O pré-candidato do PDT à presidência, Ciro Gomes, avalia que 50% do eleitorado brasileiro ainda não definiu seu candidato a presidente nas eleições de outubro e que há espaço para crescer entre os descontentes. Para o ex-governador do Ceará, que esteve em Curitiba no último sábado (7) para seu primeiro evento oficial de pré-campanha, os indecisos e o voto baseado na rejeição a Jair Bolsonaro (PL) e a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definirão a eleição.

Terceiro colocado nas últimas pesquisas de intenção de voto, Ciro Gomes diz ver os números com naturalidade neste momento. "Em maio de 2018, as pesquisas não diziam nada do que acabou acontecendo. Ninguém dava um centavo furado pelo Bolsonaro", disse. "Temos de oito a dez pesquisas todo mês, todas financiadas pelo sistema financeiro, que quer confinar o debate ao redor de candidatos com o compromisso de manter o sistema econômico, em detrimento de uma economia que está indo pro vinagre".

O grande desafio da campanha, disse Ciro, será convencer o eleitorado que ele é capaz de derrotar Lula e Bolsonaro. "O Bolsonaro acumula entre 20% e 25%, e o Lula entre 40% e 45%. Significa que 30% do eleitorado não está se rendendo à tal polarização. Dos votos dados ao Lula, 17% têm como único objetivo derrotar o Bolsonaro. Do outro lado, 9% votam no Bolsonaro para o PT não voltar. Dá mais de 50% do eleitorado disponível para um esforço de convencimento".

Alianças

O pedetista diz ter portas abertas para negociar apoios com o PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab, e com o União Brasil, já que o PDT se aliou ao DEM nas eleições municipais de 2020 (o União é resultado da fusão entre DEM e PSL). "Esse entendimento tem raízes, não é de hoje. Mas isso vai depender dessa primeira etapa, de incrementar minha presença entre o povo e ter mais possibilidades".

Um desafio é superar os cenários regionais. No Paraná, por exemplo, o PSD vai disputar a reeleição ao governo com Ratinho Júnior, um apoiador de Bolsonaro. "Vamos fazer essa costura. Eu não exijo que o PSD obrigue todos os seus quadros, o que eu preciso é um aliança nacional que respeite a realidade brasileira. No Paraná poderemos ter candidato próprio ao governo, se houver esse entedimento".

Para Ciro, entre os meses de junho e julho será possível voltar à mesa de negociação. "Temos essa possibilidade com o União, derivada dessa minha conversa antiga com o DEM. Combinamos de manter o diálogo. Eles querem olhar se o povo anuncia que eu sou viável. O que é normal. Em junho ou julho a gente se encontra".

Para Ciro Gomes, os indecisos e o voto baseado na rejeição a  Bolsonaro e Lula definirão a eleição de outubro
Para Ciro Gomes, os indecisos e o voto baseado na rejeição a Bolsonaro e Lula definirão a eleição de outubro | Foto: Leonardo Andreiko/Divulgação

Lula-Alckmin

Ciro Gomes criticou duramente a chapa Lula-Alckmin e disse que o ex-governador de São Paulo, hoje filiado ao PSB, seria o "homem da elite" para derrubar Lula caso um novo governo do PT venha a fracassar na área econômica. "Se juntar jabuti com arame farpado não nasce porco-espinho. PT e PSDB se acusavam de coisas graves, precisam dar uma satisfação para a gente que se estapeou na rua", afirmou Ciro. "Se o Lula chegar lá imaginando que vai repetir aquele momento de picanha e cerveja, uma memória afetiva do que nunca aconteceu, derrubam o Lula, porque o homem da elite é o Alckmin".

O presidenciável acusou Lula de usar a aliança com o ex-tucano para não precisar apresentar projetos ou dar explicações. "Não tem projeto. A ideia do Lula é ganhar as eleições sem ter que explicar nada. Porque juntou o Alckmin, o homem do despejo do Pinheirinho (ocupação em São Paulo que foi desalojada em 2012) com o Guilherme Boulos, líder do MTST que promoveu a invasão de Pinheirinho".

Eleições em risco

Ciro diz não ter dúvida de que Jair Bolsonaro tentará um golpe. "Não acredito que terá eficácia, mas que vai tentar eu também não tenho a menor dúvida. Temos elementos constrangedores de um serviço de inteligência estrangeiro. Eis no que estão tentando transformar a nossa pátria, em uma república de bananas. Se o serviço de inteligência americano (CIA) afirma que tem uma tentativa, serei eu que vou dizer que não?", questionou.

Para o pedetista, Bolsonaro ataca o sistema eleitoral para tentar desviar a atenção e será preso caso tente uma ruptura institucional. "A razão é distrair. Temos que estar armados institucionalmente, por enquanto apenas institucionalmente, para esconjurar a tentativa que o Bolsonaro vai fazer. Ele está querendo replicar o que o (Donald) Trump fez. E ele vai para a cadeia".

Ciro Gomes esteve em Curitiba para participar da filiação do ex-deputado federal Ricardo Gomyde ao PDT. Participaram da cerimônia, entre outros, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, o deputado federal Gustavo Fruet, o deputado estadual Goura Nataj, o ex-ministro Aldo Rebelo e o ex-deputado federal Neltron Friedrich.