Mesmo depois de perder suas duas vagas no ministério de FHC, com a demissão dos ministros Rodolpho Tourinho (Minas e Energia) e Waldeck Ornélas (Previdência Social), o senador Antonio Carlos Magalhães ainda é o grande latifundiário do poder. Sempre ao lado da elite do País em suas quase cinco décadas de vida pública, ACM construiu uma rede própria de poder com cargos em todas as esferas do Executivo federal, que vão além dos limites da Bahia.
Mas agora isolado em seu partido e declarado opositor ao governo, o poderio administrativo de ACM pode estar com os dias contados. Ele próprio não tem dúvida de que sua posição tem esse preço: perder os outros postos que detém no governo é uma questão de tempo.
Desfalcado dos dois postos mais nobres de sua cota de poder, ACM começa a semana mantendo no cargo outros indicados, os presidentes da Eletrobras, Firmino Ferreira Sampaio Neto; do INSS, Crésio Rolim de Mattos; e da Dataprev, Ramon Eduardo Barros Barreto. Também detém duas diretorias do BNDES, seis superintendências e gerências de órgãos federais na Bahia, além de cargos de segundo e terceiro escalões espalhados nesses órgãos. Isto sem contar com outros 16 postos federais na Bahia e em Brasília, nas mãos de seus aliados.
Uma reação de solidariedade a ACM vinda da bancada baiana – que no primeiro momento preferiu ficar totalmente fora da cena política – seria o sinal esperado pelo governo para reduzir os espaços no Executivo que têm a influência do senador baiano. ‘‘Não fica pedra sobre pedra’’, observou um pefelista aliado de Antonio Carlos. ‘‘Ninguém vai para o suicídio com ACM’’, apostou um auxiliar do governo no Congresso.
FHC, no entanto, não pretende fazer qualquer troca de quadros em sua administração de forma ‘‘atropelada’’, garante um alto assessor palaciano. Por isso mesmo, não se prevê uma saída sumária dos presidentes da Eletrobras e do INSS. A mais de um aliado de sua base política, FHC comentou sua intenção de ‘‘submergir’’ durante o feriado de Carnaval na fazenda em Buritis (MG).
A dirigentes do PFL, o presidente já deu garantias de que as duas cadeiras ministeriais vagas na sexta-feira ficarão em poder do partido. Esta é uma sinalização de que o governo quer ‘‘arrumar’’ seu relacionamento com o PFL.
Fernando Henrique acenou também ao PMDB, garantindo que seus ministros serão preservados. Segundo explicou um assessor do Planalto, não foi por acaso que o presidente incluiu, na nota em que explicou a demissão dos dois ministros de ACM, as observações sobre procedimentos tomados pelo governo com relação ao DNER e à Sudam – comandados pelo PMDB. Sua intenção era não deixar exclusivamente nas mãos de ACM a bandeira da moralidade administrativa e do combate à corrupção.
Esse mesmo assessor esclareceu que, para tirar a conotação de que o governo promoveria um leilão de cargos na próxima reforma ministerial, o próprio presidente insistiu na estratégia de ‘‘repactuar’’ a sua relação com os partidos aliados, a partir do programa de ação de governo. ‘‘Como o governo inicia os dois últimos anos de uma gestão de dois mandatos, independentemente da crise com ACM, a decisão pela repactuação já estava tomada’’, explica.