Os temas como segurança e corrupção dominaram o debate eleitoral na corrida à presidência em 2018 e também foram usados por candidatos a governador, principalmente por conta de casos de desvios revelados no auge da Lava Jato, que teve o centro das decisões na capital do estado, Curitiba. Entretanto, após a crise econômica causada pela pandemia, com aumento da inflação e queda no poder de compra de consumidores, os cientistas políticos e economistas ouvidos pela FOLHA avaliam que o 'bolso do eleitor' terá um peso maior no debate das eleições gerais de 2022.

Para o cientista político e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Emerson Cervi, os candidatos que não conseguirem atualizar o discurso terão problemas de convencer o eleitor. "Algumas pesquisas já mostram que os temas economia e educação aparecem muito à frente de corrupção e segurança, por exemplo." Segundo ele, a crise financeira provocada pela pandemia deverá ser o tema central da corrida à presidência, que terá protagonismo em 2022. Já na disputada local, a economia poderá ter menor impacto dependendo de cada estado e região.

Segundo os especialistas, a crise financeira provocada pela pandemia deverá ser o tema central da corrida à presidência e o atual governo será confrontado pelos aspectos econômicos
Segundo os especialistas, a crise financeira provocada pela pandemia deverá ser o tema central da corrida à presidência e o atual governo será confrontado pelos aspectos econômicos | Foto: iStock

O professor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Elve Cenci, também considera que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) será confrontado pelos aspectos econômicos, apesar de todos as outras polêmicas dos últimos três anos de governo com a gestão da pandemia e ataques às instituições. "Em 2006 no auge do mensalão o ex-presidente Lula (PT) foi reeleito, mas a economia estava bem e ele conseguiu a reeleição. Por outro lado, em 2015, a ex-presidente Dilma Roussef (PT) sofreu o impeachment porque a economia do país estava mal. Com a situação econômica drástica, o cidadão comum não estará preocupado com a corrupção, mas sim em pagar as contas e conseguir ir às compras no supermercado."

Na mesma direção, o economista e professor da UEL, Sidnei Pereira avalia que a inflação próxima de 11% acarretará em medidas mais enérgicas por parte do governo o que deverá refletir nas próximas eleições. "O governo para conter essa inflação terá que apertar as contas. A inflação puxa o pé no freio e isso irá desembocar em desemprego com taxa de juros elevadas." Segundo ele, a sociedade está mais pobre e, consequentemente, com menos poder de compra diminuiu. "A taxa de câmbio está acima do que deveria em 25 a 30%, por conta dessa instabilidade política e econômica. É um ciclo vicioso porque quando a taxa cambial sobe, a inflação vem à galope."

PARANÁ

Apesar do cenário atual favorecer a reeleição do atual governador Ratinho Junior (PSD), segundo analistas, o governador terá duas situações que poderão pesar a favor ou contra sua campanha. Um deles, é o período sem pedágio no qual o governador poderá colher frutos, mas também haverá ônus por conta de estradas sem manutenção. O outro fator é a conjuntura política, isto é, o rumo que o partido dele irá tomar em apoio a Bolsonaro, Lula ou o ex-juiz Sergio Moro (Podemos). Os especialistas, por outro lado, acreditam que o tema central economia, não terá o mesmo peso no cenário estadual.

"No cenário estadual, o governador tem uma certa vantagem por não ter até agora um adversário com força. O maior problema do Ratinho Junior, será ele mesmo. Ele foi eleito (em 2018) com discurso mais distante dos problemas centrais com esse enfoque de gestão eficiente. Mas o eleitor quer saber, de verdade, se a mudança na gestão deu resultados práticos na educação ou se melhorou atendimento nos centros de referência e reduziu filas de cirurgias eletivas. Com a pandemia, ficou ainda mais difícil fazer essa avaliação", pondera o cientista político Emerson Cervi.

Assim como foi para reeleição dos prefeitos em 2020, a crise causada pela pandemia poderá favorecer a reeleição do governador, segundo o professor da UFPR. "Em momentos de crise há muita insegurança e em momentos de insegurança, o eleitor prefere ficar com quem ele já conhece. O eleitor vota geralmente em quem está no poder ou quem é muito conhecido. Se tiver uma opção conhecida, o eleitor poderá alterar sua opção de voto." O candidato mais forte que poderá ameaçá-lo, até agora é o ex-governador Roberto Requião, que está ainda sem partido.

CONJUNTURA POLÍTICA

O palanque político de Ratinho Junior deve ser outro fator preponderante em 2022. Isso porque o PSD, partido liderado por ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, poderá indicar o vice de Lula ou ter candidato próprio o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. "Ratinho Junior é um dos poucos governadores próximos ao presidente. Isso gera uma vinculação de imagem. Outro problema é parte do grupo que apoio Ratinho Jr está com o ex-juiz Sergio Moro. Além disso, outro fator é que o PSD poderá ir com Lula. O problema do governador em 2020 não é a oposição, é qual posição ele irá assumir" avalia Emerson Cervi.

O professor Elve Cenci também afirma que o governador Ratinho Junior tem um desafio político grande neste ano. "Ele não sabe direito como se posicionar na eleição presidencial. Um apoio irrestrito ao governo Bolsonaro poderá trazer um prejuízo grande ao governador. Na gestão da pandemia o governador contrariou o presidente e agora disse que irá vacinar as crianças, por exemplo. Ratinho Junior está adotando uma postura ambígua, sempre transitando nesta zona para não gerar conflito com Bolsonaro e não descontentar essa faixa de eleitores mais conservadora que ainda está com o presidente."

Para o analista, o pior dos cenários para Ratinho Jr. seria o PSD decidir pelo apoio ao Lula, indicando o vice na chapa petista, por exemplo. "Ele (Ratinho Jr) terá que sobreviver e observar o horizonte. O PSD é um partido que flerta com quem está na frente nas pesquisas. A tendência dele é fazer escolhas que preserve o eleitorado dele mais conservador e que ao mesmo tempo não afronte o partido", disse Cenci.

QUESTÃO DO PEDÁGIO DEVERÁ PEGAR FOGO NO DEBATE DO PR

O economista e professor da UEL, Sidnei Pereira, enxerga que o Pedágio será um tema central nas eleições no Estado. "Esse discurso do período de um ano sem pedágio pode ser um tiro no pé. Ou seja, o debate eleitoral começa mas intensamente no segundo semestre em agosto. Serão meses sem manutenção e dependendo da situação das rodovias, se estiverem sucateadas, a oposição poderá fazer uso disso. Por um lado, terá o discurso de que foi tirado o pedágio caro e prejudicial ao Estado, mas terá essa questão da possível falta de manutenção e da falta de serviços como os de guinchos."

Cenci também salienta que o modelo futuro do pedágio ainda não está claro e por isso, a sociedade precisará ficar mais atenta as regras de concessão. "Se tiver um candidato mais forte de oposição, como Requião, o debate será ampliado, o que exige um posicionamento do governador. Ratinho Junior está numa situação confortável. Isso porque o preço final do pedágio só será definido após as eleições e isso beneficia enormemente o governador. Ele não terá o ônus de um pedágio, caso o novo modelo não agrade a sociedade. Só um debate eleitoral firme vai tirá-lo dessa zona de conforto."

Segundo Pereira, na questão econômica poderá ser explorado o fator de que não houve um socorro maior por parte do Estado. "O Paraná tem sua vantagem em relação a outras regiões na pandemia na gestão da saúde por conta de uma infraestrutura maior que já vem de décadas. Por outro lado, nas questões econômicas foram poucas as contrapartidas do governo estadual."