SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A cobertura da imprensa sobre o coronavírus é exagerada com o objetivo de derrubar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e os governadores têm usado politicamente a pandemia. Essas são duas das opiniões que têm ganhado as contas de influenciadores bolsonaristas em redes sociais nos últimos dias.

A adoção da expressão “vírus chinês” também é recorrente. O termo passou a ser usado após imbróglio do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, com o embaixador da China no Brasil.

Desde a descoberta do novo coronavírus, o presidente Bolsonaro adotou a estratégia de minimizar os riscos da pandemia. No dia 10 de março, disse que “muito do que tem ali é muito mais fantasia”.

No último domingo (22), em entrevista à TV Record, disse esperar que não o culpem, no futuro, “pela quantidade de milhões e milhões de desempregados”. "Brevemente o povo saberá que foi enganado por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus", afirmou.

Críticas aos governadores, especialmente a João Doria (PSDB), têm sido reverberadas nas redes sociais. À frente do estado de São Paulo, o tucano se coloca como possível candidato à Presidência em 2022.

Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador, criticou o governador paulista no último sábado (21). Ele é dono de uma das poucas contas analisadas pela reportagem que não tem se referido à doença como “vírus da China”.

“São Paulo corre perigo! Caímos nas mãos de um ser desprezível que está entregando o nosso Estado para o Comunismo Chinês visando buscar a Presidência da República em 2022! #DoriaComunista #ComunaVirus”, publicou.

Em entrevista por telefone, Salomão disse ver perseguição ao presidente pela imprensa e exagero na repercussão de suas falas. “Sobre qualquer declaração dele, que eu sei que a mídia está distorcendo, eu não vou tecer opiniões."

“Vários governadores estão querendo tomar medidas como proibir a saída de todo mundo, essa tal da quarentena, que realmente está atrapalhando a economia,” afirma ele, que se diz a favor da quarentena apenas para grupos de risco da Covid-19.

“Nós temos uma população ativa de jovens e trabalhadores que poderiam estar continuando no mercado, trabalhando, entregando serviços, abrindo comércios.”

Segundo a médica Mariângela Simão, diretora-assistente da OMS (Organização Mundial da Saúde) para a área de medicamentos e produtos de saúde, a quarentena é a resposta correta. “A medida é para espalhar a curva [de crescimento dos casos] ao longo do tempo até que você tenha uma vacina e um medicamento eficaz”, afirmou ela em entrevista à Folha de S.Paulo no último dia 18.

Em suas redes, Allan dos Santos, dono do canal Terça Livre, tem duvidado da eficiência da medida.

“A estratégia agora é a da PROFECIA AUTO-REALIZÁVEL. Como os índices estão DENTRO DA NORMALIDADE, os agentes do caos dirão que tudo está funcionando graças às medidas de contenção, sendo que isso JÁ IRIA ACONTECER. Anotem”, afirmou o blogueiro no domingo.

O presidente do movimento Avança Brasil, Nilton Caccáos, diz não ter visto com bons olhos a postura beligerante que, segundo ele, partiu de Bolsonaro e de governadores.

“O que estava faltando era abaixar as armas dos dois lados, tanto dos opositores quanto do governo. Eu vejo que nesses últimos dois dias têm acontecido isso. (...) Os governadores e o presidente mudaram de postura”, afirma.

Caccáos é um dos seguidores de Bolsonaro que se refere ao coronavírus como “vírus chinês”. Ao se justificar, diz que adotou o nome apenas porque “o vírus veio da China, e não por preconceito”.

Usado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o termo disseminou-se entre as contas bolsonaristas após briga virtual entre Eduardo Bolsonaro e a embaixada chinesa no Brasil.

Em um tuíte publicado no dia 18, o deputado culpou a China pela pandemia. Em resposta, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, afirmou que a acusação era um “insulto maléfico”. “Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal nem [com] a sua qualidade como uma figura pública especial", escreveu ele.

O presidente Bolsonaro disse nesta terça-feira (24) que telefonou para o líder chinês, Xi Jinping, e reafirmou os "laços de amizade" entre os países.

Conhecido como o guru do bolsonarismo, o escritor Olavo de Carvalho tem investido contra a China. Na última quinta-feira (19), afirmou que “só quem não gosta dos chineses é o governo chinês”.

Em transmissão ao vivo ao site Brasil Sem Medo, no domingo, Olavo afirmou, sem apresentar provas, que não há mortes confirmadas pelo coronavírus —cuja disseminação pelo mundo ele chamou de “suposta epidemia”.

"Você não tem um único caso confirmado de morte por coronavírus, porque, para confirmar, você precisa fazer o exame de cada órgão do falecido, e onde que fizeram isso? Nunca fizeram nenhum. É a mais vasta manipulação de opinião pública que já aconteceu na história humana. Parece coisa de ficção científica”, afirmou.

Em seu site, o Ministério da Saúde afirma que o diagnóstico é feito a partir da coleta de materiais respiratórios, que são encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública. Até esta quarta-feira (25), o Brasil tinha 57 mortos e 2.433 casos confirmados de Covid-19.​