àquela altura, Lula já havia atacado outro adversário, o ex-juiz e ex-ministro de Bolsonaro Sergio Moro (Podemos).

O pré-candidato do PT à Presidência também agradeceu ao apoio do MST durante a vigília montada em frente à sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no período em que ficou preso por um ano depois de ser condenado em segunda instância no âmbito da Operação Lava Jato. E não fez mea-culpa sobre os escândalos revelados na ocasião.

Lula visitou o assentamento Eli Vive no último sábado (19). Boné do MST na cabeça, camisa comprida e calça jeans, subiu ao palco faltando cinco minutos para as 14 horas, sob chuva, quase quatro horas depois do horário informado pela coordenação do evento.

O ex-presidente desembarcou em Londrina por volta das 11 horas em voo fretado de Curitiba acompanhado do ex-governador e candidato do PT ao governo, Roberto Requião, que havia se filiado ao partido na sexta (18), na capital. Foi recebido na pista do Aeroporto José Richa pelo prefeito Marcelo Belinati (PP), em ato duramente criticado nas redes sociais pelo deputado federal Filipe Barros (União Brasil), liderança bolsonarista na cidade.

Lula deixou o assentamento por volta das 16h30, e conforme a assessoria já havia antecipado, não concedeu entrevistas. Dez viaturas da PM foram mobilizadas para fazer a segurança no trajeto de Londrina até o trevo de acesso a Lerroville, na PR-445, e outras duas viaturas da Guarda Municipal ficaram a postos em frente à entrada do evento.

Confira os principais trechos do discurso do ex-presidente.

CANDIDATURA

“Por que um cara como eu, que já foi presidente da República, está voltando? Eu preciso ser candidato e vou dizer a vocês uma coisa, sem nenhuma falta de modéstia, não é arrogância, do fundo do meu coração: nunca esse país precisou de um partido como o PT pra governar como agora. E eu tenho consciência de que tem gente mais letrada do que eu, mas não tem nenhum dos concorrentes que entenda 10% da alma do povo brasileiro como eu entendo.”

MORO

“Este mesmo juiz, que eu não vou citar o nome, que inventou uma mentira junto com os procuradores pra me condenar, (...) é um juiz cego, mentiroso, arrogante, que não merece o diploma que teve. Eu não sei como é que uma figura como o Moro se mete a ser candidato a presidente da República. O que é que ele entende de povo? O que ele entende de pobreza, do mundo do trabalho, da exploração do povo? Nada, ele mal e porcamente aprendeu a ler e decorar o Código Penal.”

BOLSONARO

“Nós temos uma fábrica de mentira nesse país contando mentira 24 horas por dia. O Bolsonaro conta sete mentiras todo santo dia, ele levanta pra contar mentira. E quando não está contando mentira está fazendo desgraça, vendendo o país, quebrando o país. Esse cara não visitou uma família que morreu de Covid, esse cara desrespeitou a ciência, esse cara montou uma verdadeira quadrilha no Ministério da Saúde, com o Pazuello (Eduardo, ex-ministro), pra comprar vacina, mesmo negando a vacina. E o que a gente está esperando?”

CONGRESSO

“Eu posso dizer a vocês uma coisa com a minha experiência de 50 anos de vida política: o Congresso Nacional nunca esteve tão deformado como está agora, nunca esteve tão antipovo como está agora, nunca esteve tão submisso aos interesses antinacionais como está agora. Esse é talvez o pior Congresso que nós já tivemos na história do Brasil.

Eles criaram uma coisa chamada orçamento secreto, que é o orçamento lesa-pátria, porque é um orçamento em que os deputados começam a governar o país ao invés do governo governar. Nós vamos ter que eleger muitos deputados e senadores que pensem igual a gente. A gente não pode votar colocando raposa no nosso galinheiro, a desgraçada da raposa vai comer as galinhas, não vai deixar as galinhas livres.”

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