Edema pulmonar complica saúde de Covas
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quinta-feira, 01 de março de 2001
Jô Pasquatto Agência Estado De São Paulo
Permanece muito grave o estado de saúde do governador licenciado de São Paulo Mário Covas, internado no Incor, na capital. Em entrevista no início da tarde de ontem, o cardiologista Whady Hueb explicou que o edema agudo de pulmão ocorrido no final da tarde de quarta-feira foi uma consequência de uma falência momentânea do coração. O processo resultou na quantidade exagerada de líquido no pulmão (o edema). Segundo Hueb, o quadro agudo foi resolvido com medicamentos para a circulação e com oxigenioterapia (uso de máscara respiratória que leva oxigênio para os pulmões). O cardiologista não quis dizer quanto da capacidade respiratória estaria comprometida.
Segundo o infectologista e médico particular do governador, David Uip, o estado de sa© úde de Covas voltou à condição anterior da ocorrência do edema. Esse problema (edema) não representa falência múltipla de órgãos; foi um problema momentâneo, disse Uip. De acordo com ele, o governador não chegou a ser entubado para respirar artificialmente.
Na avaliação de Hueb, a falência transitória do coração foi causada por uma sobrecarga. Houve uma sobrecarga de volume, é uma fraqueza generalizada, disse Hueb. Segundo ele, é uma série de fatores que está levando à retenção de líquidos. Hueb lembrou que o coração de Covas já foi operado, por causa do enfarte, e já recebeu pontes de safena e mamária (em 1987) além da recente angioplastia (em 2000). Não é um coração considerado normal, afirmou.
O estado geral do paciente, segundo Uip, continua o mesmo: ele ainda alterna momentos de lucidez com sonolência; o intestino continua obstruído; a função renal é boa e mesmo o coração e os pulmões têm função preservada. Uip disse que o governador não está sentindo dor e que por causa do problema ocorrido no pulmão passou a receber um medicamento derivado de morfina. Segundo Hueb, essa droga não é um sedativo, mas um tranquilizante. Uip reafirmou que os tratamentos de quimio e imunoterapia, para combater o câncer da meninge, estão suspensos.
Por volta da 0 hora de ontem, quando o edema agudo de pulmão já havia sido controlado, Covas passou a ser assistido também por uma outra equipe médica, a de intensivistas (especialistas em acompanhar os pacientes internados na UTI). Essa segunda equipe terá a função de acompanhar o estado clínico de Covas 24 horas por dia. Também ontem, após o quadro agudo, um grupo de fisioterapeutas começou a trabalhar. A equipe será responsável pelo trabalho respiratório e de mobilização das secreções (líquidos acumulados).
Uip evitou fazer uma avaliação detalhada sobre uma provável evolução ou reversão do quadro clínico. Ele disse que qualquer avaliação seria prematura, e que a prioridade do tratamento não é um ponto único mas um conjunto. Em medicina não há matemática, Covas passa por momentos sob controle e outros não. O processo de cura da infecção não se resolve em cinco dias, e faz parte de um quadro dessa gravidade as situações de melhora e piora, disse Uip. Ele reafirmou que o tratamento dado ao governador vai manter os limites da dignidade e respeitar os desejos de Covas.
Segundo Uip, até o momento de receber alta, um paciente grave como Covas é considerado um paciente de risco. Não trabalho com prazos nem com futurologia. O quadro continua extremamente grave, mas ele tem todo o tratamento possível disponível, disse Uip.
A liberação de visitas, segundo Uip, vai depender primeiro do estado clínico de Covas e, depois, da autorização dos familiares. No meio de um edema de pulmão, quando temos que atuar de forma rápida, não dá para receber visitas, afirmou Uip se referindo ao quadro de emergência ocorrido na noite de anteontem.