Segundo o Gaeco, prefeito João Ricardo de Mello (Cidadania) já havia participado de esquema semelhante quando era vice em operação realizada na cidade em 2014
Segundo o Gaeco, prefeito João Ricardo de Mello (Cidadania) já havia participado de esquema semelhante quando era vice em operação realizada na cidade em 2014 | Foto: Gustavo Carneiro

Após um ano apurando denúncia feita por um morador, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) deflagrou a Operação Déjà Vu, que investiga uma suposta organização criminosa que fraudava licitações da prefeitura de São Jerônimo da Serra (Norte Pioneiro). O prefeito João Ricardo de Mello (Cidadania) seria o chefe do suposto esquema. Além dele, foram presos preventivamente (por tempo indeterminado), nesta quarta-feira (16) cinco empresários, um funcionário público e um homem que intermediava os pagamentos indevidos (veja no infográfico) . Ao todo foram cumpridos 43 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Paraná.

Não à toa, a operação foi apelidada de Déjà Vu. Em 2014, o município de 11.500 habitantes já havia passado por situação semelhante. Naquele ano, 39 pessoas foram denunciadas pelo MP (Ministério Público) também por fraudar licitações pela Operação Sucupira. À época, entre os acusados estavam a esposa e dois filhos do então prefeito de São Jerônimo da Serra Adir dos Santos Leite (PSDB), além do seu chefe de gabinete, o responsável pela tesouraria e pelas finanças, servidores municipais, empresários e agentes públicos.

Os mesmos crimes cometidos no passado recente se repetem agora como fraude à licitação, falsidade ideológica, peculato e corrupção, todos próximos ao gabinete do prefeito. "O prefeito preso agora, à época daqueles fatos revelados pela Sucupira era vice-prefeito de São Jerônimo da Serra. Mas passa-se o tempo e ele comete os mesmos crimes quando eleito", informou o coordenador do Gaeco em Londrina, o promotor de Justiça Jorge Barreto da Costa.

Se na cidade fictícia de Sucupira, criada pelo dramaturgo Dias Gomes e governada pelo prefeito Odorico Paraguaçu, tinha lá seus personagens icônicos, a operação deflagrada pelo Gaeco no município do Norte Pioneiro não fica longe. A suposta fraude tinha como intermediário o"Peito Liso", que seria o suposto "testa de ferro" do prefeito. " "Ele (João Mello) participava dessas ilegalidades por meio deste intermediário, que executava, digamos assim, o trabalho sujo. Essa pessoa entrava em contato com os empresários, falsificando notas de empenho para desviar os recursos", revelou o promotor do Gaeco Leandro Antunes.

As empresas suspeitas de envolvimento nas fraudes são de Assaí (Região Metropolitana de Londrina), Cornélio Procópio e Londrina, onde o Gaeco também prendeu preventivamente os proprietários. "Essas instituições que participavam dos processos licitatórios emitiam notas fiscais com serviços que não eram executados ou realizados em escala menor do que o contratado, gerando um superfaturamento. O grupo criminoso atuava principalmente no repasse de peças para veículos da frota municipal e fornecimento de mercadorias em geral", explicou o promotor.

Segundo Barreto, as fraudes passavam por fornecimento de peças de veículos oficiais da prefeitura para carros dos particulares até superfaturamento na merenda e em produtos hospitalares. O Ministério Público ainda não apurou o montante desviado pelas fraudes nem o prejuízo aos cofres públicos.

A investigação

Imagem ilustrativa da imagem Cinco anos depois, São Jerônimo da Serra revive episódio de fraude à licitação
| Foto: Folha Arte

De acordo com o MP, a próxima etapa da Déjà Vu será ouvir os presos e requisitar documentos da prefeitura para análise. O Gaeco tem 10 dias para concluir o inquérito criminal. A partir disso, O MP deve apresentada à Justiça uma denúncia criminal e outra cível, esta pela Promotora de São Jerônimo da Serra.

Todos os homens detidos foram transferidos no final da tarde para a Casa de Custódia de Londrina. Já a empresária Marlete de Sales foi encaminhada para o 3º Distrito Policial. O vice-prefeito Laércio Pereira Correia, uma empresária, uma servidora pública e um segundo intermediário tiveram a função pública suspensa pelo TJ. Eles não poderão acessar o prédio da prefeitura e as secretarias e estão proibidos de manter qualquer tipo de contato com testemunhas. Com afastamento do prefeito e do vice, quem irá assumir a prefeitura é o presidente da Câmara Municipal, Sidney Navarro (PT).

Os advogados dos investigados não foram encontrados ou não quiseram se pronunciar sobre o caso.