Com a flexibilização do uso de máscaras no Paraná feita por meio de decreto do governo do Estado, na última quarta-feira (16), após a Assembleia Legislativa derrubar a lei que tratava do assunto, muitas dúvidas e divergências surgiram, inclusive no meio político.

O equipamento de proteção agora é opcional ao ar livre, mas ainda obrigatório em espaços fechados. Para as crianças menores de 12 anos, a liberação fica a critério dos pais em qualquer lugar.

A lei foi revogada na Assembleia com 45 votos favoráveis e seis contrários. O deputado Arilson Chiorato (PT), liderança da bancada de oposição ao governo, é um dos que não concordam com a decisão.

Imagem ilustrativa da imagem É hora de cair as máscaras?
| Foto: Orlando Kissner/Alep

À FOLHA, o parlamentar afirma que é necessária uma reflexão maior sobre o uso de máscaras, especialmente com o avanço da doença na Europa e a baixa cobertura vacinal da dose de reforço no Brasil.

“Os estudos científicos das universidades e associações médicas indicam que várias coisas contribuíram para o aumento de casos na Europa. Primeiro a não tomada da terceira dose, como ocorreu na primeira e segunda doses da vacinação, e o outro as medidas de afrouxamento, como a liberação do uso de máscaras”, ressalta.

O uso de máscaras era obrigatório no Paraná desde 28 de abril de 2020. A mudança, segundo o governo, tem aprovação do comitê científico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e leva em consideração a ampla vacinação dos paranaenses, com quase 80% da população com a cobertura vacinal completa e 3,7 milhões com a dose de reforço. Além do controle do quadro epidemiológico.

ENTENDIMENTO

O líder do governo na Assembleia, deputado Hussein Bakri (PSD), destaca que o entendimento foi construído com muito debate, apesar do rito acelerado na Casa de Leis.

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| Foto: Dálie Felber/Alep

“O governo entende que as medidas foram tomadas na hora certa. Quando tinha que cobrar máscara foi cobrado com muita ênfase, com todo desgaste que isso causou, mas a hora de liberar é hora de liberar. Existe essa noção”, enfatiza.

O petista Chiorato diz que a oposição fez um requerimento pedindo mais informações ao governo. “O decreto promulgado não é do contento da oposição, até porque ele libera o uso de máscaras para crianças com menos de 12 anos em qualquer local. Não existe tanta tecnicidade científica e segurança sanitária. Não temos uma cobertura vacinal adequada ainda e no interstício de uma lei ou decreto o coronavírus não tira férias”, salienta.

Na avaliação de Bakri, quem tem a competência para falar sobre o assunto é a Secretaria da Saúde. “Por iniciativa da própria Assembleia, fomos um dos primeiros estados a tornar obrigatório o uso de máscara, ainda no início da pandemia. Certamente, isso foi fundamental para ajudar a controlar a transmissão do coronavírus, sobretudo quando ainda não tínhamos vacinas. Nós entendemos que a Secretaria da Saúde tem esse condão de poder avaliar a condição da doença”, finaliza.

O que dizem especialistas

A Folha de Londrina ouviu três especialistas da área médica para falar a flexibilização do uso de máscaras ao ar livre em todo o Estado. Elas concordam com a medida, mas fazem ponderações.

De acordo com o presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná (Femipa), Flaviano Feu Ventorim, a redução de internamentos por Covid é considerável e justifica a decisão da Sesa.

“Eu como representante do setor hospitalar não consigo ter essa avaliação da mesma forma que a Secretaria de Estado da Saúde. Mas temos um número hoje muito menor de pacientes Covid, que indicam uma queda significativa. Então, acredito que tenham sido feitos estudos técnicos e eficientes que indicam a possibilidade de seguir no caminho de outros estados que tomaram medidas semelhantes”, analisa.

Ventorim também frisa que é preciso monitorar as próximas semanas e o avanço da doença também mundialmente. E, caso necessário, recuar na flexibilização.

“Ao perceber o aumento no número de casos, a Secretaria deve voltar atrás nessa decisão. Mas, em princípio, nos parece uma decisão muito tranquila, até porque a população já não estava tão firme no uso de máscara, pelo menos em locais abertos”, avalia.

CENÁRIO LOCAL

Para a infectologista do Hospital Vita, Marta Fragoso, a decisão da flexibilização do uso de máscaras deveria ser analisada rigorosamente por cada município, tendo em vista o cenário local, e não em nível estadual.

“É o momento adequado, mas não pode ser uma norma generalizada, ela (a retirada da máscara) tem que ser feita com base nos dados epidemiológicos locais, se há uma redução significativa de casos e óbitos e um alto percentual de vacinados”, explica.

A especialista pondera que há preocupação com o avanço da doença, especialmente no público infantil, devido à desobrigação do uso do equipamento. “Existe essa preocupação em função de a taxa de imunização das crianças ainda não ser a adequada”, afirma Marta à Folha de Londrina.

Segundo a infectologista Viviane Macedo, professora de medicina da Universidade Positivo, em Curitiba, a não obrigatoriedade do uso das máscaras em ambientes abertos é possível neste momento da pandemia. No entanto, é preciso que haja uma fiscalização mais intensa em locais fechados.

“Deve haver uma fiscalização das autoridades nesse sentido pois há o perigo do afrouxamento do uso de máscara nesses ambientes, pela falta do hábito do uso de máscara no ambiente externo”, considerou.

A médica aponta ainda que é importante que sejam feitas buscas mais intensas pela dose de reforço. “Devemos avançar na vacinação de reforço, cuja taxa de vacinação é de apenas 35% no Estado do Paraná para evitar que o vírus circule com facilidade entre as pessoas, já que há uma queda importante dos anticorpos contra a Covid-19 após 4-5 meses depois das 2 doses da vacina”, conclui.

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