Curitiba - A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a nove anos e meio de prisão, no processo que envolve a compra e a reforma de um apartamento triplex no Guarujá, litoral sul de São Paulo, repercutiu nessa quarta-feira (12) na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná, que realizou sua última sessão do semestre. Dos 54 deputados estaduais, apenas três são do PT, partido de Lula. A maioria dos parlamentares integra a base de apoio ao governador Beto Richa (PSDB), adversário político do petista.

Presidente da Casa e ainda do PSDB estadual, Ademar Traiano (PSDB) disse que a decisão já era há muito tempo esperada. "Acredito eu que o Moro [teve] muito critério. É um juiz sábio, um juiz que tem em suas decisões praticamente quase nenhuma reformada, e a sua decisão é em cima do que está escrito no processo. Não se pode julgar nada sem elementos probatórios. Portanto, a condenação do Lula imagino que tenha elementos suficientes para que o juiz Moro pudesse aplicar a pena que aplicou", opinou.


O tucano frisou que houve mobilização de todos os segmentos organizados, em função da notícia. "A Bolsa de Valores já deu uma mudada com isso, porque passa também a dar segurança para o futuro. Se Lula for condenado e mantida a sua condenação no TRF (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), é lógico que o processo político viverá outro momento, sem ele participando", afirmou. Stephanes Jr. (PSDB) também afirmou se tratar de um "dia triste". "Temos hoje um ex-presidente condenado por corrupção". Segundo ele, "tudo o que a esquerda trouxe ao mundo foi miséria, ditadura e assassinatos (...) E aqui no Brasil roubalheira, com o PT no poder".

"A Justiça está aí para julgar. Se o Lula fez alguma coisa errada e tiverem provas, que pague pelo que fez. Se não tiver, a decisão do juiz Sérgio Moro poderá ser reformada em segundo grau. Mas acho que estamos passando por um processo pedagógico nesse País. Tudo o que está acontecendo é no sentido de que nos convençamos de que não podemos errar. É preciso acertar. Acabou o espaço para coisas erradas, tanto com o Lula como com a Dilma [Rousseff], o [Michel] Temer, o Aecio [Neves] e o Beto Richa. É uma grande lição de que acabou a farra e tem de se agir com responsabilidade", ponderou o líder do PMDB, Nereu Moura.


O líder do governo Beto na Casa, Luiz Cláudio Romanelli (PSB), por outro lado, criticou a decisão. "Eu entendo que obviamente o juiz é a autoridade competente para julgar e analisou todos os aspectos. A mim parece que nesse caso não cabia condenação, por conta de que ficou claro que houve uma tentativa da empreiteira OAS de fazer a doação do imóvel, mas o ex-presidente não aceitou, por alguma razão que eu não sei exatamente qual é (...) Creio eu que mais do que tudo foi uma condenação com viés político, até poque já era isso que estava anunciado. Nenhuma surpresa."

PETISTAS LAMENTAM

Para Péricles de Mello (PT), Moro cumpriu a missão que vinha perseguindo desde o início da Lava Jato. "Foi uma condenação subjetiva, porque as provas que ele alega ter são unicamente palavras de delatores. Esse apartamento nunca foi de Lula e de sua esposa." De acordo com o parlamentar, o fato de a sentença ser publicada na mesma data em que o Senado aprovou a reforma trabalhista foi uma "coincidência triste e trágica". "Nesse mesmo dia, se condena a maior liderança operária da história do Brasil e um dos maiores líderes do mundo (...) Há uma tentativa de transformar Lula e o PT em grandes bodes expiatórios da política brasileira."


Líder do PT na AL, Professor Lemos lamentou a condenação. "Temos firme convicção de que o ex-presidente Lula nas instâncias superiores conseguirá anular essa decisão, para o bem do povo brasileiro, especialmente da classe trabalhadora. Nós precisamos que o Lula fique habilitado para disputar as eleições do ano que vem. Ele já está em primeiro lugar nas pesquisas. Certamente, sendo eleito para presidir o Brasil novamente vai retomar o crescimento e o desenvolvimento, fazendo com que o Brasil volte a ser um País soberano diante das relações internacionais."

Assim como Péricles, o líder da oposição, Tadeu Veneri (PT), falou sobre "dois fatos inusitados" acontecerem quase que simultaneamente. "Isso nos chama a atenção. Quando o mundo todo está debatendo o que ocorreu no Senado - a tragédia, o embuste chamado reforma trabalhista, num País que tem 14 milhões de desempregados e que sequer consegue pagar um salário mínimo decente à maioria da população -, vem a farsa: a condenação do senhor Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex", discursou.