BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) considera divulgar o conteúdo de mensagens e áudios trocados com o ex-ministro da Justiça Sergio Moro em uma tentativa de contra-ataque às acusações feitas pelo ex-juiz da Lava Jato.

Nesta terça-feira (5), foi divulgada a íntegra do depoimento prestado por Moro no sábado (2).

O ex-ministro falou em inquérito conduzido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que investiga se houve tentativa de Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal.

Nos últimos dias, o presidente disse a amigos e aliados, segundo relatos feitos à reportagem, que se sentia aliviado por não ter apagado as mensagens trocadas com o então ministro ao longo do governo.

Para resguardar o sigilo das conversas, Bolsonaro tem como hábito apagar de seu celular muitos de seus diálogos com ministros e deputados.

No fim de semana, de acordo com um auxiliar palaciano, Bolsonaro avaliou que pode, inclusive, divulgar trechos do material nas redes sociais caso não concorde com a interpretação feita por Moro sobre conversas travadas entre os dois.

A ideia seria, assim, fazer um contraponto à versão do ex-juiz.

Segundo um amigo do presidente, Bolsonaro disse que se esqueceu de eliminar as conversas com Moro e ressaltou ter ao menos uma ideia do que o ex-ministro usou para acusá-lo.​

A quem o visitou nos últimos dias, o presidente tem repetido que Moro não tem provas e o mais sensível que há nos diálogos entre eles são palavrões proferidos pelo presidente.

O chefe do Executivo reclama da forma como o ex-ministro saiu do governo, porque afirma que tentou conversar com ele e até com o ex-diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo durante os três dias que antecedera a demissão de Moro.

O ex-ministro entregou à PF o histórico de conversas recentes com Bolsonaro pelo WhatsApp. O material inclui o diálogo em que o presidente pressiona pela saída de Valeixo da diretoria-geral da PF.

No depoimento de sábado, Moro repassou ainda o conteúdo das conversas com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do presidente.

Numa das mensagens já reveladas pelo ex-ministro, a congressista tenta interceder para que ele fique no governo em troca de uma nomeação ao Supremo.

Todo o histórico de conversa entre Moro e Bolsonaro foi copiado pelos investigadores que anexaram à investigação aberta pela PGR (Procuradoria Geral de República) para apurar se o presidente tentou ou não interferir em investigações da PF.

Parte da conversa foi apresentada por Moro ao Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 24, logo após o presidente o chamar de mentiroso.

Na troca de mensagens, Bolsonaro lhe envia uma reportagem do site O Antagonista intitulada "PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas".

Em seguida, o mandatário escreve: "Mais um motivo para a troca", se referindo à sua intenção de tirar Valeixo do comando da corporação.

Moro também citou no depoimento, que durou mais de 8 horas, uma reunião que teve com outros ministros na qual Bolsonaro ameaçou demiti-lo.

Ministros de outras pastas confirmaram à reportagem o encontro, dizem que Bolsonaro não tratou apenas do cargo de chefe da PF. Teria falado genericamente, mas em recado explícito para Moro.​