RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Dr. Furlan (Cidadania) foi eleito neste domingo (20) prefeito de Macapá, derrotando no segundo turno da eleição Josiel Alcolumbre (DEM), irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Com 99,29% das urnas apuradas, Furlan teve 55,73%, contra 44,27% de Josiel.

Foi o segundo revés político da família Alcolumbre em dezembro, já que o senador viu o STF (Supremo Tribunal Federal) barrar no início do mês a sua possibilidade de reeleição para a presidência da Casa.

A eleição na cidade havia sido adiada por causa da crise energética que afetou o Amapá em novembro, sendo a capital o único município que teve o pleito remarcado. No primeiro turno, no último dia 6, Josiel teve 29,47% dos votos, contra 16,03% do segundo colocado, Dr. Furlan, em disputa pelo segundo lugar apertada --o ex-governador Capi (PSB) terminou em terceiro, com 14,94%.

No mesmo dia 6, foram publicados os votos dos ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, do STF, que se posicionaram contra a reeleição da cúpula do Congresso e sacramentaram o resultado que impediu a reeleição de Davi Alcolumbre. Na ocasião, ele estava em Macapá, engajado na candidatura do irmão.

O senador tomou para si um papel na resolução da crise do apagão, que atingiu em cheio a campanha do irmão. Desde o início, o senador participou de diversas reuniões, chegando a divulgar vídeo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, prometendo solução rápida. No fim de novembro, o presidente do Senado apareceu ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em anúncio de MP que isentou os moradores do estado do pagamento da conta de luz de novembro.

Porém, o tiro acabou saindo pela culatra, já que a demora para a retomada do abastecimento de energia foi benéfica aos opositores.

Os candidatos de oposição aproveitaram a crise e colocaram a conta no governador Waldez Góes (PDT) e no atual prefeito, Clécio Luís (sem partido), aliados de Josiel na disputa. Antes do apagão, o irmão do senador liderava com tranquilidade as pesquisas de intenção de voto na capital do Amapá, mas foi perdendo popularidade conforme a crise se prolongava.

No dia 3 de novembro, um incêndio destruiu os transformadores da subestação de distribuição de energia em Macapá e afetou o fornecimento de eletricidade para 90% da população do estado, que ficou no escuro por cinco dias. O apagão durou até a implementação do rodízio de energia iniciado no dia 7.

Ao todo, foram 22 dias de apagões, transtornos e prejuízos até que o governo federal anunciasse, em 24 de novembro, o fim do rodízio de energia em 14 das 16 cidades do Amapá. No período, Macapá foi a mais afetada, o que embaosu a decisão da Justiça eleitoral de adiar a eleição municipal.

O adiamento foi alvo de queixas da segunda colocada nas pesquisas à época, Patrícia Ferraz (Podemos), e mudanças de regras que permitiram o reinício do horário eleitoral e o aumento do limite de gastos foram questionados também por outros partidos.

Enquanto isso, no STF, a votação teve um placar de 6 a 5 contra a reeleição de Alcolumbre, e 7 a 4 contra a de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidente da Câmara. Para a maioria dos ministros, a recondução foi considerada inconstitucional.

A Constituição proíbe os chefes das Casas de tentarem se reeleger para a presidência das Casas em uma mesma legislatura --a atual começou em fevereiro de 2019 e vai até fevereiro de 2023.

Apesar da proibição prevista na Constitução, a postura de Maia e Alcolumbre nos enfrentamentos do presidente Jair Bolsonaro com o Supremo, mudanças constitucionais recentes e articulações políticas nos bastidores vinham alimentando a esperança de ambos de continuarem à frente do Congresso, com o aval de parte dos ministros do Supremo.

A decisão do STF de proibir a reeleição da atual cúpula do Congresso gerou uma crise dentro do DEM e teve como consequência um rompimento entre Alcolumbre e Maia. A iniciativa de interromper o diálogo partiu do senador, que atribuiu ao deputado parte da culpa pela derrota. O diagnóstico tinha o apoio de outros integrantes de seu partido.

Na noite do dia 8 de dezembro, o senador reuniu-se com Jair Bolsonaro. Depois, disse a aliados ter ouvido do presidente que o Planalto apoiará o nome escolhido por Alcolumbre para sua sucessão. Rodrigo Pacheco (DEM-MG), seu correligionário, foi o nome escolhido posteriormente por ele para o comando do Senado.

A escolha é justamente o que tem potencial de conflagrar um novo desentendimento entre Alcolumbre e Maia, pois o presidente da Câmara tem preferência por lançar a candidatura de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Parte da cúpula do DEM, no entanto, prefere o nome de Baleia Rossi (MDB-SP).

Para amenizar a derrota no STF, o presidente Jair Bolsonaro também sondou Alcolumbre para assumir ao menos três ministérios. Entre eles, a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política. No entanto, em conversas reservadas, o senador descartou assumir qualquer cargo no primeiro escalão antes da eleição no Senado, no início de fevereiro.