O gabinete e a casa do deputado estadual Ricardo Arruda (PL) na Assembleia Legislativa do Paraná foram alvo de uma operação de busca e apreensão na manhã desta quarta (25) em uma investigação que apura a possível prática de crimes contra a administração pública. Segundo o Ministério Público do Paraná (MP-PR), há suspeita da prática de “rachadinha”, o repasse de parte dos salários dos assessores para o parlamentar. Além de computadores, foram apreendidas armas na casa de Arruda.

Os mandados foram expedidos pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná e cumpridos por agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPPR, com apoio da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo. Também foram feitas apreensões em endereços ligados ao parlamentar nas cidades de São Paulo e Espírito Santo do Pinhal (SP). O MP-PR não repassou mais informações nem confirmou o itens apreendidos, já que o processo tramita em segredo de Justiça.

A suspeita é que os assessores de Arruda tenham repassado parte de seus salários, daí o nome da operação Fração. De acordo com o MP-PR, são investigados os crimes de concussão (artigo 316 do Código Penal, com pena de dois a oito anos de prisão, além de multa) e lavagem de dinheiro (artigo 1º da Lei nº 9.613, com pena prevista de três a dez anos de prisão, mais multa). A investigação começou em 2020.

Em vídeo divulgado ontem, Arruda atribuiu a operação a uma “perseguição da esquerda” e culpou o Subprocurador-Geral de Justiça para Assuntos Jurídicos do MPRR, Mauro Sérgio Rocha. “Às 6 horas da manhã o Gaeco bate na minha porta, derruba a minha porta e vai também na minha casa em São Paulo, onde mora minha filha, vem no meu gabinete e vai na casa de quatro assessores, um que nem é mais assessor”, disse. “Não é o Ministério Público, é o subprocurador Mauro Rocha, esse sujeito envergonha o Ministério Público”.

O deputado negou que as armas apreendidas sejam irregulares. “Minhas armas são devidamente cadastradas, mas no momento não acharam no sistema da (Polícia) Federal, mesmo com o protocolo de recadastramento das armas. Eles arrumam processo contra você pra te perseguir”, afirmou Arruda. “Se acham que vão me calar, ao contrário, vocês me deixaram mais forte ainda”. Ele disse ainda, sem apresentar provas, que se a operação fosse na casa de deputados do PT seriam encontradas “malas de dinheiro e contrabando”. O MP não quis comentar as acusações do deputado.

Em nota, o advogado de Arruda, Jeffrey Chiquini, disse considerar a operação “desnecessária”. “Uma busca desnecessária, decorrente de uma investigação de 2020, já devidamente elucidada. Tudo já havia sido esclarecido, com comprovação testemunhal e documental, inclusive. Buscaremos entender o real motivo dessa busca. E afirmamos não haver elementos a justificar extremada medida”, disse Chiquini.

OUTRA INVESTIGAÇÃO

Ricardo Arruda é alvo de outra investigação do MPPR, em que é suspeito dos crimes de associação criminosa, peculato e tráfico de influência que teriam sido cometidos entre outubro de 2016 e 2017. Ele teria usado o cargo de deputado para interferir em decisões administrativas do governo do Paraná e teria recebido dinheiro de um empresário e de policiais militares. Arruda teria atuado para reintegrar policiais à corporação, impedir punições ou ajudar em promoções. O deputado nega as acusações.

Ligado à Igreja Mundial do Poder de Deus e apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Arruda costuma atacar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT em seus discursos. Em agosto, apresentou um projeto para tornar Bolsonaro cidadão honorário do Paraná. No ano passado, ele e o deputado Renato Freitas (PT) enfrentaram procedimentos no Conselho de Ética da Assembleia após discutirem, mas os casos foram arquivados.

Parlamentar do PL vira réu por rachadinha

Outro deputado estadual filiado ao PL, Gilberto Ribeiro, virou réu pelos crimes de peculato, apropriação de recursos públicos e concussão. O MPPR apresentou a denúncia a partir de uma investigação de rachadinhas e contratação de funcionários fantasmas na Assembleia. Segundo Ribeiro, a origem do dinheiro foi um depósito de R$ 44 mil referente à venda de um veículo. O valor teria sido dividido entre seus dois filhos. “Não tem absolutamente nada a ver com dinheiro público”, garantiu o deputado, que publicou o contrato de venda do veículo nas redes sociais. Ele disse que a investigação a respeito de uma funcionária que disse ter devolvido parte de seu salário foi arquivada.

Deputado réu por sequestro

O MPPR também denunciou à Justiça o deputado federal Matheus Laiola (União Brasil-PR) pela suposta prática dos crimes de concussão, sequestro e cárcere privado. O crime teria sido cometido por Laiola, que é delegado licenciado da Polícia Civil, e outros três policiais. Segundo a denúncia, em fevereiro de 2019 o grupo teria exigido R$ 50 mil de um dono de uma rede de postos de combustíveis para liberarem um funcionário preso dias antes. Laiola foi chefe da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente de Curitiba.

Os advogados de Laiola, Beno Brandão e Andrey Poubel, negaram as acusações. “O deputado Matheus, no exercício da sua atividade como delegado de polícia, sempre atuou de forma estritamente legal e ética, na defesa dos cidadãos e da causa animal. Assim, é com estranhamento que recebe a notícia do recebimento da denúncia, que corre em segredo de justiça, da qual não foi intimado, deixando claro que a ausência de qualquer prática ilegal será demonstrada no curso do processo”, diz a nota assinada pelos advogados.