O ex-ministro da Casa Civil e ex-deputado federal José Dirceu (PT) acredita que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem conseguido, dentro das possibilidades, cumprir seu programa. Uma das principais lideranças históricas do partido, Dirceu esteve em Londrina na última sexta-feira (4) para reforçar a campanha do filho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT), na disputa pela presidência do diretório estadual do PT.

Questionado se vê o governo Lula fragilizado, Dirceu ressaltou que é um “governo com muitas contradições, porque é um governo de centro-esquerda com um Congresso de centro-direita”.

“É um governo quase impossível”, resumiu, ao se referir à correlação de forças em Brasília. Segundo ele, o Executivo conta com apenas cerca de 80 deputados e mais 45 que apoiam efetivamente o programa, além de um Senado com composição adversa.

Apesar das dificuldades, o ex-ministro acredita que houve avanços nos últimos anos, como a aprovação da PEC da Transição, a Reforma Tributária, o restabelecimento dos programas sociais e a retomada do crescimento do país.

“Essa é a nossa luta: fazer justiça tributária e reduzir os juros. Porque, se você levar em conta o orçamento que o Brasil tem, os recursos disponíveis para investir, o governo fez muito. Por quê? Porque voltou a ter política industrial — com a Nova Indústria Brasil, o PAC, políticas para infraestrutura, saneamento, habitação, óleo e gás —, tudo isso faz o país crescer”, afirmou.

Dirceu argumenta que, dentro das possibilidades, o governo tem cumprido seu programa. “O que o governo está pedindo ao Congresso? Primeiro, que as emendas parlamentares não tenham desvio de recursos e que estejam de acordo com os objetivos do Plano Plurianual e do orçamento da União. A prioridade é saúde, educação, segurança pública. Sabemos quais são as prioridades”, acrescenta.

Para o ex-ministro, os principais desafios do governo são enfrentar os problemas da segurança pública, das queimadas e promover o crescimento com distribuição de renda.

COMUNICAÇÃO

Em meio ao embate entre governo e Congresso em torno do IOF, com uma ofensiva da esquerda nas redes sociais, Dirceu avalia que o PT está “aprendendo” a usar o debate digital. “Esse foi um dos nossos erros: não priorizamos as redes como deveríamos. Agora estamos priorizando”, pontua.

“O partido político tem problema geracional, problema de burocratização. Quando se vira um partido muito grande, eleitoral e de governo, começa a perder referência com o território, com a base”, acrescenta.

Ele defendeu ainda a pluralidade interna do PT, destacando a liberdade de debate, a paridade de gênero e a adoção de cotas como elementos centrais da identidade petista. Lembrou também que, apesar de a legenda ter enfrentado repressão política nos últimos anos, permanece com forte enraizamento social.

"Tivemos momentos de crescimento, momentos de decrescimento. O decrescimento foi muito pela repressão que se abateu sobre nós entre 2013 e 2019; por erros nossos também, porque todo partido comete erros, todos os governos cometem erros, têm insuficiências. Mas principalmente pelo golpe, pela Lava Jato. O PT perdeu muito território, diretórios, sedes — e perdeu muitos dirigentes", aponta.

ELEIÇÕES

Mesmo com a crise de popularidade do governo Lula - a pesquisa Datafolha divulgada em junho mostra que o presidente marca 28% de aprovação e 40% de reprovação -, Dirceu acredita que ainda há “muita água para correr até 2026”. Ele ressalta que o governo precisa fazer o dever de casa, manter a unidade com PDT, PSB, PCdoB, Rede, PV e PSOL, além de buscar alianças com setores do MDB.

“Não é impossível o MDB apoiar o Lula em 2026. Não é impossível”, reforça, argumentando que a direita ainda não definiu quem será seu candidato. “2026 não está longe, mas também não estamos em 2026 ainda. Agora é hora de governar. E o governo está fazendo isso.”

FUTURO

O ex-ministro também afirma que pretende entrar com um pedido de revisão criminal do julgamento do mensalão. “Fui condenado sem provas, sem direito ao juiz natural. Eu nem podia ser processado pela Câmara, porque não era deputado, estava licenciado. Então, pretendo sim, mas isso não está no meu radar agora. Agora, vou publicar meu livro de memórias”, finaliza.

ELEIÇÕES INTERNAS

As eleições internas do PT acontecem neste domingo (6). O partido tem quatro candidaturas para o comando da direção nacional: o favorito, Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP) e apoiado pelo presidente Lula; Valter Pomar, Romênio Pereira e o deputado federal Rui Falcão (SP). (Com Folhapress)

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