Deficiente visual obtém maior votação
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quarta-feira, 04 de outubro de 2000
Telma Elorza De Londrina
As últimas eleições em Rolândia (25 km a oeste de Londrina) confirmaram a tendência de que o eleitor quer renovação na política e não se deixa mais impressionar por poderio econômico ou assistencialismo. O vereador mais votado da cidade nos últimos 30 anos 1.574 votos gastou apenas R$ 1,5 mil, muita criatividade e sola de sapato em sua campanha. E com um complicador: é cego. O fisioterapeuta José Giuliangeli de Castro, 30 anos, o Zezinho (PSDB), conquistou os eleitores no corpo a corpo. Convenceu. Agora quero me tornar o primeiro presidente deficiente visual de uma Câmara de Vereadores no Brasil, antecipa.
Ser recordista em votações já não é mais novidade para o novo vereador. Nas eleições de 1996, concorreu a uma vaga na Câmara de Rolândia e foi o segundo candidato mais votado, com 905 votos. Não assumiu porque seu partido, o mesmo PSDB de hoje, não atingiu coeficiente necessário. Mas não desanimou. Em vez de mudar de partido, lutei para fortalecer o meu, explica.
Zezinho está acostumado a superar dificuldades. Há sete anos, quando sofreu um acidente automobilístico e ficou cego, sua luta foi para terminar o curso de Fisioterapia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Sua formatura, há quatro anos, foi muito divulgada pela mídia na época.
Casado com a psicológa Carolina, 27 anos, e pai dos gêmeos Pedro e Mateus, 5 anos, trabalhando no Pronto Atendimento Infantil (PAI), em Londrina, o novo vereador concluiu, há anos, que o único jeito de mudar o Brasil seria se envolvendo pessoalmente. Não me conformo com a situação que o meu País está vivendo e nem com a alienação das pessoas que deveriam mudá-lo, afirma.
Para ele, política tem que ser feita com honestidade, integridade, legalidade e, principalmente, solidariedade. Ela é o princípio da democracia, aponta. Sem dinheiro, Zezinho abusou da criatividade. Distribuiu material de campanha reciclado a partir de acetato de radiografias (chapas de raio-x) usadas ; fez discursos relâmpago dentro de ônibus coletivos; expôs suas idéias em empresas, colégios e instituições e, principalmente, andou muito.