A polarização entre petistas e bolsonaristas tem dado o tom na Assembleia Legislativa do Paraná (AL). O deputado estadual Ricardo Arruda (PL) registrou um Boletim de Ocorrência contra outro deputado, Renato Freitas (PT), por suposta ameaça de morte. A ação foi motivada por duas falas do petista, feitas em pronunciamentos nas sessões de segunda (27) e terça-feira (28) da AL. Em seus discursos, Freitas lembrou que Arruda é investigado pelo Ministério Público do Paraná e criticou o adversário político por defender a ação da Guarda Municipal de Curitiba que resultou na morte de um jovem de 17 anos no último sábado (25) na capital.

"Quando, a exemplo do deputado Ricardo Arruda, se desvia do caminho, propaga a mentira, o resultado é a morte", disse Renato Freitas em um de seus discursos, o que foi interpretado como uma ameaça pelo deputado do PL. "Deputado Arruda, arrependa-se. Há tempo enquanto há vida”, afirmou ainda o parlamentar do PT, outra frase que levou Arruda a registrar o boletim de ocorrência.

Em uma sessão há duas semanas, o petista acusou Arruda, que é líder religioso e um dos principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na AL, de espalhar notícias falsas. Minutos antes, o deputado do PL havia dito na tribuna da Assembleia que o ministro da Justiça, Flávio Dino, responde a mais de 200 processos na Justiça, informação falsa que circula em grupos bolsonaristas.

Além de registrar o boletim de ocorrência, Ricardo Arruda ainda solicitou à Corregedoria da Assembleia a instauração de um processo para apurar a possível quebra de decoro por parte de Freitas. “Pugnaremos perante a corregedoria da Assembleia Legislativa a instauração de processo disciplinar por quebra de decoro nas dependências da casa legislativa”, disse o advogado de Arruda, Jeffrey Chiquini. O boletim de ocorrência foi registrado no 3º Distrito Policial de Curitiba.

Em nota, a assessoria de Renato Freitas disse que na sessão de segunda-feira o parlamentar chamou a atenção para o processo a que Arruda responde. Ele é suspeito dos crimes de associação criminosa, peculato e tráfico de influência, conforme denúncia do Ministério Público do Paraná (MPPR). “Dentre os diversos delitos de tráfico de influência denunciados pelo Ministério Público do Paraná, consta a interferência ilegal e imoral do deputado (Arruda), que agiu com vistas a garantir a restituição à PM de policiais expulsos da corporação por terem cometido o crime de homicídio”, diz a nota de Freitas.

Na terça-feira, Arruda insinuou em seu pronunciamento que o jovem morto pela Guarda Municipal no último sábado portava uma faca no momento da ocorrência, versão que ainda está sendo investigada. “Em resposta, Renato relembrou o processo criminal de Arruda e associou a propagação de fake news a um tipo de política que produz a morte de inocentes. Parafraseando versículos bíblicos, Freitas disse ainda que acredita no arrependimento do parlamentar como uma forma de se redimir”, afirma a nota do petista.

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Renato Freitas disse ainda que Arruda cortou suas falas, que estão disponíveis no canal da AL no Youtube, e disse que o deputado do PL o acusou de ter ligações com facções criminosas. O petista também viu racismo na ação. “Arruda imputou, sem apresentar qualquer indício, que Freitas possui envolvimento com facções criminosas. Acusação gravíssima pela qual o parlamentar bolsonarista será responsabilizado”, diz a nota. “É possível vislumbrar na atitude do parlamentar uma das facetas do racismo, que, em nossa sociedade, tende a atribuir a pessoas negras o estigma de perigosas, mesmo quando ocupam espaços de poder”.

No início do mês, o secretário da Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio Teixeira, pediu à Assembleia Legislativa que investigue Renato Freitas por uma fala a respeito da Polícia Militar. No ofício, Teixeira diz que o deputado se referiu aos policiais como “covardes”, “assassinos” e “serviçais do mal”, mas Freitas usou esses termos ao falar sobre ações específicas da PM que resultaram em mortes, uma delas em 2009, que deixou cinco pessoas mortas em Curitiba.

Já Arruda é suspeito dos crimes de associação criminosa, peculato e tráfico de influência que teriam sido cometidos entre outubro de 2016 e 2017, segundo o MP. De acordo com a denúncia, ele teria usado o cargo de deputado para interferir em decisões administrativas do governo do Paraná e teria recebido dinheiro de um empresário e de policiais militares. Arruda teria atuado para reintegrar policiais militares à corporação, impedir punições ou ajudar em promoções.

Ele nega as acusações e diz ser vítima de retaliação dos promotores por ter protocolado um ofício no dia 27 de fevereiro deste ano na AL em que pede informações sobre o pagamento de "diárias e adicionais salariais" a membros do MPPR, o que poderia configurar improbidade administrativa. Os promotores não quiseram comentar as declarações do deputado.

Morte

A morte que motivou a discussão na sessão de terça-feira da AL ocorreu no sábado, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), um dos bairros mais populosos da capital. Caio José Ferreira de Souza Lemes, de 17 anos, foi morto por dois guardas municipais. Segundo o boletim de ocorrência registrado na Polícia Civil, Caio portava uma faca e teria ameaçado os agentes. O caso está sendo investigado pela Corregedoria da Guarda Municipal de Curitiba.