Inflação acima dos 10%, desemprego, perda do poder de compra e aumento das desigualdades. Os indicadores sociais e econômicos do Brasil têm forte influência sobre o grau de insatisfação do eleitorado sobre os políticos. Esse retrato foi medido na pesquisa do Datafolha durante a semana, que aponta que apenas 10% dos entrevistados disseram considerar bom ou ótimo o trabalho do Congresso.

Imagem ilustrativa da imagem Crise agrava grau de insatisfação com atuação do Congresso
| Foto: Pedro França/Agência Senado

Para o professor de ética e filosofia política da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Clodomiro Bannwart Junior a avaliação negativa decorre da percepção da realidade social e econômica que tem se deteriorado. "A ação política do Executivo e do Congresso não tem sido suficientes . Há uma sensibilidade política que passa necessariamente pelo bolso", avalia.

O deputado federal Ênio Verri (PT-PR) também pontua que a crise econômica, que ampliou desigualdades, também tem reflexo na percepção do eleitor sobre o Congresso. "A maioria da população não tem muita clareza do papel do Executivo e do Legislativo e ela avalia a política como um todo. Essa desaprovação ao Congresso tem relação com a vida da população, como a vida está muito dura, o eleitor avalia o que está vivendo."

Já a deputada Luísa Canziani (PTB-PR) justifica que a pesquisa mostra que o Congresso não está fazendo a correta comunicação do trabalho desenvolvido na Casa. "Acredito que essa avaliação ocorre porque não estamos conseguindo levar todo o trabalho do Congresso Nacional ao conhecimento da população. Talvez a falha esteja nesse ponto."

O Datafolha mostra ainda que o número de brasileiros que avalia como ruim ou péssimo o trabalho do Congresso teve uma oscilação para baixo, passando de 44% na última pesquisa, em setembro, para 41%, dentro da margem de erro. Os que consideram regular a atuação dos parlamentares foram de 40% para 45%. A aprovação ao trabalho de deputados e senadores chegou ao mais baixo patamar na atual legislatura, iniciada em 2019, segundo a pesquisa do Datafolha realizada dos dias 13 a 16 de dezembro.

'RENOVAÇÃO X QUALIDADE'

O índice de renovação na Câmara dos Deputados nas últimas eleições de 2018 foi de 47,37%. Apesar de ser proporcionalmente a maior renovação desde a eleição da Assembleia Constituinte, em 1986, a dança das cadeiras também não foi suficiente para arejar ideais e as velhas práticas do Congresso, segundo o professor da UEL. "O centrão mantém um ritmo de 'imobilismo em movimento', termo usado pelo professor Marcos Nobre. O centrão não se ocupa de analisar projetos que tragam benefício ao país, mas vende apoio a qualquer mandatário de plantão. Se, por um lado, o centrão teve o mérito de frear os arroubos antidemocráticos do presidente, por outro, cobra um preço muito caro para manter-se fidelizado" disse Bannwart.

Verri também lembra que parte de renovação foi de herdeiros de políticos. "São jovens de idade, filhos de deputados que estão há décadas. É uma juventude que reproduz atitudes políticas daqueles parentes que os elegeram" Para o deputado petista, ainda há radicalização no temas como armamento, entre outras pautas que foram levadas para o debate ideológico . "Há todo um debate, uma vontade de mudar, mas não há uma grande maioria para fazer as mudanças que o Brasil precisa."

SOB NOVA DIREÇÃO

Desde fevereiro, a Câmara está sob o comando de Arthur Lira (PP-AL) e o Senado, de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) .O percentual de 10% de aprovação de 2021 é bem menor também do que agosto de 2020 (17%), data da última pesquisa que coincidiu com as gestões de Rodrigo Maia (sem partido-RJ) na Câmara e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) no Senado.

"O Maia era liberal, mas nós do campo esquerda conseguimos construir grandes avanços. Já Lira, não temos essa mesma, perspectiva. Ele é um homem que cumpre acordos, a linha que segue como líder do centrão é muito pesada e muito cara ao Brasil. Não é só a presidência dele, o centrão como um todo faz com que a avaliação da Câmara seja muito baixa até porque o centrão não tem projeto de país. Cada deputado está preocupado com seu projeto local, o único foco é conseguir mais emendas e distribuir para sua região e se reeleger. Essa visão localizada atrapalha a construção de políticas públicas para o país", afirma Verri.

Já Luísa Canziani considera que sob o comando do presidente Arthur Lira, a Câmara avançou em algumas pautas que estavam travadas. "Aprovamos o marco legal do saneamento, das ferrovias, de desenvolvimento e uso da inteligência artificial, a regulamentação do Fundeb, entre vários outros projetos que contribuem diretamente para o desenvolvimento do País."

INFLUÊNCIA NAS ELEIÇÕES

O analista político, entretanto, pondera que a avaliação negativa sobre o Congresso neste final de ano não terá forte influência em outubro de 2022, já que há outros fatores neste jogo. "Como os deputados federais terão recursos oriundos de parte do orçamento para investir em suas bases e também muito dinheiro do 'fundão' de campanha, a probabilidade de vitória na próxima eleição aumenta consideravelmente. A crítica que se faz ao Congresso se dilui na eleição, já que os deputados concorrem individualmente e em regiões distintas, com apoio de prefeitos e vereadores que se transformam em cabos eleitores de primeira grandeza" diz Bannwart.