| |

Política 5m de leitura

Cinco anos depois, São Jerônimo da Serra revive episódio de fraude à licitação

Além do prefeito, a Operação Déjà Vu prendeu sete pessoas e cumpriu 43 mandados de busca e apreensão; o vice-prefeito foi afastado do cargo

ATUALIZAÇÃO
21 de outubro de 2019

Guilherme Marconi - Grupo Folha
AUTOR

Segundo o Gaeco, prefeito João Ricardo de Mello (Cidadania) já havia participado de esquema semelhante quando era vice em operação realizada na cidade em 2014
 

Após um ano apurando denúncia feita por um morador, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Operação Déjà Vu, que investiga uma suposta organização criminosa que fraudava licitações da prefeitura de São Jerônimo da Serra (Norte Pioneiro). O prefeito João Ricardo de Mello (Cidadania) seria o chefe do suposto esquema. Além dele, foram presos preventivamente (por tempo indeterminado), nesta quarta-feira (16) cinco empresários, um funcionário público e um homem que intermediava os pagamentos indevidos (veja no infográfico) . Ao todo foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Paraná. 

Não à toa, a operação foi apelidada de Déjà Vu. Em 2014, o município de 11.500 habitantes já havia passado por situação semelhante. Naquele ano, 39 pessoas foram denunciadas pelo MP (Ministério Público) também por fraudar licitações pela Operação Sucupira. À época, entre os acusados estavam a esposa e dois filhos do então prefeito de São Jerônimo da Serra Adir dos Santos Leite (PSDB), além do seu chefe de gabinete, o responsável pela tesouraria e pelas finanças, servidores municipais, empresários e agentes públicos. 

Os mesmos crimes cometidos no passado recente se repetem agora como fraude à licitação, falsidade ideológica, peculato e corrupção, todos próximos ao gabinete do prefeito. "O prefeito preso agora, à época daqueles fatos revelados pela Sucupira era vice-prefeito de São Jerônimo da Serra. Mas passa-se o tempo e ele comete os mesmos crimes quando eleito", informou o coordenador do Gaeco em Londrina, o promotor de Justiça Jorge Barreto da Costa. 

Se na cidade fictícia de Sucupira, criada pelo dramaturgo Dias Gomes e governada pelo prefeito Odorico Paraguaçu, tinha lá seus personagens icônicos, a operação deflagrada pelo Gaeco no município do Norte Pioneiro não fica longe. A suposta fraude tinha como intermediário o"Peito Liso", que seria o suposto "testa de ferro" do prefeito. " "Ele (João Mello) participava dessas ilegalidades por meio deste intermediário, que executava, digamos assim, o trabalho sujo. Essa pessoa entrava em contato com os empresários, falsificando notas de empenho para desviar os recursos", revelou o promotor do Gaeco Leandro Antunes. 

As empresas suspeitas de envolvimento nas fraudes são de Assaí (Região Metropolitana de Londrina), Cornélio Procópio e Londrina, onde o Gaeco também prendeu preventivamente os proprietários. "Essas instituições que participavam dos processos licitatórios emitiam notas fiscais com serviços que não eram executados ou realizados em escala menor do que o contratado, gerando um superfaturamento. O grupo criminoso atuava principalmente no repasse de peças para veículos da frota municipal e fornecimento de mercadorias em geral", explicou o promotor.   

Segundo Barreto, as fraudes passavam por fornecimento de peças de veículos oficiais da prefeitura para carros dos particulares até superfaturamento na merenda e em produtos hospitalares. O Ministério Público ainda não apurou o montante desviado pelas fraudes nem o prejuízo aos cofres públicos. 

A investigação 

 

De acordo com o MP, a próxima etapa da Déjà Vu será ouvir os presos e requisitar documentos da prefeitura para análise. O Gaeco tem 10 dias para concluir o inquérito criminal. A partir disso, O MP deve apresentada à Justiça uma denúncia criminal e outra cível, esta pela Promotora de São Jerônimo da Serra.  

Todos os homens detidos foram transferidos no final da tarde para a Casa de Custódia de Londrina. Já a empresária Marlete de Sales foi encaminhada para o 3º Distrito Policial. O vice-prefeito Laércio Pereira Correia, uma empresária, uma servidora pública e um segundo intermediário tiveram a função pública suspensa pelo TJ. Eles não poderão acessar o prédio da prefeitura e as secretarias e estão proibidos de manter qualquer tipo de contato com testemunhas. Com afastamento do prefeito e do vice, quem irá assumir a prefeitura é o presidente da Câmara Municipal,  Sidney Navarro (PT).

Os advogados dos investigados não foram encontrados ou não quiseram se pronunciar sobre o caso. 

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS