BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com um cenário embolado e diversos candidatos à Presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem, o nome da ministra Tereza Cristina (Agricultura) começa a surgir em alas do governo e tem o respaldo de membros da frente da agropecuária como opção para comandar a Casa. A hipótese de ela entrar na disputa, porém, enfrenta uma série de obstáculos.

De um lado, integrantes do centrão, que hoje representa a maior parte da base do governo, resistem à possibilidade, pois o próprio grupo deseja o comando da Câmara.

De outro, o DEM precisa decidir se estaria disposto a lançá-la. Para isso acontecer, seria necessária a bênção de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que preside os deputados.

Um terceiro empecilho são os votos da oposição, que podem ser cruciais para a vitória. Congressistas contrários ao governo dizem que jamais apoiariam a ministra por causa do vínculo dela com Bolsonaro e com o agronegócio.

Ciente de que seu nome está em teste, Tereza indicou a aliados que atualmente não abriria mão do ministério para voltar à Câmara. Escolhida para chefiar a pasta da Agricultura após indicação da FPA (Frente Parlamentar Agropecuária), Tereza é deputada licenciada pelo DEM.

Uma das integrantes do governo mais elogiadas por Bolsonaro, a ministra tem o respaldo de congressistas da base do presidente que não fazem parte do centrão.

"Ela é uma excelente opção, é apoiada pela direita, pela FPA. Só tem de ver se ela quer", afirmou a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).

Embora seja do DEM, o nome de Tereza é mais palatável a apoiadores de Bolsonaro, especialmente da ala mais ideológica, do que outras opções colocadas à mesa.

Hoje, a preferência do presidente, segundo auxiliares, é pelo nome de Arthur Lira (AL), líder do Progressistas.

Embora Bolsonaro e lideranças aliadas sustentem que o governo não vai se meter na briga pela Câmara para evitar atritos na disputa, o próprio presidente já indicou a aliados sua preferência e hoje está muito próximo de Lira.

O deputado, porém, é um dos principais representantes do chamado centrão, que desagrada uma parcela de eleitores de Bolsonaro.

O presidente foi eleito com discurso crítico ao grupo de congressistas, que, segundo a avaliação dele, seria adepto de uma política mais fisiológica, baseada no "toma lá dá cá".

Em abril deste ano, sofrendo derrotas no Congresso e com receio de ser alvo de um processo de impeachment, o mandatário cedeu, deu diversos cargos na máquina federal a integrantes do centrão e formou uma base no Congresso.

A FPA tem 245 integrantes, mas, apesar de ter apoios dentro do agro, o nome de Tereza não é unanimidade.

"Respeito a Tereza Cristina, mas não é só oxigenar a rotatividade da Câmara, precisamos também dar uma oxigenada na questão do partido [que comanda a Casa]", afirmou o deputado Fausto Pinato (PP-SP).

Ele lembra que ser presidente da Câmara é "muito mais que o agronegócio". O cargo, disse, precisa unir bancada evangélica, bancada da bala, esquerda, direita, centro.

"Dentro da bancada evangélica já existe apoio para o Arthur Lira. E eu sou presidente da comissão de agricultura, apoio o Arthur Lira também", disse Pinato, que qualifica o colega de partido como um "deputado muito coerente" e "preparado".

Além de Lira, o deputado Marcos Pereira (SP), vice-presidente da Câmara e presidente do Republicanos, é pré-candidato à eleição na Casa.

Outros nomes que estão colocados na disputa são considerados de outro campo e são mais ligados a Maia.

O próprio presidente da Câmara pode entrar na briga, embora já tenha rechaçado várias vezes essa possibilidade.

Correligionários e pessoas muito próximas do democrata ainda apostam que ele pode decidir se candidatar se o STF (Supremo Tribunal Federal) liberar. A reeleição ao comando das Casas do Congresso em uma mesma legislatura --período de quatro anos entre uma eleição e outra-- é vedada pela Constituição.

O tribunal vai se debruçar sobre a questão em uma ação apresentada pelo PTB com o objetivo de barrar a candidatura do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Se o Supremo decidir que esse é um assunto interna corporis, isto é, que cabe ao Congresso decidir, há chance de Maia abrir caminho para ser reconduzido. Caso contrário, hoje dois deputados aparecem com mais chances de serem apoiados pelo democrata: Baleia Rossi (MDB-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Nos bastidores, Tereza disse a pessoas próximas não ter interesse em abrir mão do ministério. Na cúpula do DEM, ela é bastante elogiada e vista como uma boa opção para disputar a presidência da Casa.

Há, no entanto, um cálculo longo a ser feito antes que o DEM possa decidir lançá-la.

Primeiro, dirigentes observam que é preciso ver se o STF vai abrir caminho para que Maia dispute mais dois anos na Presidência da Câmara --esta é a terceira vez que ele comanda os deputados. Caciques do partido não pretendem fazer nenhum movimento que vá melindrar Maia.

Depois, é necessário bater o martelo se ele vai tentar a recondução ou não.

Terceiro, o DEM precisará decidir se buscará brigar pelo comando do Senado, o que é dado como certo no cenário em que o STF facilita a possibilidade de recondução de Alcolumbre, e também na Câmara.

Para líderes da oposição que preferiram ser ouvidos sob reserva, governistas lançaram o nome da ministra para testar Maia e eventualmente tentar criar uma candidatura que envolva o DEM e aproximar o parlamentar do governo.

O problema é que Maia precisa da oposição, que hoje soma cerca de 130 votos. Reservadamente, um dos líderes da oposição lembra que, se quiser derrotar a candidatura de Lira, ele vai precisar dos votos desse bloco. Isso seria inviável caso o presidente escolhesse Tereza Cristina. Um deputado oposicionista comenta que, se Maia escolher Tereza, fará uma mudança total de rumo.

Há ainda outros postulantes ao comando da Câmara, como Luciano Bivar (PSL-PE), visto com chances remotas, mas que montou um bloco na Casa que soma 65 deputados.

Aliados do pernambucano afirmam que ele teria 105 votos, embora isso seja visto com ressalvas por congressistas.