Brasília - Durante seu discurso de mais de uma hora em reunião de balanço dos cem dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, nesta segunda-feira (10), que os atos de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) contra o resultado das eleições em 8 de janeiro foram tentativa de golpe. Por outro lado, ele evitou citar diretamente o nome de seu antecessor, e afirmou que seu governo está criando uma nova fase no país.

Brasília (DF) 10/04/2023 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva coordena reunião de balanço dos 100 dias de governo. Todos os ministros participam do encontro. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Brasília (DF) 10/04/2023 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva coordena reunião de balanço dos 100 dias de governo. Todos os ministros participam do encontro. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Lula disse agradecer à compreensão das pessoas pelo momento histórico que o país vive. "Sobretudo depois da tentativa de golpe dia 8 de janeiro, quando a sociedade brasileira viu, depois de muito tempo, as instituições brasileiras se juntarem para defender a democracia", disse o mandatário.

Na ocasião, apoiadores bolsonaristas que não aceitavam o resultado eleitoral invadiram e depredaram a sede dos três Poderes. Como consequência, quem estava acampado em frente ao quartel-general do Exército pedindo golpe foi preso, inquéritos foram instaurados e os chefes dos três Poderes fizeram atos simbólicos em defesa da democracia.

O chefe do Executivo disse que foi uma "tentativa de golpe, feita com a maior desfaçatez, por um grupo de reacionários, fascistas, um grupo de extrema direita, que não queria deixar o poder, que não queria acatar o resultado eleitoral". Apesar de rememorar o episódio, que diz ter marcado o início do seu mandato, Lula não citou o seu antecessor, como aliados vem aconselhando-o a não fazer. Ele disse que, quando assumiu o governo em 2003, não fez evento de cem dias porque não foi preciso, e elogiou a transição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). "Companheiro que tinha sobretudo uma marca de civilidade que o ex que eu estou substituindo agora não tem", disse, em referência a Bolsonaro.

Em outro momento, também numa menção velada ao seu antecessor, chamou-o de "cidadão" e disse que ele queria perpetuar o fascismo no Brasil. "Digo sempre que, se juntar todos os presidentes desde a proclamação até essas eleições, a soma de todas as candidaturas juntas não gastou o que esse cidadão gastou na perspectiva de perpetuar o fascismo neste país."

CARTÃO DE VACINA

As referências ao episódio e ao antecessor abriram o discurso do mandatário aos seus 37 ministros e líderes do governo no Congresso. Ele disse ainda que "estamos criando uma fase nova na história do país" e demonstrou otimismo. Em seu discurso aos ministros, que foi aberto à imprensa, o chefe do Executivo também disse que passará a cobrar cartão de vacina no Palácio do Planalto. Segundo ele, se a pessoa não quiser se proteger, ao menos terá de fazê-lo pelos outros.

Lula disse que precisará fazer um teste de Covid-19 antes de embarcar nesta terça (11) para a China, outro quando chegar ao país e mais um quando for encontrar o presidente Xi JinPing. E, segundo disse, isso está certo. "Nós ainda temos muita gente que não gosta de democracia impregnada aqui", disse, sem deixar claro se trata sobre o Palácio do Planalto ou o Brasil. "Vou tomar decisão de exigir, só vai trabalhar e só vai entrar [no Palácio do Planalto] quem tiver cartão de vacina."

CRÍTICAS

Lula 3 completa cem dias sob críticas de aliados, que reclamam de entraves para deslanchar projetos e da falta de uma nova marca ao novo mandato do petista. O próprio mandatário tem cobrado integrantes do primeiro escalão por entregas nas últimas reuniões.

Até então, apontam ministros e parlamentares alinhados ao Planalto, o governo reciclou programas antigos e foi palco de embates entre expoentes da equipe ministerial, que se desentenderam publicamente sobre o lançamento de propostas do governo.

Auxiliares do presidente afirmam que o slogan do governo é "União e Reconstrução", o que justifica o relançamento de iniciativas de gestões anteriores, como o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família, retomado no lugar do Auxílio Brasil, e que eles voltaram turbinados.