O governador João Doria (PSDB) diz em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o "centro democrático" é uma "boa opção para o País", num movimento para se contrapor ao tom de polarização adotado pelo presidente Jair Bolsonaro. Doria, visto como candidato à sucessão em 2022, fala em "manter um bom diálogo com a esquerda e a direita". Questionado sobre o discurso contra a esquerda mantido por ele desde a eleição à Prefeitura de São Paulo, afirma que não há campanha "com tom de missa de domingo". "A esquerda não ameaça a democracia, assim como a direita."

O que o sr. achou da declaração do deputado Eduardo Bolsonaro sobre um 'novo AI-5'?

Totalmente inoportuna e inadequada, como muitas de suas manifestações. A democracia no Brasil está consolidada. Os Poderes também, bem como a liberdade de imprensa.

Nomes do PSL como Gustavo Bebianno, Paulo Marinho, Alexandre Frota se aproximaram do PSDB. O partido virou um caminho natural para os egressos do PSL? Há uma identidade?

Bebianno, de fato, virá. Vai se filiar ao PSDB no Rio. É muito bem-vindo, assim como o general Santos Cruz será bem-vindo. Não se trata de uma visão natural, mas circunstancial. O PSDB receberá novas filiações de parlamentares de outros partidos nos próximos meses. À medida que se consolida a visão de um 'novo projeto do PSDB', um partido de centro com visão liberal e democrática, ele vai cativando o sentimento daqueles que comungam desse mesmo pensamento. O centro democrático é uma boa opção para o País, que pretende manter um bom diálogo com a esquerda e a direita.

Esse 'novo PSDB' tem a mesma identidade social-democrata de sua fundação?

Nos valores da verdade, decência e transparência, sim. Nos valores da modernidade, não. O Brasil mudou, as pessoas mudaram.

Mas o PSDB ainda é social-democrata?

Não mais. Também as teses da social-democracia já não se aplicam da mesma maneira de 30 anos atrás. O PSDB não pode ser mais um partido que vive do passado.

Então, é o caso de tirar o "social-democracia" do nome?

A sigla PSDB é bem aceita. Pesquisamos isso. Então, a sigla será mantida, não será alterada. Mas nós incorporamos as cores verde e amarela. Antes, era branco, azul e amarelo.

O sr. vê uma ameaça da esquerda na América Latina, como também disse Eduardo?

A ameaça pode estar na extrema-esquerda, assim como na extrema-direita. A esquerda não ameaça a democracia, assim como a direita também não. São dois pensamentos que merecem respeito.

O sr. foi eleito duas vezes com uma campanha marcada por discurso fortemente contra a esquerda. Até chamou seu adversário de 'Márcio Cuba' (ex-governador Márcio França). O que explica essa mudança de postura?

O tom de uma campanha eleitoral é sempre mais efervescente. Não há campanha eleitoral com tom de missa de domingo. É tom de comício. Terminada a eleição, é tempo de gestão.

O sr. é conservador?

Não. Sou uma pessoa bem-educada e formada. Estudei nos Estados Unidos, França e Itália. Essa convivência internacional me deu a possibilidade de compreender o valor da pluralidade. Minha visão é liberal nos costumes.

O presidente Bolsonaro usou palavras duras para atacar o sr. e teve um momento de tensão entre ambos. Houve uma reaproximação? Como está a relação?

É uma relação fluida. Nós temos uma relação constante com o governo Bolsonaro em diversas áreas. Algumas, eu diria, até muito bem construídas, como é o caso do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Luciano Huck tem despontado como candidato a presidente da República. O sr. acha que ele é um bom nome?

Luciano Huck é um bom rapaz, com uma boa formação, sentimento patriótico e, além de tudo, uma pessoa que é amiga e a quem devoto admiração. Mas nós precisamos de uma eleição com pessoas com experiência, vivência. Luciano Huck ainda deve acumular mais experiência ao longo da sua vida.

E o sr. vai disputar a sucessão em 2022 ou vai terminar o mandato no Estado?

Não é hora de discutir eleição de 2022. É hora de gestão.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.