Em Londrina, uma manifestação denominada "Marielle, presente – ato contra o genocídio do povo preto" foi convocada pela Sociedade de Pretas Elegantes do Brasil, na rotatória das avenidas Juscelino Kubitscheck e Higienópolis, no final da tarde desta quinta-feira (15). O protesto foi realizado devido ao assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, militante pelos direitos humanos e que denunciava abusos policiais na comunidade de Acari, na capital carioca. Mas, o jovem Mateus Ferreira Evangelista, de 18 anos, morto no fim de semana em Londrina, também foi lembrança forte na manifestação.

Cerca de 150 pessoas se reuniram no local escolhido pela organização para ler poemas sobre Marielle e Mateus, antes de iniciar uma vigília. Velas e vasos de flores foram colocadas na guia da rotatória, sem que os manifestantes se incomodassem com o volume de tráfego pesado do local às 18h. Cartazes colados no muro do Colégio Estadual Vicente Rijo e na própria rotatória citavam a vítima carioca.

A manifestação foi engendrada nesta quinta pela Sociedade de Pretas Elegantes do Brasil, por meio de um evento do Facebook. Atos semelhantes foram convocados durante todo o dia em várias capitais, incluindo Curitiba, a maioria, por militantes ligados ao Psol, partido da vereadora. Em Londrina, entretanto, não houve ligação direta com as outras manifestações, porque não há motivação partidária, afirma a porta-voz das organizadoras Fernanda Silva. "Houve uma unidade em torno do tema", afirma. Apesar do caráter apartidário, bandeiras da CUT e citando o ex-presidente Lula tomavam lugares entre os manifestantes.

Imagem ilustrativa da imagem Em ato por Marielle, londrinenses também lembram de Mateus Evangelista
| Foto: Gustavo Carneiro/Folha de Londrina



Genocídio e pauta local

Militante ligada ao movimento negro de Londrina, Jaqueline de Araújo Vieira ressalta que Marielle morreu vítima da violência que ela denunciava, a praticada contra jovens negros. "É uma luta que enfrentamos no Brasil e não é de hoje", diz, recordando que as estatísticas apontam que um negro morre a cada 21 minutos no País. "Trazendo para uma esfera local, as mortes da da população jovem negra no município são alarmantes. Numa simples verificação junto às instituições de assistência social, a gente descobre que, das mortes dos adolescentes entre 14 e 29 anos, mais de 70% são negros", diz.

Jaqueline cita o dado lembrando de Mateus, morto no fim de semana e sob a suspeita de ser vítima de agentes da Guarda Civil Municipal. O londrinense foi lembrado em um emocionante jogral, comandado por Jaqueline – que chegou a chorar enquanto lia o texto - e repetido por todos os manifestantes.

Sobre Marielle, a ativista diz que não foi uma morte qualquer. "É uma morte simbólica. Apagar uma pessoa com cinco tiros na cara, fala muita coisa, na minha opinião."

Curitiba

"Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe"?, questionou, no Twitter, a vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), de 38 anos, um dia antes de ela mesma ser assassinada com quatro tiros na cabeça, no centro do Rio de Janeiro. A incômoda pergunta foi repetida por milhares de pessoas entre a tarde e a noite de quinta-feira, durante as vigílias em favor de Marielle e do motorista Anderson Pedro Gomes, realizadas ao redor do País.

Em Curitiba, o público levou velas, cartazes e flores ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Praça Santos Andrade. Apesar de convocado pelo PSOL, partido da vereadora, o ato reuniu militantes de legendas e movimentos sociais diversos, além de estudantes, artistas e homens e mulheres em geral. A homenagem começou por volta das 18h30 e terminaria pouco mais de duas horas depois. Protestos semelhantes aconteceram em Londrina, na rotatória das avenidas Juscelino Kubitscheck e Higienópolis, em Ponta Grossa, Cascavel e Maringá.

Nascida e criada no Complexo da Maré, a parlamentar denunciava em suas redes sociais os diversos tipos de violência que vinham acometendo jovens como Matheus Melo, 23, nas comunidades cariocas desde o início da intervenção federal, há um mês. A família acusa policiais de terem assassinado o rapaz, quando ele saía de moto do Jacarezinho, no último dia 2. Marielle também tinha acabado de tornar pública uma ação truculenta da Polícia Militar (PM) na região do Itajá, na comunidade de Acari.

Socióloga e mestra em Administração Pública, ela conquistou mais de 46 mil votos em sua primeira eleição, em 2016. Em pouco tempo, ganhou destaque ao defender as mulheres, sobretudo as negras, periféricas, mães e LGBTs (lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais). Presidiu a Comissão de Defesa das Mulheres e havia assumido, no dia 28 de fevereiro, a relatoria de uma comissão criada na Câmara Municipal para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do Rio.