A briga de poderes em Brasília se aproxima de um momento crucial com a eleição para o comando do Congresso. Na Câmara, a situação é ainda mais acirrada porque o substituto de Rodrigo Maia (DEM-RJ) terá papel decisivo no ritmo em que o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) assumirá – e até na decisão sobre um possível pedido de impeachment. Com baixa popularidade e enfrentando críticas pela condução da pandemia do novo coronavírus, o presidente tem como candidato o deputado Arthur Lira (PP-AL), enquanto o bloco de Maia, que congrega parte da oposição, lançou Baleia Rossi (MDB-SP). A Mesa Diretora decidiu na segunda-feira (18), em uma reunião no Congresso, que a eleição para a escolha do novo presidente da Casa será em 1º de fevereiro, um dia antes do planejado pelo atual presidente.

Imagem ilustrativa da imagem Deputados paranaenses avaliam polarização das eleições na Câmara
| Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados

A disputa de interesses é escancarada. Enquanto cresce a oposição ao governo, a artilharia do Planalto atua de forma intensa para ter no próximo presidente da Câmara um aliado. Entre os parlamentares paranaenses, há uma análise clara do cenário. “Não podemos negar que o governo tem instrumentos poderosos de captação de votos, muitas vezes nada republicanos. O início da aglutinação de forças para as eleições presidenciais de 2022 também influi”, analisa o deputado Rubens Bueno (Cidadania). Mesmo com inclinações de interesses tão claras, o parlamentar aposta que a institucionalidade terá peso. “Creio que o clima dentro da Casa é de independência frente ao Planalto e prevejo que quem assumir a Câmara nos próximos dois anos não poderá fugir das tarefas de promover as reformas administrativa e tributária e continuar aprovando iniciativas para minimizar os efeitos da pandemia”, aposta.

Já na proa da oposição, o líder do PT, o deputado maringaense Enio Verri, não só defende a independência e harmonia dos poderes, como faz campanha contrária ao candidato do Planalto. “Seria muito ruim para o país a eleição de um presidente que tenha esse vínculo com Bolsonaro como o deputado Arthur Lira (PP)”, destaca. Mesmo como rivais históricos, o DEM de Maia e o PT estão convergindo, algo antes inimaginável. “Mesmo que esses dois anos Rodrigo Maia tivesse uma proximidade no campo econômico com o governo, no que se refere ao campo da Democracia, da República, e da Constituição, a divergência foi grande”, e conclui. “Não acho bom, num momento de crise tão profunda, tanto sanitária como social, e um presidente tão ruim como esse, termos um presidente da Câmara que comungue todos os ideais com Bolsonaro”.

GOVERNO

Pela ala governista, o deputado londrinense Emerson Petriv, o Boca Aberta (PROS), critica a polarização entre Lira e Rossi. Ele acredita que a própria imprensa tenha responsabilidade, por dar maior visibilidade aos candidatos que potencialmente têm maiores chances. “Na verdade, há mais candidatos concorrendo, mas só se vê falar dos dois candidatos. Este não é um movimento de dentro da Câmara para fora. Não sendo demérito dos demais, mas Lira e Rossi ficam no foco”, aponta Boca Aberta, que já declara seu voto. “Arthur Lira é apadrinhado pelo Bolsonaro, do qual sou um grande admirador e tenho grande afinidade pelas pautas. Por isso, vou votar no candidato do presidente”, afirma.

Na opinião de Luisa Canziani (PTB), a composição das chapas que disputam a presidência da Câmara reflete o atual momento de polarização do País. A deputada tem um tom pacificador e afirma que as disputas são importantes e necessárias para o fortalecimento da democracia. “É importante que tenhamos uma eleição baseada na discussão de ideias e propostas. Espero que a próxima mesa diretora trabalhe para colocar em votação os projetos que visam o bem dos brasileiros e que tragam a retomada econômica”, define. Ela é centrada quanto às questões que impõem maior urgência. “Acredito que, nos próximos dois anos, o Congresso deve continuar focando nas pautas importantes que precisam ser votadas e necessárias para avançarmos ainda mais, como as reformas administrativa e tributária, o programa de privatizações, além das alterações no novo marco legal do Ensino Profissional e Técnico e no Sistema Nacional de Educação”, conclui.