"A minha dúvida para as eleições do ano que vem é a mesma dos eleitores. Ainda é uma incógnita", disse Osmar Dias durante visita à FOLHA
"A minha dúvida para as eleições do ano que vem é a mesma dos eleitores. Ainda é uma incógnita", disse Osmar Dias durante visita à FOLHA | Foto: Saulo Ohara



Há sete anos afastado de cargos eletivos, o ex-senador Osmar Dias (PDT) voltará a disputar o governo do Paraná pela terceira vez confrontando o discurso do "novo". O político, aos 65 anos, acredita que a experiência será o diferencial na corrida ao Palácio Iguaçu em 2018. Ele alega que não tem preferência na escolha dos principais adversários do momento, como a vice-governadora Cida Borghetti (PP) e o deputado estadual Ratinho Junior (PSD), nomes mais cogitados da ala governista da administração Beto Richa (PSDB).

O pedetista esteve em Londrina, na semana passada, em agenda de pré-campanha intensificada no Norte do Estado. Em entrevista na Redação da FOLHA, o postulante falou sobre a lealdade ao irmão Alvaro, a descrença geral dos eleitores com partidos políticos e a "incógnita" que será as eleições de 2018.

O ex-senador não se furtou também em responder temas "espinhosos" como o cargo que ocupou no governo do PT e sobre os erros cometidos nas duas campanhas nas quais foi derrotado por Roberto Requião (PMDB) em 2006, depois de disputa acirrada; e em 2010, ainda em primeiro turno, quando foi vencido pelo atual governador Beto Richa. Sereno, Osmar até brincou com seu apelido antigo no mundo político, o "Urtigão" (personagem da Walt Disney, barbudo e carrancudo).


Qual a motivação de sair candidato depois de duas derrotas?

Todos esses anos que ocupei cargos públicos eu deixei uma marca, uma história. Posso citar o Paraná Rural que deixou a marca que é um Estado completamente conservado no que diz respeito ao solo. O melhoramento genético na pecuária também. No Senado, fiz vários projetos que viraram lei, muitos com interesses voltados ao Paraná. Nas outras campanhas, debati assuntos que hoje que continuam sem respostas. Posso citar como exemplo a PR-445 que continua sem duplicar e foi uma promessa dos meus adversários. Está na hora de fazer um projeto viável e factível e eu colocarei toda a minha experiência para esse desafio.

Que erros cometidos nas eleições passadas o senhor evitaria? Alianças políticas, por exemplo?

Vou procurar evitar todos os erros. Eu sei que você está falando da escolha do meu vice em 2006 (Derli Donin, ex-prefeito de Toledo, que respondia por improbidade administrativa). Eu não escolhi meu vice à época, mas esse modelo tem que acabar. Eu não posso entrar numa campanha tendo que aceitar a indicação de um vice que tem problemas, como ocorreu. Eu tenho que ter o direito de escolher quem vai caminhar comigo porque é um desafio muito grande. Você tem que estar bem acompanhado sobre o ponto de vista da competência, do caráter. Não dá mais para aceitar - por conta de ter mais tempo na televisão -, um vice no qual você terá que gastar mais para se explicar por que ele foi colocado ali.

Há um assédio muito grande dos outros partidos por conta do seu nome que aparece com chances nas pesquisas. O senhor definiu se fica ou não no PDT?

Você não pode indicar um partido hoje que esteja numa situação melhor que o outro. Quando se fala do PT, você tem que ver o PSDB, o PMDB. Todos os partidos que estão aí não estão numa situação boa. Eu estou no PDT e quero continuar no PDT como me pediu lá atrás o Leonel Brizola, que é um político que faz muita falta nos dias de hoje.

Permanecendo no PDT, o senhor terá algum conflito familiar? Isso porque seu irmão, o senador Alvaro Dias (Podemos) será candidato à Presidência e Ciro Gomes poderá ser o candidato pedetista.

Todas as campanhas do Alvaro, eu não só participei, como coordenei. Então, minha lealdade a ele é absoluta, isso não se discute. Já as questões partidárias, muitas vezes, nos colocam em determinada situação. Tanto é que ele não participou da minha campanha em 2010. O Paraná tem que apoiar o Alvaro, não só o Osmar. Ele terá o apoio de todo o Paraná e eu sou paranaense.

Como o senhor observa essa disputa dos adversários entre o deputado estadual
Ratinho Junior e da vice-governadora Cida Borghetti pela preferência do Palácio Iguaçu? A indefinição ajuda ou atrapalha? Como será concorrer contra a máquina pública?


Em 2006, eu já disputei contra a máquina pública, contra Requião que, por exemplo, tinha aprovação de 72% à época. Muitas vezes, eu já fui oposição nas disputa ao Senado. Então, não é uma novidade para mim. Já a definição sobre adversários, é uma tarefa do governador Beto Richa. Tudo depende se ele vai ou não sair do governo. Então, é muito prematuro. Esse quadro ainda não está claro, não escolho adversários.

A eleição será polarizada ou há espaço para um "outsider" como ocorreu com o João Doria em São Paulo, por exemplo? Como senhor vê esses candidatos sem tradição na política?

Fala-se muito hoje que possa aparecer, eu não sou profeta. Mas as eleições serão a menos de um ano, não posso dizer. Eu já ouvi esse discurso do novo e já foi feito contra mim mesmo. Muitas vezes, o que se fala de novo não é o que a população espera. O novo na política é ser sério, ser coerente nas suas atitudes e não negar sua história e dar ao Estado projetos consistentes, o que não existe hoje.

O senhor fez campanha ao lado de Dilma no Paraná em 2010, mas o PT tem sofrido, sobretudo no Paraná, uma rejeição grande nas urnas. O senhor teme que isso seja explorado?

Eu não nego minha história. E quem nega sua história não merece ser respeitado. Quando apoiei a Dilma em 2010 - e isso é conhecimento de todos -, ela ganhou a eleição e todos acreditaram no projeto que foi apresentado. Eu não mudei o jeito de pensar quando aceitei o convite no Banco do Brasil (vice-presidência de Agronegócio). Inclusive, muita gente se beneficiou da minha ida financiando máquinas e armazéns que não existia no banco. Quando eu cheguei, o crédito para agricultura familiar tinha R$ 10 bilhões e hoje tem R$ 40 bi. Nós precisamos analisar sobre o ângulo de quem esteve com PT aquela época, porque tem muita gente que esteve e agora nega. Eu não nego que ocupei um cargo técnico. Agora, eu devolvo a pergunta. Será que quem apoiou o Aécio Neves está orgulhoso disso? Tem diferença de quem comete ato de corrupção no PT ou no PSDB? Eu defendo que olhemos para frente, os projetos que temos, senão todos os candidatos serão julgados de forma equivocada.

O senhor teme prejuízos à campanha ao governo por seu nome ter aparecido na lista da Odebrecht na campanha de 2010?

Esse assunto será totalmente esclarecido, muito antes. Não houve, nunca vi o cidadão na minha frente, nunca conversei com ninguém dessa empresa. Não há o que me preocupar com isso. Se meu nome apareceu, deve ter sido fruto de algum pedido feito pelo presidente do partido que recebeu doações oficiais, mas não caixa 2.

Como está sendo essa pré-campanha após sete anos longe da política?

Eu fiquei sete anos em paz fora da política. Agora, que estou de volta, a situação é a seguinte: quando você tem defeito, as pessoas aumentam; se você não tem defeito, as pessoas inventam. Mas acho que a política tem que mudar. Eu estou sendo bem recebido nos lugares que eu vou. Na verdade, eu tenho caminhado pouco porque tenho que ir de carro, eu não tenho helicóptero, eu não tenho cargo no governo. Até disseram: o Urtigão saiu da toca. Na verdade, o Urtigão nunca entrou na toca, eu estou sempre à disposição. A minha dúvida para o próximo pleito é a mesma dos eleitores. Eu não tinha facebook, instagram e nada disso. Agora, tem movimentos que estão surgindo que não estão muito claros. Se me perguntar como serão as eleições do ano que vem eu não saberei dizer, para mim ainda é uma incógnita.