O Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial protocolou uma representação na Câmara pedindo que o mandato do vereador Claudinei Pereira dos Santos, o Santão (PSC), seja cassado. A solicitação feita no final de agosto se baseia em uma ironia do parlamentar com a linguagem neutra durante a sessão de 5 de agosto.

A Câmara realizava um ato solene sobre o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio e recebia diversas lideranças que lidam todos os dias com o tema. Na hora de seu discurso, a gestora municipal de Promoção da Igualdade Racial de Londrina, Maria de Fátima Beraldo, cumprimentou quem acompanhava a sessão com a seguinte declaração: "Boa tarde a todos, a todas e a todes".

Imagem ilustrativa da imagem Conselho quer cassação de vereador por ironia com linguagem neutra
| Foto: Devanir Parra/CML

O termo "todes" refere-se à inclusão de pessoas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino. Santão ironizou. "Nunca vi a pessoa cumprimentar um achocolatado, mas talvez seja uma questão de cultura. Eu vou me despedir então dizendo boa tarde aos 'tódis', 'nescaus' ou 'nescais', aos cafés, aos chás, derivados de leite em geral".

Para a presidente do conselho, Fiama Heloisa dos Santos, a fala do parlamentar foi racista. "Sem dúvida foi um ato de racismo. A gente acha que ser racista é dizer que não quer ficar ao lado da pessoa porque ela é preta, mas não é só isso. O racismo estrutural vem de uma maneira bem sutil e com brincadeirinhas, com tons de deboche. Além disso, nos afetou porque a mulher atingida é gestora de políticas de igualdade racial em Londrina", explicou.

Citando um dos artigos do Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara no documento de quatro páginas que pede punições, a entidade afirma que Santão utilizou "expressões ofensivas, discriminatórias ou preconceituosas durante o uso da palavra ou no relacionamento com seus pares ou com o público durante os trabalhos legislativos".

Procurado pela FOLHA, Santão informou que só vai se manifestar no processo. A denúncia ainda não foi recebida pela Mesa Executiva. Se isso acontecer, segue para parecer da Assessoria Jurídica e, após, manifestação do vereador. Em seguida, a Mesa decide se arquiva a representação ou a acata e a envia ao Conselho de Ética.