CPI mostra polícia mergulhada na droga
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terça-feira, 29 de fevereiro de 2000
Leandro Donatti, James Alberti e<br> Rubens Burigo Neto - De Curitiba
Os primeiros depoimentos colhidos ontem, em Curitiba, pela CPI do Narcotráfico revelam que a Polícia do Paraná está mergulhada na droga. Testemunhas convocadas acusaram em seus depoimentos o delegado geral da Polícia Civil, João Ricardo Képpes de Noronha; o ex-delegado geral da Polícia Civil Newton Rocha; outros quatro delegados; 19 policiais; e o empresário de Araucária, Issan Hussein, de participarem do crime organizado. Os chefes do narcotráfico no Estado, segundo os depoimentos acompanhados pela Folha até às 22h30, são os policiais Mauro Canuto, Edimir, Homero, Samir e o empresário Issan.
O relator da CPI, Moroni Torgan (PFL-CE), não acredita que os policiais estejam por trás do comando da droga. Ele disse ontem que a CPI fará um cruzamento de dados para verificar quem deu cobertura ao esquema. Logicamente eles não são os cabeças da organização. Se fossem os cabeças não teriam contato direto com os traficantes e usuários, declarou. Torgan disse que o Paraná é um dos Estados que apresentou o maior número de policiais envolvidos. O relator da CPI comentou que a comissão não deixará de investigar nada.
A CPI previa para ontem à noite a prisão de pelo menos duas pessoas, comprovadamente envolvidas com o narcotráfico. E pretendia ouvir ainda alguns dos acusados. Na fila de espera, para serem sabatinados, estavam o empresário de Araucária e os policiais Edimir, Reginaldo, Germano e Samir. O delegado geral Ricardo Noronha será convocado para depor nas próximas horas, conforme assegurou ontem o relator da CPI. Procurado pela Folha, para dar a sua versão sobre as acusações, Noronha respondeu através de sua assessoria de imprensa que aguarda o resultado final da CPI para se pronunciar. Os outros delegados citados pela testemunha não foram encontrados até o fechamento.
O governo do Estado já previa que a CPI iria detonar a polícia estadual. Porém, não pensou que os depoimentos contra Ricardo Noronha e policiais civis seriam tão contundentes, como prometeram nos últimos dias o deputado federal Roque Zimmermann (PT) o Padre Roque o delegado do Grupo Fera, Adauto de Oliveira; e o presidente da CEI da Assembléia, Ângelo Vanhoni (PT). Até às 22h30 de ontem, nenhum depoimento ligava deputados ou juízes do Paraná ao narcotráfico.
O primeiro dia de CPI em Curitiba foi bastante tumultuado. A tomada de depoimentos começou com cinco horas de atraso, por volta das 19 horas. O presidente da CPI, Magno Malta (PTB-ES), que era para desembarcar no aeroporto Afonso Pena ao meio-dia, chegou no Plenarinho da Assembléia Legislativa às 18h30. Corre-corre de jornalistas e o entra e sai de policiais federais e escoltas militares, em pleno Centro Cívico, também deram o tom do primeiro dia de diligências. A CPI fica em Curitiba até o final da tarde de amanhã e promete avançar no mapeamento da Conexão Paraná e em investigações sobre a lavagem de dinheiro.