São Paulo - O novo advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, afirmou nesta quarta-feira (16) que ele é um "militar cumpridor de ordens". Bitencourt assumiu a defesa de Cid na noite desta terça-feira (15). É a terceira troca na defesa do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

Ele declarou que Cid é um oficial "que cumpre ordens acima de tudo" e que militares também cumprem ordens ilegais e injustas. A declaração foi dada em entrevista à GloboNews. Bitencourt também disse que Cid é um "grande injustificado". Ele quer se encontrar com o militar para definir uma estratégia de defesa.

Cid está preso desde maio. Ele é suspeito de participar do esquema de desvio e venda de joias recebidas pela Presidência e adulteração de certificados de vacina. "Ordem ilegal, ordem injusta, militar cumpre também. Acho que não pode é cumprir ordem criminosa. Vamos avaliar onde apareceu [ordem criminosa], se apareceu, se ele tinha consciência disso, mas são questões de foro íntimo", disse.

"Mauro Cid é um militar, ele cumpre ordens acima de tudo. Vamos examinar os fatos, saber quem é quem, até onde vai a responsabilidade de um e de outro. Ele é um grande injustiçado, está indevidamente recolhido no Exército. É absurdo que esteja trancafiado dentro de uma cela dentro do Exército", acrescentou o advogado.

A possibilidade de delação premiada de Mauro Cid "não está no horizonte" da defesa, mas não é descartada. É como considera Bitencourt, em entrevista à CNN Brasil, também na manhã de hoje. Ele disse que reconhece a delação como "instituto jurídico legal", mas a vê como "aberração" e que iria tratar da possibilidade com Cid.

INVESTIGAÇÃO SOBRE DESVIO DE JOIAS

Na sexta-feira (11), operação da PF mirou Cid e seu pai, o general Mauro Lourena Cid, além do advogado Frederick Wassef e do assessor Osmar Crivelatti. Segundo a PF, Cid vendeu dois relógios de luxo em junho de 2022, nos EUA, por US$ 68 mil. Os objetos haviam sido presenteados ao Brasil. Os valores foram depositados na conta de seu pai no exterior, o general Cid, mostrou a investigação.

Uma nova tentativa de vender joias nos EUA ocorreu em fevereiro deste ano. Segundo a PF, um kit de ouro saiu do país ilegalmente em dezembro de 2022, rumo aos EUA, para onde Bolsonaro e comitiva viajaram no fim do mandato. Em fevereiro, as joias foram leiloadas, mas não houve interessados.

A PF aponta que os recursos gerados com as venda dos bens eram repassados a Bolsonaro em dinheiro vivo. Outros indícios da participação do ex-presidente se deve ao fato de as joias serem levadas ao exterior durante viagens presidenciais em aviões da FAB.

Os valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores, conforme trecho da manifestação da PF ao STF (Supremo Tribunal Federal)

A PF pediu a quebra do sigilo fiscal e bancário de Bolsonaro e o da ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

A defesa do ex-presidente afirmou que o ex-presidente "jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos" e colocou a movimentação bancária de Bolsonaro à disposição das autoridades.

OPERAÇÃO "RESGATE"

Mauro Cid também atuou em uma "operação resgate" sigilosa para recuperar um kit de joias presenteado pela Arábia Saudita. Um relógio que compunha o kit já havia sido vendido.

A "operação resgate" foi motivada por uma decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que mandou Bolsonaro devolver as joias presenteadas ao Brasil.

O kit foi devolvido em 4 de abril, mas não houve menção de que as joias haviam saído do Brasil ou que haviam sido comercializadas.

"A operação encoberta permitiu que, até o presente momento, as autoridades brasileiras não tivessem conhecimento que os bens foram alienados no exterior, descumprindo os normativos legais, com o objetivo de enriquecimento ilícito do ex-Presidente JAIR BOLSONARO, e posteriormente recuperados para serem devolvidos ao Estado brasileiro", afirmou a Polícia Federal, em manifestação ao STF.