"A diferença vai muito além da letra "h", dizem os dirigentes do PDT (Partido Democrático Trabalhista) sobre a quase homônima da deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) que será lançada candidata à Câmara Municipal de São Paulo neste ano.

A aspirante a vereadora Thabata Ganga, 26, honrará a ideologia da legenda e assumirá a defesa dos trabalhadores, segundo a cúpula da sigla –a mesma que acusou a parlamentar federal de fazer o oposto disso quando votou a favor da reforma da Previdência.

A "Tabata do bem", como a novata em disputas eleitorais foi apelidada nos bastidores, simboliza uma demanda do PDT para o pleito de outubro: a de apresentar jovens comprometidos com a história do partido, cujas referências maiores são Getúlio Vargas e Leonel Brizola.

O plano é que 30% dos 83 postulantes a vereador na capital paulista tenham abaixo de 35 anos, formando a bancada da "juventude trabalhista". Nas ruas e redes, eles deverão contar com o reforço do ex-presidenciável Ciro Gomes.

No grupo de pré-candidatos estão também o presidente da Juventude Socialista (o núcleo de jovens do partido), Gabriel Cassiano, 23 –que atuou para filiar Amaral em 2018–, e Leticia Gabriella, 24 –que participou ativamente da campanha da hoje deputada, como assessora de comunicação.

Pupilo de Ciro, Cassiano agora se coloca como um "anti-Tabata", no que diz respeito a alinhamento com a pauta trabalhista. Leticia é do bloco dos que se decepcionaram com a parlamentar que, aos 24 anos, foi a sexta mais votada do estado. Ela recebeu 264.450 votos (quase metade disso na capital).

Mesmo rompida com a sigla e em litígio judicial para tentar se desfiliar sem perder o mandato, a deputada deve pautar indiretamente a campanha municipal do partido.

Tida como símbolo de renovação da legenda, e rapidamente cotada para disputar a Prefeitura de São Paulo, Amaral caiu em descrédito para parte da esquerda ao se mostrar favorável à reforma previdenciária, no ano passado.

A chapa de candidatos a vereador passou então a ser tratada pelos pedetistas como uma oportunidade de reconciliação com a parcela do eleitorado frustrada pelo apoio da parlamentar à bandeira do governo Jair Bolsonaro (sem partido). O PDT não tem nenhum representante na atual legislatura da Câmara Municipal.

"Não gosto disso de 'do bem' ou 'do mal'. Prefiro dizer que sou a 'Tabata diferente'", diz Ganga, ela própria uma eleitora arrependida de Amaral.

A pré-candidata, no entanto, tem lá suas semelhanças com a original: além de ser mulher e jovem, atua na educação e usará esse tema e a ciência como motes de campanha.

Ex-militante do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e engajada em causas estudantis, a engenheira biomédica se aproximou do PDT em 2018. Já no início, a coincidência do nome chamou a atenção e suscitou a ideia de encarar as urnas. Finalmente convencida, ela se filiou no início deste ano.

Uma ala chegou a defender que Ganga mudasse o nome para concorrer ou usasse só o sobrenome. "Mas o Ciro me disse para não ter vergonha do meu nome e mostrar que não sou igual a ela", conta. "Sou trabalhista e sou de esquerda."

Segundo Cassiano, "o PDT entendeu que é hora de buscar [candidatos] dentro, e não fora". No partido desde 2017, o aluno de economia da PUC-SP é aposta dos pedetistas e tem reivindicado para si o papel de antagonista de Amaral.

Sua fala faz menção aos caminhos que a outrora correligionária percorreu para chegar à sigla. Fundadora do movimento Acredito, pró-renovação política, e aluna do RenovaBR, iniciativa privada para formação de candidatos, ela se filiou no limite do prazo da Justiça Eleitoral, em abril de 2018.

Cassiano, que se candidatou a deputado estadual em 2018 e teve 10.338 votos, também foi apadrinhado pelo RenovaBR. O programa se declara neutro, e o universitário diz que a participação não mudou seu pensamento. O PDT passou a impedir integrantes de entrar em iniciativas do tipo.

Leticia, que trabalhou na campanha de Amaral, se afastou dela. "Ela foi considerada traidora, mas não houve um incentivo dos líderes do partido para fomentar ataques. Foi algo da militância", afirma.

Negra e moradora da periferia, a estudante de direito e ativista da Educafro (ONG de educação de negros) se filiou à sigla em 2019. "Ela [Amaral] errou na Previdência. Foi uma medida que atingiu toda a classe trabalhadora", critica.

Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi diz que a sigla teve "uma belíssima experiência" com Tabata, "que começou muito bem". "Mas ela mudou a rota no meio do caminho, votou contra a própria origem."

Lupi afirma que haverá esforço para se certificar de que os novos candidatos estejam afinados com a legenda, embora o controle total seja impossível. "É muito difícil [prever desvios]. Se existisse antídoto contra traição, nenhum casal se separaria no mundo."

Procurada pela Folha, Amaral não quis comentar as articulações eleitorais do PDT. Ela sempre falou que o partido foi sua escolha, sobretudo, pela preocupação com educação. O processo que move no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a legenda terá a primeira audiência em 5 de março.

Na ação, ela alega perseguição; o PDT a acusa de infidelidade partidária, por desobedecer ao fechamento de questão contra a reforma.

Na eleição municipal em São Paulo, a deputada apoiará candidatas egressas do Vamos Juntas, movimento que criou para estimular a presença feminina na política.