A Comissão Especial da Assembléia Legislativa, constituída na semana passada para acompanhar as investigações do Ministério Público (MP) sobre os desvios de recursos da Prefeitura de Maringá, começa a trabalhar hoje. Os deputados embarcam às 7 horas com destino a Maringá, para uma série de visitas que incluem a prefeitura, Câmara Municipal, Justiça Federal e MP. O objetivo é coletar documentos e informações sobre os gastos com a campanha eleitoral de 1998.
A decisão de criar a comissão – formada por quatro deputados da base de sustentação ao governo e três da oposição – foi tomada depois que o ex-secretário de Fazenda de Maringá Luis Antônio Paolicchi, disse em depoimento à Justiça Federal, no dia 23 de fevereiro, que a campanha para reeleição do governador Jaime Lerner (PFL) e do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), em 98, receberam injeção de recursos públicos.
O Palácio Iguaçu rechaça a declaração e afirma que as contas do governador estão à disposição no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), e que o comitê estava centralizado em Curitiba, de forma que ninguém em Maringá tinha autorização para angariar recursos para a campanha. O senador Alvaro Dias classifica as declarações de Paolicchi como ‘‘absurdas’’ e é enfático ao afirmar que não tem relação nenhuma com o esquema e já enviou suas contas de campanhas, aprovadas pelo TRE, à Justiça Federal.
Paolicchi afirmou ainda que deputados estaduais foram beneficiados com dinheiro da prefeitura, citando Serafina Carrilho (PL) e Ricardo Maia (PSB). Os parlamentares negam envolvimento no esquema e estão na mira do Conselho de Ética da Assembléia.
Os integrantes da comissão pretendem passar o dia todo em Maringá, conversando com representantes do MP e da Justiça para saber em que pontos podem ajudar. ‘‘Não vamos nos limitar a simplesmente acompanhar o caso. Vamos investigar’’, disse Nereu Moura, líder do PMDB na Casa. De acordo com o deputado José Maria Ferreira (PSDB), o interesse maior é em relação a documentos referentes ao período pré-eleitoral (97 e 98). ‘‘Precisamos nos inteirar dos detalhes e saber quem eram os envolvidos na campanha’’, disse. ‘‘Não podemos admitir que dinheiro público seja desperdiçado dessa forma’’, emendou o único tucano da oposição.
O retorno a Curitiba está previsto para 19h30. Amanhã, os deputados terão que se debruçar sobre o material e avaliar quais serão os próximos passos. O presidente da comissão, Hermes Fonseca (PT), promete aprofundar as apurações sobre o caso. A oposição insiste no discurso que pode tentar o impeachment do governador. O deputado Irineu Colombo (PT) está coletando dados e diz que pode apresentar a proposta de criação de uma comissão processante sozinho, caso não consiga apoio.
O depoimento do ex-secretário detonou uma crise política no Estado. O governador jogou a culpa dos desvios na oposição. ‘‘A que partido pertencia o ex-prefeito de Maringá?’’, questionou, depois de afirmar que não tem nada a ver com o esquema de Maringá. A bancada tucana na Assembléia (formada por seis deputados) ficou irritada e cogitou a possibilidade de deixar a base de sustentação ao governo, mas decidiu permanecer entre os aliados.
O ex-secretário de Fazenda está preso em Maringá. Ele está sendo investigado pelo Ministério Público por suspeita de desvio de recursos públicos. O Tribunal de Contas do Estado (TC) detectou rombo de R$ 54 milhões em Maringá, de 97 a julho do ano passado. O período corresponde à gestão do ex-prefeito Jairo Gianoto (ex-PSDB, hoje sem partido). Na gestão do antecessor de Gianoto, Said Ferreira (93-96), o TC contabiliza desvios próximos a R$ 15 milhões.